Segundo a pesquisa, negros estão no alvo de operações policiaisArquivo / Reginaldo Pimenta/Agência O DIA

Rio- Uma pesquisa realizada pela Rede de Observatórios da Segurança aponta que 86% dos mortos em operações policiais no Rio de Janeiro são negros. O grupo representa 57,7% da população. Além disso, dos cinco estados analisados (Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo) o Rio é o que aparece com mais mortes nessas ações. Os dados é para o estudo "Pele alvo: a cor da violência policial", foram obtidos via Lei de Acesso à Informação com dados de 2020. Este é o segundo ano de análises dos dados de segurança pela entidade. A primeira edição da pesquisa aconteceu no último ano.
De acordo com os dados, o Rio de Janeiro, pela segunda vez, é o estado que mais mata pessoas negras em ações policiais, com 939 registros entre os 1,92 mil mortos que tiveram a cor/raça informada. Com esse total é possível dizer que 90% dos mortos pelas polícias são negros. A capital carioca também é a que registrou o maior número total de mortes, com 415 registros.
Em comparação com o ano de 2019 houve uma redução de 31% no número de pessoas negras mortas pela polícia. Contudo, a pesquisa frisa que mesmo nesse contexto, o valor é o terceiro maior registro de toda a série histórica. O levantamento diz que o modus operandi da polícia do Rio de Janeiro é o confronto fundamentado no racismo e usa da força letal de maneira indiscriminada em áreas densamente habitadas por pessoas negras.
Um dos exemplos usados foi a ação policial que deixou 27 mortos no Jacarezinho. Os pesquisadores reiteram que a operação teve a anuência do Ministério Público, já que a atuação policial nas comunidades precisava de autorização do órgão para serem realizadas de acordo com a ADPF 135, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Esta ficou conhecida como a operação mais sangrenta da história do Rio de Janeiro.
A pesquisa também lembra que poucas semanas depois, outra ação policial vitimou q jovem Kathlen Romeu, de 24 anos, que estava grávida quando foi atingida por um tiro de fuzil, em uma manobra da PM conhecida como "Tróia", no Complexo do Lins, na Zona Norte da cidade.
A pesquisa explica ainda que as mortes de Kathlen e seu bebê podem não ter entrado nas estatísticas oficiais de mortes por policiais, pois quando não há confronto (quando as vítimas são mulheres, crianças e idosos) essas mortes são classificadas como homicídios e não como mortes decorrentes de ação policial. "Da mesma forma, as mortes das primas Emilly e Rebecca, em Duque de Caxias (Baixada Fluminense), enquanto brincavam na porta de casa, não entram no índice de 86% de pessoas negras mortas pela polícia em 2020", demonstra o levantamento.

Pandemia

A pesquisa destaca que mesmo em um contexto de crise sanitária mundial o racismo "não dá trégua" e, aliado a contaminação de COVID-19 pode ser ainda mais letal. Os pesquisadores também lembram que as medidas de distanciamento físico empregadas durante a pandemia de coronavírus, aliadas à decisão do STF limitou a ocorrência de operações policiais no estado e contribuíram para a redução observada. No entanto, mesmo nesse contexto, o valor é o terceiro maior registro de toda a série histórica.
Em resposta, Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que não há qualquer viés racial na atuação da PM na sua missão de combater criminosos armados. “Vale lembrar que a Corporação foi uma das primeiras instituições públicas do país a ser comandada por um negro e hoje mais da metade de seu efetivo de praças e oficiais é composto por afrodescendentes.”