Por gabriela.mattos
Rio - Se você sempre foi tratado pelo gênero com que se identifica, talvez essa novidade não te cause tanto impacto. Mas se você, simplesmente, não se encaixa nas definições de “homem” e “mulher”, vem história boa por aí. É que o aplicativo Tinder deixou de oferecer apenas perfis binários e disponibilizou 35 gêneros para seus usuários. Por enquanto, o serviço só está habilitado nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá, mas a empresa já realiza estudos para que a novidade se espalhe, e chegue em mais países, inclusive por aqui.
A comunidade LGBTs aplaude de pé e reconhece a importância de projetos de inclusão como este. As possibilidades de gênero assustam, inicialmente, mas acreditam que quanto mais informação, melhor. Julio Moreira é diretor sociocultural da ONG Arco Íris, que organiza a Parada Gay de Copacabana, e acredita que a chegada dessa opção ao Brasil ajudaria a ampliar os debates sobre gêneros, segundo ele, muito rasos ainda.
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“As pessoas tem medo do que não conhecem. No meio acadêmico já existe uma discussão de desconstrução de gêneros e a juventude, que coloca essas questões nas ruas. Trazer esse debate para o brasil vai ajudar a se falar mais sobre novas identidades. Isso pode ajudar a aumentar o respeito da população”, pontua.
Morgana fala sobre importância de respeitar a escolha do outro. Na Europa%2C onde morou%2C diz ser diferentePaola Lucas / Agência O Dia

O Theo Cavalcanti, 34 anos, gostou da ideia, ele conta que conheceu sua atual namorada no Tinder, mas até encontrá-la, passou alguns apertos por conta do seu gênero. Ele é homem trans, ou seja, nasceu com o sexo feminino, mas se reconhece como homem. “Experimentei várias opções, com foto, sem foto, masculino... mas sempre com a descrição: ‘homem trans em fase de transição’. Até que entrei como feminino e coloquei minha foto mesmo, e deu certo”, conta.

Theo explica que, decidiu assumir seu gênero quando entendeu a importância da representatividade. “Eu, como pessoa branca de classe média, nunca entendi por que negros ficavam chateados de não ter, por exemplo, uma pessoa negra no papel principal da novela. ‘pra que isso, gente?’, me perguntava. Mas quando comecei a conhecer outras histórias de trans e perceber que não estava sozinho, percebi que é fundamental ser aceito como a gente é, e aí comecei meu processo de transformação, por dentro e por fora”, revela.
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Já a cabeleireira Morgana Espíndola, 33 anos, é transex e já sofreu até ameaça de morte por sua opção de gênero no Tinder. “Não tenho necessidade de me identificar como trans, me coloco como mulher mesmo, mas isso gera problemas. Poder definir de forma clara seu gênero e o de quem você busca vai ajudar muito e evitar constrangimentos”, acredita.
A quantidade de gêneros que o aplicativo trabalha assusta um pouco, entre os 35 estão: pansexual, andrógino, gênero fluido, bigênero, duplo-espírito e por aí vai… O auxiliar administrativo, Paulo Roberto Barboza Gomes da Silva, diz que a novidade o deixa um pouco confuso. “Quando eu nasci a parteira falou que eu era um menino, então continuo sendo só um menino, hetero, eu acho, depois de tantas classificações fiquei até um pouco confuso”, brinca Paulo Roberto, que diz não usar o recurso para conhecer pessoas, mas se usasse acharia legal ter tudo bem definido.
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De acordo com os dados de registros civis do IBGE, casamentos entre pessoas do mesmo sexo cresce mais do que entre homens e mulheres em 2015.
No Brasil foram registrados, em 2015, 1.137.321 casamentos civis, 2,8% a mais que em 2014. A taxa de nupcialidade legal foi de 7,2%, o que significa que, para cada 1.000 brasileiros em idade para casar, sete, em média, se uniram legalmente. Em números absolutos foram 1.131.707 casamentos entre pessoas de sexos opostos e 5.614 entre pessoas do mesmo sexo.
