Homem acusa seguranças da SuperVia de agressão após urinar na plataforma
Segundo vítima, ele foi abordado, ameaçado e agredido até com choque na costela
Por bianca.lobianco
Rio - “Eu me senti totalmente escorraçado. Que vergonha, nunca passei por isso. Sou trabalhador. Independente se estou errado ou não, não é assim”. O vigilante Saulo Afonso Vieira, de 28 anos, autor do relato, foi à 4ª DP (Praça da República), no Centro do Rio, na terça-feira à noite, denunciar um grupo de seguranças da SuperVia por agressão. Mostrando uma ferida no braço, Saulo admitiu que urinou na descida da plataforma 8 da estação Central do Brasil, mas repudiou a forma como teria sido, segundo ele, abordado, ameaçado e agredido pelos agentes da concessionária. A humilhação teria durado dez minutos.
Saulo contou à equipe do DIA, na delegacia, que foi atacado por cerca de oito agentes após ter sido flagrado por um deles urinando na estação, por volta das 20h30. Ele tinha acabado de sair do trabalho e levava uma colega à estação. Morador da Penha, o passageiro relatou que viu um dos seguranças chamando reforço da equipe pelo rádio e, logo depois, vários agentes teriam partido para cima dele. Além de uso de força bruta desproporcional, ele diz que foi atingido por arma de choque na altura das costelas antes de ser colocado para fora.
“Muitos funcionários vieram até mim de forma truculenta. Eu trabalho como vigilante e sei a forma correta de se abordar, que seria pedir para que eu me retirasse. Só falei: ‘Não encosta em mim’. Teve um que me falou: ‘Eu te tiro na base da porrada. Eu te tiro na base da porrada’. Eu falei: ‘Que isso, cara?’. Ele me segurou, me engravatou e veio me tirando e os outros me segurando. Achando aquilo um absurdo, eu forcei a barra com eles, porque sei dos meus direitos”, afirmou Saulo. “Eu escutava barulho de choque na minha costela, mas não sei identificar quem foi e quantos foram, mas a câmera prova tudo isso”, acrescentou.
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De acordo com Saulo, a ferida no braço foi provocada pela força com a qual os seguranças o seguraram. Na terça-feira à noite, ele também reclamou de dores no pescoço. “Me seguraram de forma totalmente errada. Vieram me segurando, me escorraçando, como se eu estivesse roubando alguém, como se eu estivesse estuprando alguém dentro de algum vagão. Não é dessa forma que eu esperava acontecer”, ressaltou, admitindo o erro de urinar em local público. “Eu, com muita vontade de urinar, fui até o final da estação, no caso o começo do trem, não sei, perto dos trilhos, desci a escada e pratiquei esse fato errado.”
O passageiro não conseguiu registrar ocorrência na 4ª DP, por volta das 21h de terça, porque o sistema da delegacia estava fora do ar. Ele ainda não foi à outra delegacia registrar o caso.
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A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que houve uma instabilidade técnica no sistema policial na noite do dia 10, que foi solucionada na manhã seguinte, e os registros voltaram a ser feitos normalmente.
SuperVia diz que vai investigar
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A SuperVia afirmou que vai apurar internamente a situação e que qualquer atuação que tenha sido realizada fora da postura de respeito e ética adotada pela empresa será avaliada para que sejam tomadas as medidas cabíveis. A empresa não cedeu as imagens das câmeras de segurança solicitadas pela reportagem.
“Os agentes de segurança são orientados a retirar do sistema ferroviário aqueles que não seguem as normas e regras de convivência adequadas e cometem infrações, como urinar em local público, cometer evasão de renda, travar as portas dos trens, entre outras. Todos os profissionais que trabalham no contato direto com os passageiros passam por treinamento e reciclagens periódicas. A capacitação inclui temas como Código de Ética, Conduta e Postura, além de Controle Emocional e Administração de Conflitos”, informou a concessionária, por meio de nota.
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‘Gravíssima violação aos direitos’, avalia Defensoria Pública
A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro afirmou, por meio de nota, que o caso, se constatado, configura uma gravíssima violação aos direitos dos consumidores. “Caso constatada, a Defensoria Pública do Rio entende ser uma gravíssima violação aos direitos dos consumidores, que deve ser repelida rápida e eficazmente, a fim de se compensar os danos sofridos e de se evitar a reiteração desta suposta conduta”, afirmou o órgão.
