De acordo com levantamento do Departamento de Segurança do Sindicargas, contando apenas os dias úteis, pelo menos uma carreta é levada a cada 20 minutos por traficantes, que passaram a “entrar no rentoso negócio”, além de traficar drogas, a partir de 2013. “Os prejuízos são incalculáveis. A situação está fora de controle”, lamenta o coronel Venâncio Moura, diretor de Segurança do Sindicargas.
De acordo com informações da polícia, as investidas das facções Comando Vermelho (CV), Amigos dos Amigos (ADA) e Terceiro Comando Puro (TCP) aumentaram por conta de operações contra o tráfico nas favelas. Monitoramento confidencial mostra que enquanto bandidos levam uma semana para ganhar R$ 1 milhão vendendo drogas no Complexo da Maré, entre as comuniddes da Baixa do Sapateiro e Nova Holanda, o mesmo valor é faturado num só dia roubando cargas na região da Pavuna, por exemplo.
A violência imposta pelas quadrilhas já ameaça o abastecimento de alguns produtos na capital. “Motoristas de Santa Catarina (que geralmente transportam carnes), e de São Paulo (que carregam bebidas) estão se recusando a trafegar nas estradas do Rio. O desabastecimento de alguns itens pode ocorrer”, alerta Moura, lembrando que cigarros, frigoríficos e eletroeletrônicos também estão entre os produtos mais visados. O assunto foi um dos temas do Fórum de Combate e Prevenção ao Roubo de Cargas, na Associação Comercial do Rio, que reuniu autoridades e empresários do setor na sexta-feira.
‘Quase me mataram. E meus patrões e a polícia ainda ficaram desconfiados’
X., de 49 anos, que transporta 30 toneladas de frango de Santa Catarina para o Rio semanalmente, diz que vai parar de fazer a rota. “Fui rendido na Via Dutra no mês passado. Levaram meu caminhão para o Complexo da Pedreira (em Costa Barros) e eu para uma outra favela, de olhos vendados. Quase me mataram, pois não conseguiam abrir o baú, protegido por sistema eletrônico. Explodiram a lataria para roubar a carga. Pior: meus patrões e a polícia ainda ficaram desconfiados, insinuando um possível envolvimento meu com os ladrões. Parei”, desabafou.
A Polícia Civil, através de sua assessoria de imprensa, não retornou aos telefonemas e emails da reportagem com pedidos de informação sobre a atuação da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC).
Durante o Fórum de Combate e Prevenção ao Roubo de Cargas sexta-feira na Associação Comercial, o superintendente do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), George Freitas, afirmou que o aumento de roubos de carga ocorre pela “disseminação da cultura do medo" e que a maioria dos criminosos não é ligada às quadrilhas, mas recrutados por elas para ataques.