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Definições de gênero, orientação sexual e sexo são coisas diferentes
Professora de psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro , Jaqueline de Jesus destaca o significado de termos muito usados e pouco esclarecidos. Ela explica que gênero trata sobre a própria noção de quem você é: homem, mulher, transgênero etc. “É uma categoria social”.
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Quanto à orientação sexual está  relacionada à atração afetiva e sexual. “Homo, hetero, bi e, também, os assexuais, que se dividem entre os que não sentem afeto e não formam nenhum tipo de par, e os que sentem e querem formar par. Estes são assexuais românticos, apesar de não quererem relações sexuais”, difere.
Já o sexo é uma característica biológica. “Se baseia em caracterização de cromossomos”.
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A professora entende que desde pequenos somos ensinados a agir e nos vestir de determinada forma e com o tempo começamos a avaliar essas concepções. “Definir o sexo pela genitália ao nascer, como somos identificados, é um pouco precoce. Quem define os papéis sociais, por exemplo, não é o sexo, mas o gênero”, pontua.
Mesmo as definições de gênero binário, ‘homem’ e ‘mulher’, para Jaqueline, ainda são muito falhas na nossa sociedade. “As pessoas buscam repetir exteriótipos e os que fogem um pouco dessa regra já é criticado”, acrescenta.
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Conheça alguns dos termos disponíveis do Tinder:
Agênero: Alguém que não se identifica com qualquer tipo de identidade de gênero. Esse termo também pode ser utilizado por alguém que intencionalmente não demonstra qualquer representação de gênero reconhecida. Há quem passe por tratamentos hormonais e/ou cirurgias para fazer com que seus corpos se adequem a sua identidade de gênero nenhum. Algumas pessoas usam termos similares como “sem gênero” ou “gênero neutro”.
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Andrógino: Refere-se à expressão simultânea de gêneros. É comum que a pessoa andrógina se vista com roupas consideradas unissex e use cortes de cabelo e acessórios que dificultem a identificação de um gênero específico. Essa categoria não está associada à orientação sexual.
Bigênero: Alguém que se identifica como homem e mulher ao mesmo tempo. Uma identidade bigênero é uma combinação destes dois gêneros, mas não obrigatoriamente uma repartição meio a meio, já que quem se identifica assim muitas vezes sente – e expressa – cada um desses gêneros por inteiro. Assim como indivíduos que se identificam como fluidos, pessoas bigênero podem se apresentar como homens, como mulheres, ou neutros dependendo do dia.
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Female to Male/Mulher para homem: Uma pessoa trans que nasceu num corpo de mulher, e agora vive como um homem e tem uma identidade de gênero masculina. Um FTM está no meio do processo de transição, que pode ou não se completar eventualmente. Essa pessoa pode não ter alterado seu corpo físico com cirurgia, hormônios, ou outro tipo de modificação (por exemplo, treinamento vocal para desenvolver uma fala mais grossa). FTM é a abreviação em inglês de Female To Male. Costuma utilizar pronomes masculinos (“ele”, “dele”) ou palavras de gênero neutro.
Gênero Fluido: Alguém cuja identidade de gênero e apresentação não se limita a apenas uma categoria de gênero. Pessoas de gênero fluido podem ter compreensões dinâmicas ou flutuantes do próprio gênero, mudando de um para outro de acordo com o que sentir melhor no momento. Por exemplo, uma pessoa de gênero fluido pode se sentir mais como um homem num dia e mais como uma mulher no dia seguinte, ou sentir que nenhum dos termos se aplica a ele.
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Gênero Não-conformista: Alguém que tem a aparência e/ou cujo comportamento não segue o que a sociedade espera da aparência ou da maneira de uma pessoa daquele gênero agir. Transformistas, garotas masculinas e pessoas transgênero são alguns exemplos de gêneros não-conformistas. (Confira também esse artigo do Dr. Eric Grollman sobre conformidade e não-conformidade de gênero.)
