Por gabriela.mattos
Rio - A infestação de mosquitos atormenta a vida de moradores de São Cristóvão. Eles suspeitam que a causa seja a estagnação da obra de desvio do Rio Joana, que tem obrigado a população a conviver com a proliferação de mosquitos e o mau-cheiro provocados pelo represamento de água de chuva e de esgoto em buracos, causados pela obra, de responsabilidade da Fundação Instituto das Águas do Município do Rio de Janeiro (Rio Águas).
De acordo com Luiz Fernando Dutra dos Santos, presidente da Associação de Moradores de São Cristóvão, a obra teve início em meados do ano passado, mas o ritmo do trabalho vinha caindo, junto com o número de funcionários. “A obra estava sendo feita para a Olimpíada. Como faltou dinheiro e não foi concluída até os Jogos, ficou esquecida, abandonada, e a população ficou exposta, sem que o poder público nos desse uma satisfação”, queixou-se.

Segundo ele, os buracos ficaram abertos, com água pluvial parada, misturada com água de esgoto. “É uma agressão contra as pessoas daqui e a gente tendo que conviver com isso, sem que autoridade nenhuma tome providências”, criticou. Ele afirma que a associação já foi à Rio-Águas diversas vezes para cobrar providências e o órgão da prefeitura continua sem apresentar uma solução.

Verônica%2C mãe de Theo%2C de apenas um ano%2C que sofre de alergia a picadas de mosquito%3A 90 dias de agoniaSeverino Silva / Agência O Dia

Criança sofre

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Telas em portas e janelas, repelentes em creme e nas tomadas, velas de citronela e outros artifícios caseiros contra insetos. É assim que Verônica Belfort tem tentado combater os mosquitos que infestam sua casa desde que se mudou para o bairro, em fevereiro. Picado em quase todo o corpo, seu filho Theo, de apenas um ano e quatro meses, está há três meses se tratando de uma infecção grave que acomete sua face, tronco e membros.
Outros moradores têm padecido com o excesso de mosquitos. “Não consigo dormir desde a Olimpíada. Até no inverno fiquei mais de um mês sem dormir direito e agora piorou. Fico a madrugada inteira acordando, passando repelente, até seis, sete da manhã. Essa mosquitada está demais. Minha vizinha tem reclamado também. A gente não sabe mais o que fazer”, reclama Antonio Pereira da Rocha Filho, com os olhos irritados e lacrimejantes.
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A Fundação Rio Águas afirma, em nota, que as obras não estão paradas. No entanto, a conclusão “ depende da liberação da última parcela dos recursos previstos para o programa”. O órgão informa ainda que as obras acontecem em área subterrânea, para conclusão da perfuração do túnel de drenagem, já tendo passado sob a Avenida Brasil e estando atualmente na área portuária.
O desvio de parte do curso do Rio Joana integra o Programa de Controle de Enchentes da Grande Tijuca, que, segundo o órgão, já concluiu a construção de cinco reservatórios de águas pluviais (um na Praça da Bandeira, um na Praça Varnhagen e três na Praça Niterói). “No total, o desvio terá uma extensão de 3.412 metros, sendo 2.400m de túnel (o maior túnel de drenagem do país) e 1.012m de galeria. Com este desvio, parte das águas do rio, que deságua no Canal do Mangue, serão levadas diretamente para a Baía de Guanabara, contribuindo para melhorar o escoamento em região historicamente muito afetada pelas chuvas de verão”. 
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Menino encara rotina de consultas
Da varanda de Verônica, é possível avistar a obra paralisada. “A gente pôs telas na casa toda e já gastou muito dinheiro com inseticidas e repelentes de mosquito em geral”, afirma. Sobre o filho, que sofre de alergia às picadas, ela conta que o estado piorou nos últimos três meses. “Começou a aparecer muita mordida, mais do que o normal. E sempre na canela, pés, cotovelos e mãozinhas porque estava mais frio e ele estava sempre de roupa, então era onde os mosquitos conseguiam picar”. Com a chegada do calor, as picadas tomaram o resto do corpo e as feridas pioraram.
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Primeiro veio o diagnóstico de catapora. “Há três meses, ele começou a piorar e o levei à UPA. Disseram que era catapora. Aí ele foi tratado com antibiótico, antialérgico, vários remédios”. A doença foi descartada e novas consultas vieram. “Outra médica disse que era sarna. Esterilizei sofá, roupa de cama, tudo. Ele teve que usar um antibiótico mais forte, mais antialérgico e loção para sarna, que começou a ressecar a pele. E nada de melhorar. Ele começou a ter bolhas nos pezinhos, que arrancava com o dente, então tive que começar a enfaixar o pé”, contou Verônica.
“Ele chorava muito, passava a noite inteira sem conseguir dormir, e aí, claro, eu também não dormia. Estava um caco”.