A publicitária Juliana criou a marca Sereiona Tattoos para vender nos blocos de carnavalCléber Mendes / Agência O DIA

Rio - O carnaval virou terreno fértil para os foliões que, além de serem devotos da festa, aproveitam o período para empreender e até mesmo fazer um dinheiro extra. A história de amor com o carnaval da publicitária Juliana Vasconcelos, de 28 anos, começou há muito tempo, quando ainda era pequena. Hoje, além de curtir os cortejos, ela também passa a data dando aula de agogô e empreendendo. A publicitária criou sua própria marca de tatuagens temporárias, Sereiona Tattoos, e vende uma a R$ 6 e duas a R$ 11 nos blocos.


"É a minha segunda marca de carnaval. Eu já tive outra de tatuagens também com uma sócia, mas nesse ano resolvi abrir uma sozinha. Eu gosto muito porque me divirto nos blocos e aproveito para vender", disse Juliana. Ela também ressaltou que a maioria das pessoas que escolhem empreender no carnaval são mulheres. "Acho interessante perceber que elas estão à frente dos negócios, mas não podemos deixar de observar que tem outros aspectos como a sobrecarga delas e a urgência de complementarem ou gerarem renda".

As suas tatuagens são adesivas e podem ser coladas pelo corpo ou em objetos. Alguns desenhos na cartela são de sua preferência, no entanto, há outros também que fazem mais sucesso entre os foliões, como o arco-íris. "Tem umas coisas que eu escolho por gostar e outras por entender que vendem mais. Isso é só com o tempo que a gente vê. Por exemplo, a de Arco-íris sempre é a mais vendida, mas agora tenho empatado com ele o desenho "Quem tem joga" e "Grande Gostosa".

Sobre o nome do seu empreendimento, Juliana explicou que vem da paixão pela estética do sereismo. "Esse nome surgiu porque eu brinco que sou uma sereiona. Sempre trouxe esse questionamento do padrão estético para os meus aniversários, fantasias de carnaval e tudo mais. Sou uma sereiona e agora tenho o Sereiona Tattoos. O padrão que lute!"

A fantasia do carnaval é algo sagrado e, muitas vezes, planejado com bastante antecedência. No entanto, há quem não tenha tempo de elaborar seus enfeites carnavalescos. Pensando nesse contexto, a designer Bianca Oliveira, 28, criou uma marca de fantasias chamada Paéti. "A marca foi criada com uma colega que é formada em Artes Cênicas e tem uma empresa de produção de peças de cinema. Nós somos apaixonadas por carnaval e nos unimos para criar esse produto, já que todo ano produzimos a nossa própria fantasia".

Formada em design de moda, Bianca acabou seguindo o caminho do design gráfico, tendo trabalhado também com fotografia e alguns produtos manuais. "Aqui na Paéti fazemos tudo a mão, bem artesanal mesmo, pelo fato da gente gostar mesmo e também para fazer uma grana extra no carnaval. Gosto muito do que eu faço e é muito legal isso de fazer para mim e para vender para os outros também".

A febre da purpurina nos blocos de carnaval foi um dos motivos que incentivou a criação da marca Be Glitter, que já tem cinco anos de existência. Ela proporciona o brilho para o folião, mas de uma forma consciente e pensando na natureza. "Durante a maior parte do tempo, a marca foi uma fonte de renda extra, principalmente por causa da pandemia. Mas existe um grande trabalho de pesquisa, marketing e marca envolvido. Trazer o glitter biodegradável para o maior número de pessoas se tornou nosso foco", disse a fundadora Paula Barreto, 46.

Segundo Paula, o glitter é feito de microplástico e causa um enorme dano ambiental. "Vejo que aos poucos as pessoas estão entendendo a importância dessa mudança de atitude, mas ainda temos uma longa jornada de conscientização coletiva carnavalesca". As vendas da marca Be Glitter durante o carnaval representam 95% do faturamento do ano. "Somos uma marca sazonal e dedicamos toda nossa energia de venda em três meses do ano, janeiro, fevereiro e março", completou.
Com a tendência das hotpants e tops nos cortejos, Daphne Ramos Peixoto, 28, decidiu se aventurar na criação de figurinos de carnaval e vender roupas customizadas. "A minha marca Aurora começou assim: eu fazia as minhas roupas para o carnaval e minhas amigas começaram a pedir também, aí fazia para elas até que resolvi criar a marca e foi sucesso. Além disso, eu e muitas donas de marcas carnavalescas tocamos em blocos. A gente ensaia o ano inteiro e quando chega nessa reta final é o nosso maior momento de vender, tanto para os batuqueiros dos nossos blocos, quanto para os foliões". 

A coordenadora de Economia Criativa do Sebrae Rio, Carolyne Gomes, explicou que o perfil do empreendedor mais jovem já vem com uma característica importante que é a proximidade com o cliente. "Geralmente, nesses casos, os jovens estão olhando para o mercado, atento às tendências e eles vão para a rua vender exatamente o que os amigos e colegas estão consumindo. Então, o perfil do consumidor deles já está traçado, o que acaba acelerando ainda mais as vendas".

Carolyne também apontou que há uma aptidão, entre os empreendedores, para entender como se forma o preço, como se negocia e vende. "Muitos empreendedores veem o carnaval com oportunidade de fazer renda extra, de aumentar faturamento, então eles se planejam para isso, por exemplo as costureiras, segmentos ligados a moda, um pouco antes já começam a fazer fantasias, adereços, enfeites, que podem ser usados no período da folia".

Para a coordenadora, empreender durante o carnaval é uma grande oportunidade de renda extra porque há mais pessoas circulando nas ruas que querem se fantasiar. "Há muitos turistas que querem estar apropriados aos bailes, festas, blocos, então tem consumidor disposto a gastar. Se o empreendedor tem um produto que atenda a essa demanda, então a conta fecha e o sucesso é garantido".