Gênero Variante: Um termo genérico para qualquer um que, por qualquer razão, não tem uma identidade cisgênero (isso inclui também outro termo genérico, trans*). Há quem reconheça problemas com esse termo, já que ele implica que esses gêneros são “desvios” de um gênero padrão, e reforça como “natural” o sistema de dois gêneros. Alguns preferem os termos “gênero diverso ou gênero não-conformista.
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Homem para Mulher (Male to Female – MTF): Uma pessoa trans que nasceu num corpo de homem, e agora vive como uma mulher e tem uma identidade de gênero feminina. Uma MTF está no meio do processo de transição, que pode ou não se completar eventualmente. Essa pessoa pode ou não ter alterado seu corpo físico com cirurgias, hormônios, ou outras modificações (por exemplo, treinamento vocal, eletrólise etc.). MTF é uma abreviação de “Male To Female”. Geralmente utiliza pronomes femininos (ou seja, “ela”, “dela”) ou termos de gênero neutro.
Nenhum: Alguém que prefere não aplicar rótulo algum em seu gênero.
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Neutrois: Um termo genérico dentro dos termos mais amplos de transgênero ou genderqueer. Inclui pessoas que não se identificam com o sistema binário de gênero (ou seja, homem/mulher). De acordo com o site Neutrois.com, algumas identidades neutrois comuns incluem agênero, nenhum-gênero e sem-gênero.
Outro: Uma escolha por não oferecer um dos rótulos comumente reconhecidos para o gênero de uma pessoa. Quando utilizado por alguém para descrever a si mesmo, essa pode ser uma maneira de se dar a liberdade de descrever (ou deixar de descrever) o próprio gênero. O termo “outro” não deve ser utilizado para descrever pessoas cujo gênero você não entende por completo ou não consegue definir.
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Pangênero: O pangênero é similar ao andrógino, no sentido de que a pessoa se identifica como um terceiro gênero com algum tipo de combinação dos aspectos tanto masculinos como femininos, mas um pouco mais fluidos. Também pode ser utilizado como um termo inclusivo para designar “todos os gêneros”.
Trans*: Este é um termo inclusivo, que se refere às muitas maneiras que uma pessoa pode transcender ou até mesmo transgredir o gênero ou as normas de gênero (por exemplo, inclui indivíduos que se identificam como transgênero, transexuais, gênero diverso etc.). Na maior parte das vezes o asterisco (*) não é seguido de um sexo ou termo de gênero – escreve-se simplesmente Trans* – para indicar que nem todas as pessoas se identificam com um rótulo de sexo ou gênero já estabelecido.
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Transexual: Para muitos este termo indica alguém que fez alterações permanentes a seu corpo físico, especificamente a sua anatomia sexual (ou seja, genitais e/ou seios ou peito) por meio de cirurgias. Há quem considere o termo “transexual” problemático por causa de sua história de patologia ou associação a desordens psíquicas. A fim de conseguirem fazer as operações necessárias para a mudança de sexo, muitas vezes a pessoa precisa de um diagnóstico psiquiátrico (historicamente, este diagnóstico era dado como “transexualismo”) e de recomendações de profissionais da saúde. O termo “transexual” costuma ser utilizado menos frequentemente pelas gerações mais jovens de pessoas trans.
Mulher Transexual: Alguém que nasceu num corpo masculino e realizou a transição (por meio de cirurgia e/ou hormônios) para viver como uma mulher.
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Homem Transexual: alguém que nasceu num corpo feminino e realizou a transição (por meio de cirurgia e/ou hormônios) para viver como um homem.
Transmasculino: Alguém que nasceu num corpo do sexo feminino e se identifica como alguém masculino, mas não se identifica completamente como homem. Muitas vezes pode-se encontrar a expressão “centro-masculino” para indicar em que ponto as pessoas que se identificam como transmasculinas se enxergam com relação aos outros gêneros.
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Transfeminino: Alguém que nasceu num corpo do sexo masculino e se identifica como alguém feminino, mas não se identifica completamente como mulher. Muitas vezes pode-se encontrar a expressão “centro-feminino” para indicar em que ponto as pessoas que se identificam como transmasculinas se enxergam com relação aos outros gêneros.