Isabete Barbosa, de 79 anos, fez questão de pedir um batom vermelho e disse que vai deixar a foto para a netaDivulgação

Rio – O Abrigo Cristo Redentor, em Higienópolis, Zona Norte do Rio, recebeu na última semana um ensaio fotográfico profissional com direito a maquiagem, penteado e a um estúdio feito especialmente para a ocasião. A ação, promovida pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, teve como objetivo a melhoria da autoestima dos idosos residentes no local.
"Levar algo novo para a rotina dos idosos transforma a vida deles. Eles merecem, sem dúvida, todo esse cuidado e carinho para melhorar a autoestima e proporcionar ainda mais alegria. Muito bom ver o quanto essa iniciativa trouxe novos ares para o abrigo e ainda mais beleza aos idosos", disse o governador Cláudio Castro.
Todo o trabalho foi realizado sob as lentes do fotógrafo Nelson Perez. O material deve ser transformado em uma exposição para os fotografados e seus familiares.
Durante o ensaio, não faltaram histórias para contar da terceira idade. No abrigo, há os mais diferentes perfis. Tem gente de cem anos, tem os que gostam de cantar, os que falam com as plantas, ou quem faz questão de pintar as unhas toda semana. Relatos que encantam a quem percebe que não são apenas idosos que moram no Abrigo Cristo Redentor. São pessoas que envelheceram, mas que seguem com suas próprias ideias, desejos e sonhos.

Isabete Barbosa, de 79 anos, é dona de uma dessas histórias. Ela fez questão de pedir um batom vermelho para foto, combinando com seu vestido. "Estou me achando. A única coisa que vou deixar pra minha neta é a beleza. Eu não tenho nenhuma foto, essa vou deixar pra minha neta", disse ela, com um sorriso estampado no rosto.

Para os homens, a timidez esteve presente, mas não impediu que participassem. Sérgio Rita, de 64 anos, marcou presença no ensaio. Ele, que mora no abrigo há 3 anos, contou sobre sua participação na sessão de fotos e sobre seu passatempo predileto no local.

"Gostei muito de fazer essas fotos, pois nunca tinha participado de um ensaio antes. Aqui no abrigo amo cuidar das plantas e minha flor predileta é a rosa. Desde que eu entrei aqui que cuido da horta e molho as plantas todos os dias. Já colhi até chuchu. Às vezes me pegam conversando com elas e me chamam de maluco, mas eu acho que gostam de papear", explica Sérgio.

Os serviços de beleza dos participantes ficaram por conta das alunas do Desenvolve Mulher, programa do governo estadual que promove capacitação profissional para mulheres chefes de família por meio de diferentes cursos, e ainda com oferta de bolsas para as participantes.
Ericka, aluna do programa, conta que não achava que ele pudesse levá-la a tantos lugares.
"À primeira vista, minha expectativa era ir no abrigo, fazer meu trabalho e retornar para casa. Porém, a experiência que tive foi muito impactante, fui das lágrimas ao riso, um mix de emoções com cada história e com a alegria desses idosos. Foi um aprendizado incrível", relatou.

No Abrigo Cristo Redentor funcionam seis unidades, onde vivem cerca de 200 idosos, divididos de acordo com a complexidade dos casos. Muitos têm problemas de locomoção ou doenças senis. Mas, uma turma técnica multidisciplinar garante um atendimento de alta qualidade, com diferentes atividades para as pessoas que vivem por lá.


Projeto da UFRJ
O ensaio fotográfico não é a única atividade diferente que acontece no local. O Abrigo Cristo Redentor recebeu no dia 10 de novembro a primeira experiência prática do projeto “RE-VISÕES do paraíso”, desenvolvido por pesquisadores do Grupo de Pesquisas Paisagens Híbridas da Escola de Belas Artes da UFRJ. Na oficina, a primeira de muitas que acontecerão de forma regular em 2023, vinte idosos receberam diversos tipos de plantas para montar seu próprio jarro.
"Os médicos estão recomendando que as pessoas passem um tempo dentro de florestas, tenham contato com atividades de jardinagens, para que se possa ter uma diminuição da ansiedade e da depressão. Vamos verificar a pressão de todos eles antes de começar as atividades, e ao término vamos verificar novamente. Isso será importante para saber se eles ficaram mais calmos ou mais estressados", explicou Jeanne Almeida, professora de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ.

Para finalizar o projeto, todas as áreas verdes do Abrigo serão reflorestadas com as mudas preparadas pelos próprios alunos. A oficina não trabalha apenas em uma melhoria na qualidade de vida, mas também, por meio das práticas pedagógicas, altera sistematicamente a dinâmica das paisagens onde os idosos habitam.

"Essa parceria com a UFRJ possibilita a socialização e aproximação dos nossos idosos com o cuidado com o Abrigo, e isso possibilita um trabalho terapêutico visando o bem-estar deles. A participação dos idosos independentes foi muito interessante. Eles conseguiram socializar com os outros idosos que são abrigados e com a equipe técnica. Terapeuticamente essa ação foi muito importante”, ressaltou a coordenadora do Abrigo, Lícia Mattesco.