Isa Colli é escritora e jornalista Divulgação

O assunto dessa semana de volta às aulas é a proibição do uso de celular nas instituições de ensino do país, em cumprimento à Lei nº 15.100/2025, que entrou em vigor em janeiro deste ano. A legislação atende ao anseio de educadores e especialistas na área da saúde devido aos impactos negativos no aprendizado e na saúde mental das crianças e dos jovens. Muitos não acreditam, mas estudos comprovam que o uso excessivo dos celulares está relacionado a transtornos, como ansiedade, insônia, dificuldade de concentração e de manter o foco e até depressão. Além disso, olhar para a tela por muitas horas seguidas pode causar problemas na vista, como visão turva, dor de cabeça, cansaço ocular e ressecamento dos olhos, de acordo com o Centro Oftalmológico de Minas Gerais.

Para alguns, a lei não trará impacto, já que 28% das instituições de ensino urbanas e rurais do país já tinham implementado restrições rígidas em relação aos smartphones, segundo a pesquisa TIC Educação 2023, divulgada em 2024 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil. No entanto, para a grande maioria, a legislação trará muitos desafios. Educadores, alunos e famílias terão de passar por um processo de amadurecimento coletivo.

Creio que a adaptação para alguns alunos será sofrida, quase que como enfrentar uma crise de abstinência. Quem cria dependência digital tende a perder a noção do tempo, a se isolar e a ficar irritado quando está sem o celular. Quem não era capaz de ficar desconectar na escola, agora terá de fazer isso na marra.

Os responsáveis também terão de se adaptar. Quantos pais nestes tempos modernos passaram a achar mais fácil mandar mensagens nos whatsapps de seus filhos, tirando da escola o papel de intermediar a comunicação com os alunos? Isso não será mais possível e todos terão que se esforçar para que a legislação dê certo.

Outro aspecto que considero importante mencionar é que a restrição do celular nas escolas ajudará a reduzir a exposição das crianças a conteúdos inadequados para sua faixa etária e ao risco de serem vítimas de cyberbullying, que é a prática agressiva de intimidações e de perseguições no ambiente virtual.

Com a lei, o Brasil se junta a outros 62 países que já baniram ou adotaram políticas de restrição de celulares nas escolas, entre eles: Bolívia, França, Portugal, China, Rússia, Nova Zelândia, Itália e parte da Bélgica (as leis são independentes em cada região belga).

Acredito que a proibição do uso de celulares nos colégios só trará ganhos. Tenho a certeza de que os estudantes prestarão mais atenção às aulas, conversarão mais entre si, aumentarão o foco nas atividades, brincarão mais, praticarão mais esportes e resgatarão uma ação simples, mas fundamental para o convívio humano: a socialização. Redescobrir o mundo real poderá ser desafiador, mas certamente será uma escolha saudável e muito mais divertida do que uma imagem que se vê na tela do celular.

Por Isa Colli, jornalista e escritora