Jovem agredido por segurança enquanto trabalhava na Sapucaí passou por exame de corpo de delito no IMLEstefan Radovicz/ Agência O Dia
O segurança que protagonizou a agressão identificado como José Carlos, e conhecido como Zé Papagaio, possui passagens por lesão corporal e já foi enquadrado na Lei Maria da Penha, conta o pai de João, Marcelo Chaves. A vítima, que foi sufocada, passou por exame de corpo de delito no IML na tarde desta terça (17).
O pai da vítima, Marcelo Chaves, disse que o filho está abalado psicologicamente. Ontem, a vítima passou o dia se recuperando da agressão e hoje os dois foram juntos fazer o registro.
"Fomos muito bem tratados pela delegada. A ficha do cara foi levantada. O homem que agrediu, que é o chefe da segurança no setor, ficou preso por Maria da Penha, tem muita passagem por 129 (lesão corporal) e 47 (grave ameaça). Ficou preso. A Liesa não poderia colocar ele ali de jeito nenhum", afirmou Marcelo.
Durante o depoimento, que durou cerca de três horas, foram exibidos vídeos das agressões. Segundo Marcelo, os seguranças empurraram seu filho, o agrediram e o colocaram com o rosto no chão utilizando a técnica de imobilização conhecida como 'mata-leão'. O eletrotécnico comparou a manobra com as agressões que provocaram a morte de George Floyd, assassinado por policiais em maio de 2020 nos Estados Unidos.
"Sufocaram, imagina se meu filho morre como George Floyd. Ou como o caso da Polícia Rodoviária Federal em que sufocaram o cara na mala da viatura. Isso não pode acontecer", desabafou o pai da vítima.
O presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), Jorge Perlingeiro, afirmou que afastou um segurança apontado como responsável pelas agressões. Ele disse que se reuniu com o chefe da segurança nesta terça-feira com o intuito de alinhar o discurso internamente para que casos como este não se repitam.
"Tive reunião com o chefe da segurança da Liesa e afastei o rapaz. Ele disse que revidou uma agressão. Que o rapaz teria agredido primeiro. Não importa. Importa que o ato aconteceu. Isso não é praxe nossa. Mas, quando acontece, tem que ser apurada e estamos apurando e vamos trabalhar para daqui pra frente a equipe ter mais cuidado na forma de abordagem", disse Perlingeiro.
Marcelo diz que o jovem estava trabalhando no apoio à musa Valeska Reis, quando foi impedido por seguranças de passar por um dos portões do Sambódromo. "Meu filho foi agredido e por isso deu um empurrão. Ele não iniciou nenhuma discussão", contou.
O chefe da segurança do setor três teria chamado outros colegas para o apoiarem na agressão. "Os policiais viram os vídeos, que mostram eles sufocando o João no chão e chamando mais gente para ir para cima. Também estavam chutando, é surreal", lamentou Marcelo.
Ligado ao Carnaval, Marcelo Chaves contou que se sentiu duplamente abalado: pela agressão sofrida e pela falta de acolhimento por parte da liga. "Esperamos que a Justiça seja feita. Eu esperava uma manifestação do prefeito Eduardo Paes e que a Liesa recebesse meu filho e pedisse desculpas. Todo mundo se conhece neste mundo do Carnaval. Meu filho é da casa. Todo mundo erra. A Liesa não pode ser responsabilizada, foi alguém que eles colocaram pra trabalhar, mas esperava um pedido de desculpas", contou.
O eletrotécnico que já foi diretor de harmonia da Unidos da Ponte e da Unidos de Bangu conta que as agressões vieram em um período em que a família sofreu uma série de perdas. "Ele está emocionalmente muito abalado de verdade, se achando um lixo. Só chora e abraça a filha. Perdi minha esposa, um filho e meu pai há um mês e pouco. Viemos de um processo de perda muito grande", acrescentou.
Um vídeo mostra o segurança em cima de João Marcelo com a mão em seu pescoço no meio da bateria do Império Serrano no primeiro recuo da Marquês de Sapucaí.
Jovem é sufocado por segurança da Liesa no recuo da bateria na Marquês de Sapucaí.#ODia
— Jornal O Dia (@jornalodia) January 17, 2023
Crédito: Arquivo pessoal pic.twitter.com/nLyloXym7a
Liesa divulga nota de repúdio a todo e qualquer ato de violência no Carnaval
Em nota, a Liesa manifestou repúdio à violência e solidariedade a vítima. A Liga afirmou que vai apurar e afastar o integrante de segurança envolvido no caso. Confira o texto completo:
Ciente das informações iniciais sobre o caso, que envolvem um relato de agressão contra um folião por um integrante da equipe de segurança que estava no Sambódromo, a Liesa vem a público repudiar todo e qualquer ato de violência no Rio Carnaval.
É inaceitável que integrantes e torcedores de escolas de samba sejam submetidos a tratamentos do tipo e, por isso, a Liesa, seu presidente Jorge Perlingeiro e seus diretores trabalharão incansavelmente nos próximos dias para afastar e punir, naquilo que compete à entidade, os profissionais da segurança que porventura estiverem envolvidos no caso. Eles não retornarão à pista de desfiles na próxima semana e nem em quaisquer outras ocasiões futuras.
No mais, a Liesa manifesta solidariedade a Marcelo Chaves e seu filho, João Marcelo, cujos relatos chegaram à entidade e servirão como base para as providências urgentes e imprescindíveis que serão tomadas a partir de agora. As escolas e sua representação não compactuam, de forma alguma, com discursos e atitudes violentas, sobretudo por parte daqueles que deveriam atuar para a melhor condução possível de nosso espetáculo.
Fica, portanto, reiterado o compromisso da liga e de seus membros com as boas práticas, a conciliação de conflitos, a segurança e a paz acima de qualquer intercurso na folia.
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