Canal de Marapendi, na Zona Oeste, amanhece com milhares de peixes mortos: ‘trabalhando no limite', alerta biólogo
Mário Moscatelli acredita que chuvas dos últimos dias tenham sido gatilho de um sistema sobrecarregado há 40 anos pela falta de saneamento urbano e crescimento desordenado
Milhares de peixes aparecem mortos em canal na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, na manhã desta sexta-feira (13). - Érica Martin/Agência O Dia
Milhares de peixes aparecem mortos em canal na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, na manhã desta sexta-feira (13).Érica Martin/Agência O Dia
Rio – Milhares de peixes - a maioria da espécie conhecida como Savelha (Alosa fallax) - surgiram mortos no Canal de Marapendi, localizado no Parque das Rosas, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, na manhã desta sexta-feira (13). O Canal Marapendi integra o Sistema Lagunar de Jacarepaguá.
"Segundo o que eu acompanho há vários anos, a Lagoa de Marapendi está 'trabalhando' no limite pelas condições de degradação permanente", explicou o biólogo Mário Moscatelli, que atua no combate à sobrecarga do sistema lagunar desde 1992.
Mesmo o sistema sendo um ambiente típico de deposição e sedimentação, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e o biólogo apontam para um problema de forte estresse que atinge o conjunto. Classificado como "um paciente muito doente" por Moscatelli, a mortandade, então, não seria uma novidade, mas produto de 40 anos de descaso com o saneamento urbano e o crescimento desordenado, atingindo inicialmente as espécies mais vulneráveis, como a Savelha.
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"Vem a chuva e traz mais desequilibro, associado com aporte de mais matéria orgânica, mudança de salinidade, temperatura e oxigênio dissolvido na água. Pronto. O 'paciente' que já não está bem faz 40 anos, acaba 'enfartando' por conta da 'azeitona' que comeu, que no caso estou associando ao período prolongado de chuvas e seus desdobramentos. Destaco que não foi a chuva a protagonista dessa mortandade, apenas o gatilho. Os protagonistas são historicamente a falta de saneamento universalizado e o crescimento urbano desordenado. Isso é fato", pontuou o biólogo.
Marcilene França, de 45 anos, é moradora do Recreio dos Bandeirantes, bairro próximo à Barra e também banhado pela lagoa. Ela conta que, mesmo antes de se mudar para a residência atual, quando ainda morava na Barra da Tijuca, nunca tinha visto algo assim, além de ter reclamado do cheiro.
"Nunca vi mortandade do jeito que eu vi. Nunca vi na Barra e nem no Recreio. Além disso, o cheiro é horrível, um cheiro de peixe podre. O canal inteiro está fedendo", comentou a autônoma.
A moradora disse que, na quinta-feira (12), viu sair do escoamento de um condomínio residencial uma grande quantidade de líquido branco que, ao chegar no canal, formava uma circunferência de uns três metros de diâmetro. "Era uma água muito branca. Algum produto químico deviam estar usando. Não estou dizendo que isso possa ter causado [a mortandade], mas é muita coincidência", relatou.
O Inea disse que realizou vistoria no canal na manhã desta sexta-feira e que coletou amostras de qualidade de água do local para exames laboratoriais, a fim de emitir um parecer conclusivo sobre as causas da mortandade.
A Prefeitura do Rio e a Subprefeitura da Barra informaram que acionaram a Comlurb para a limpeza das margens. A Comlurb afirmou que trabalhará em caráter colaborativo, montando um esquema de limpeza para tentar ajudar na remoção dos peixes mortos da lagoa.
*Reportagem do estagiário Jorge Guilherme sob supervisão de Thiago Antunes. Colaborou a estagiária Beatriz Coutinho
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