Movimentação de fiéis no Santuário da Basílica de São Sebastião, na Tijuca, Zona Norte, na primeira sexta-feira (6) do anoÉrica Martin/ Agência O DIA
Lúcia Maria, de 65 anos, com as mãos unidas, rezava fervorosamente. Pedia um emprego para a filha, formada há 17 anos em Nutrição, e por melhores condições de vida. "Estou comendo com a ajuda da igreja. Sou aposentada do INSS, mas o dinheiro que recebo, mal dá para pagar onde eu estou", contou. Apesar disso, não há espaço para desânimo. Lúcia saiu da celebração certa de que tinha alcançado suas graças: "Assisti a duas missas, estou pedindo fervorosamente, estou precisando muito dessas graças. Mas, posso dizer que já as alcancei, se Deus quiser", afirmou.
Para começar o ano melhor, o jornalista Alan de Araújo, de 53 anos, também foi, junto com a esposa Débora e o pequeno Lucas, de 5 anos, receber a benção. "Todo ano, na primeira sexta-feira, eu venho pedir um ano abençoado, tranquilo, com saúde para mim e para todos", explicou.
Tem gente, como a Carla Lemos, de 52 anos, que carrega a tradição de receber a benção na primeira sexta-feira do ano desde a bisavó. Nem mesmo a chuva foi capaz de impedir a administradora de empresas de pedir orações pela a família. "Vim pedir bênçãos, saúde, paz e proteção espiritual. A vida está muito complicada", contou, bem humorada.
Sônia Rodrigues, de 69 anos, adquiriu o costume de tomar a benção dos frades na primeira sexta-feira após trabalhar na Tijuca, no Club Municipal. Hoje, mesmo aposentada, a tradição permanece. "Fui pedir bênçãos, saúde, coisas que precisamos no dia-a-dia", contou. Apesar de ter ido sozinha, carregou e rezou por seus filhos, neto e esposo, todos presentes em fotografias. "Sempre levo as fotos para abençoar".
Instituída há 135 anos pelo frei Fidélis de Ávola, a bênção dos frades barbadinhos, como também são conhecidos os integrantes da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos do Rio, é Patrimônio Cultural carioca e acontece tradicionalmente na primeira sexta-feira do mês. A procura, porém, é maior na primeira sexta do ano, quando as esperanças estão mais acaloradas devido ao novo ciclo que se inicia. As bênção são dadas com aspersão de água benta.
A história do Frei Fidélis de Ávola e a tradição
Segundo a história, a tradição teria se iniciado ainda em 1886. Naquela época, frei Fidélis de Ávola, um fervoroso devoto de Nossa Senhora de Lourdes, foi curado de uma grave enfermidade com água benta. Por isso, mandou construir uma gruta dedicada à santa ao lado da então igreja de São Sebastião, localizada no Morro do Castelo, no Centro do Rio. Desde então, os freis franciscanos capuchinhos passaram a dar a bênção sempre na primeira sexta-feira de cada mês.
Ao longo dos anos, a procura pela bênção especial, concedida pelos às sextas, foi aumentando junto com a crença de que tal proteção na primeira sexta-feira do ano concederia as graças de um bom e abençoado ciclo.
Com a transferência, em 1931, da Igreja do Morro do Castelo para a Rua Haddock Lobo, também na Tijuca, a bênção passou a ser dada no Santuário Basílica de São Sebastião – Frades Capuchinhos.
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