Isa Colli é escritora e jornalista Divulgação
Para alguns, a lei não trará impacto, já que 28% das instituições de ensino urbanas e rurais do país já tinham implementado restrições rígidas em relação aos smartphones, segundo a pesquisa TIC Educação 2023, divulgada em 2024 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil. No entanto, para a grande maioria, a legislação trará muitos desafios. Educadores, alunos e famílias terão de passar por um processo de amadurecimento coletivo.
Creio que a adaptação para alguns alunos será sofrida, quase que como enfrentar uma crise de abstinência. Quem cria dependência digital tende a perder a noção do tempo, a se isolar e a ficar irritado quando está sem o celular. Quem não era capaz de ficar desconectar na escola, agora terá de fazer isso na marra.
Os responsáveis também terão de se adaptar. Quantos pais nestes tempos modernos passaram a achar mais fácil mandar mensagens nos whatsapps de seus filhos, tirando da escola o papel de intermediar a comunicação com os alunos? Isso não será mais possível e todos terão que se esforçar para que a legislação dê certo.
Outro aspecto que considero importante mencionar é que a restrição do celular nas escolas ajudará a reduzir a exposição das crianças a conteúdos inadequados para sua faixa etária e ao risco de serem vítimas de cyberbullying, que é a prática agressiva de intimidações e de perseguições no ambiente virtual.
Com a lei, o Brasil se junta a outros 62 países que já baniram ou adotaram políticas de restrição de celulares nas escolas, entre eles: Bolívia, França, Portugal, China, Rússia, Nova Zelândia, Itália e parte da Bélgica (as leis são independentes em cada região belga).
Acredito que a proibição do uso de celulares nos colégios só trará ganhos. Tenho a certeza de que os estudantes prestarão mais atenção às aulas, conversarão mais entre si, aumentarão o foco nas atividades, brincarão mais, praticarão mais esportes e resgatarão uma ação simples, mas fundamental para o convívio humano: a socialização. Redescobrir o mundo real poderá ser desafiador, mas certamente será uma escolha saudável e muito mais divertida do que uma imagem que se vê na tela do celular.
Por Isa Colli, jornalista e escritora
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