Segundo o delegado da especializada, Gustavo Rodrigues, o crime tem tido aumento por proporcionar dinheiro rápido para dependentes químicos. Em ferros-velhos, o cobre chega a ser comercializado por até R$ 35 o kg. “Essa é só a primeira fase da receptação. Os fios que eles preferem são aqueles antigos, onde a quantidade de cobre no interior do cabo é maior. Às vezes com apenas um pedaço, eles conseguem quilos do metal”, comentou o delegado.
Rodrigues explica que, normalmente, esses pequenos depósitos de sucata, onde o cobre é vendido pelos dependentes químicos, costumam acumular uma quantidade do metal e repassar o material para um segundo receptador. Nesse segundo, o cobre é reciclado mais uma vez e então é negociado para grandes empresários da reciclagem. “O preço vai aumentando de uma cadeia para outra. Nós ainda estamos identificando essa escadinha da receptação do cobre. Por ora, chegamos a um médio”, disse o titular da DRF.
Os bairros mais afetados pelos crimes são Méier, Cachambi e Jacaré, na Zona Norte. Na Zona Oeste, Freguesia, Pechincha e Jacarepaguá também aparecem com alto número de ocorrências. De outubro de 2020 a janeiro deste ano, a área, que é coberta pelo 18º BPM (Jacarepaguá), registrou 70 prisões por furtos ou roubos de cabos e fios de internet. Segundo a Secretaria de Polícia Militar, esse tipo de furto são considerados crimes de oportunidade, ou seja, o criminoso espera uma brecha para agir.
Usuários prejudicados
Moradora e comerciante no Pechincha, Solange Viegas, de 58 anos, diz que a situação piorou nos últimos anos. Segundo ela, o número de moradores de rua e usuários de droga circulando pelas ruas da região tem crescido. “Aqui na rua da nossa loja isso acontece quase que a cada quinze dias. Aquele poste ali, por exemplo, arrumaram ainda hoje cedo”, conta a comerciante.
Para ela, a situação na Rua Coronel Francisco Lobo, onde fica sua loja de autopeças, é agravada pela condição de iluminação. “São várias lâmpadas queimadas e a Rio Luz não vem ver. Acho que nessa escuridão, eles ficam ainda menos constrangidos de fazer essas coisas. Já tivemos dias sem internet e telefone por conta disso e dependemos desses serviços para funcionar”, reclama.
Segundo o funcionário de uma empresa de telecomunicações, que preferiu não se identificar, o reparo pode levar dias, já que os criminosos costumam fazer pequenos cortes nos cabos para descobrir se são de cobre. Quando não encontram o metal, eles apenas abandonam o fio cortado, o que dificulta o reparo. “Se eles dão só um talho no fio, o trabalho visual é como procurar uma agulha no palheiro”, explica.
Lei já amplia punição
A investigação da Polícia Civil se antecipa ao proposto pela lei 9.169/21, aprovada no dia 7 de janeiro, que autoriza o Governo fluminense a aplicar medidas administrativas de prevenção e combate ao roubo, furto e receptação de cabos, fios metálicos, geradores, baterias, transformadores e placas metálicas no estado do Rio de Janeiro.
Sancionada pelo governador em exercício, Claudio Castro, a norma prevê punições que vão desde a aplicação de multas, no valor inicial de R$35 mil, até o cancelamento da inscrição no cadastro de contribuintes e a suspensão dos sócios que praticarem essa ação.