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Para informações sobre atendimento na Defensoria, a pessoa deve entrar em contato com a Central de Relacionamento com o Cidadão (CRC) pelo telefone 129 (ligação gratuita), ou via atendimento online, através do link: https://goo.gl/N6hfUO. A resposta é dada em até 48 horas, dentro do horário de atendimento, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h.
Leia a entrevista de Saulo ao DIA na íntegra:
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O DIA: O que aconteceu?
Saulo: Fui levar uma colega minha ao trem de Japeri. Eu com muita vontade de urinar, fui até o final da estação, no caso o começo do trem, não sei, perto dos trilhos, desci a escada e pratiquei esse fato errado (urinar em espaço público). Não sei se é vigilante ou porteiro que estava em outra estação apitou lá, olhando para mim e fazendo 'ok'. Eu fiz 'ok' para ele sem alteração. Sem alteração, rapaz. Sem alteração. Naquele momento ele mudou a atitude dele. Eu vi ele seguindo em frente já comunicando no rádio. Ele estava com roupa verde fluorescente. Naquele momento ele veio comunicando ao rádio e eu olhando. Ao final da estação vi que estavam vindo muitos funcionários até mim, chegando até mim de forma truculenta, abordagem totalmente errada - eu trabalho de vigilante e sei a forma que se aborda, pedindo que eu me retirasse.... 'Se retire, se retire”. Eu falei: “Só não encosta em mim”. Teve um que não sei o nome, mas me lembro face a face que me falou gritando: “Eu te tiro na base da porrada. Eu te tiro na base da porrada”.
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Aí eu falei: “Que isso, cara?”. Ele me segurou, me engravatou e veio me tirando e outros me segurando. Nesse momento, eu achando aquilo um absurdo, não forcei a barra com eles, porque até então eu sei dos meus direitos e eu escutava barulho de choque na minha costela. Eu escutava barulho de choque, mas não sei identificar quem foi e quantos foram. Mas a câmera prova tudo.
Como foi causada essa ferida no seu braço?
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Essa marca no braço foi porque eles me segurara. Eu estou com dor no pescoço aqui. Agora sim está me dando dor no pescoço. A forma que me seguraram foi totalmente errada. Vieram me segurando. Me escorraçando como se eu estivesse roubando alguém. Como se eu estive estuprando alguém dentro de algum vagão. Não é dessa forma que eu esperava que isso ia acontecer.
Colocaram você na rua?
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Não, não me colocaram na rua. Chegaram na roleta, foi aí que homem se apresentou lá dizendo que era um policial, sem apresentar documento, informando que era um soldado. Ele não estava fardado e não apresentou documento nenhum, mas me aconselhou a vir à 4ª DP. Falei que iria vir. Perguntei se era o plantão dele lá, ele falou que era, que estava saindo do serviço. É uma coisa que eu não queria que ficasse impune, porque não é assim que as coisas acontecem.
Como você se sentiu?
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Totalmente escorraçado. Que vergonha, nunca passei por isso. Eu sou trabalhador. Independente se estou errado ou não, não é assim.
O que falaram para você, além das agressões físicas?
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Palavras... "Entendeu"... "Vou te meter a porrada"... "Vou te tirar"... Que sou cheio de marra, entendeu? Não é dessa forma. As outras não me recordo Eu fiquei muito nervoso. Quem não ficaria no meu lugar? De uma forma como... Os passageiros, a estação cheia, no momento em que eles estavam me tirando, as pessoas me olharam com a cara tipo assim: 'Caraca, alguma merda esse moleque fez'. As pessoas abrindo espaço: "Sai! Sai!". E quanto mais vinham deles, vinham assim, na minha intenção, porque às vezes quem estava de plantão, colega deles que não sabiam o que era, vinham até mim com mais força bruta para me segurar. Mas até então não sabia.
Quanto tempo durou isso tudo?
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Durou dez minutos... De tudo. Tudo assim praticamente durou 10 minutos. Foi uma situação até menos que isso, eu acho.
Em algum momento você revidou?
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Revidei, cara. Revidei, sim. Teve um momento em que eles me pararam. O que estava mais alterado, que me agrediu no começo, ele estava vindo até mim e aí parou, foi a hora que peguei minha bolsa e tentei. Agora não lembro se pegou no rosto dele, entendeu?