Os agentes Cida e Gilberto trabalham no atendimento à população cariocaEdu Kapps /Divulgação SMS

Rio - A campainha toca, uma pessoa com crachá e colete se identifica e pede para entrar na residência, e assim começa o trabalho daqueles que visitam casa a casa pelo Rio, promovendo ações de saúde e a prevenção de doenças: são os agentes comunitários de saúde e de endemias. Eles fazem a ligação direta entre os moradores e os serviços de saúde de uma região. E, neste mês, o Dia do Agente Comunitário de Saúde e Combate a Endemias, celebrado no dia 04, tem o objetivo de conscientizar a população sobre a importância da atuação destes profissionais no dia a dia, realizando fiscalizações, aplicando larvicidas e conferindo caixas d’água.

Apesar de desempenharem funções diferentes, ambos trabalham de forma integrada e lidam com a comunidade para conhecer as necessidades e orientar as pessoas. Atualmente, a população carioca conta com 7.692 agentes comunitários e 2.810 agentes de endemias, segundo os dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

O agente comunitário (ACS) é o profissional que faz o contato direto entre o paciente e a unidade básica de saúde. Ele está vinculado a uma equipe da Estratégia Saúde da Família e desempenha o papel de identificar as necessidades da população por meio de ações de prevenção da saúde e acompanhamento de pacientes. Como a Maria Aparecida Gouveia, de 51 anos, que trabalha há 10 meses no Centro Municipal de Saúde Rocha Maia, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, e conta sobre os vínculos criados na rotina das visitas às residências.

"Nos territórios em que eu não tinha conexão com as pessoas, comecei a criar, pois faz parte da minha função. Amo trabalhar com essas pessoas. Entendo profundamente a importância do meu trabalho e acredito que chegar com um sorriso no rosto é sempre muito importante", relata a profissional.

Cida, como é carinhosamente chamada nos locais em que trabalha, utiliza o alto astral e a simpatia como aliados para fazer a ponte entre quem precisa de atendimento e os serviços de saúde. Ela vai além do trabalho na rua e se transforma em personagens infantis, como Branca de Neve e Wandinha, nas campanhas de vacinação, para distrair as crianças e usa as experiências que adquiriu em aulas de teatro e trabalhos em festas, antes de ser uma ACS.

"Eu já trabalhei com festas antes de me tornar ACS, já fiz teatro, então para mim essa integração com as crianças é muito gratificante, elas adoram e eu também", completa Cida.

Maria Lima, de 72 anos, é moradora de Realengo e chegou a receber a visita de agentes da Clínica da Família Armando Palhares Aguinaga, na Zona Oeste, para o acompanhamento da saúde do marido, que precisava de atendimento domiciliar.

"Eu sempre recebia a visita de uma agente da Clínica da Família aqui do bairro, eles são muito bons! Meu marido, que tinha 80 anos, estava prestes a realizar uma operação nos olhos e, com o encaminhamento feito pelos agentes, fez as cirurgias que precisava. Também tivemos encaminhamento quando ele precisou realizar um exame de biópsia de um tumor na região da orelha. Ele foi encaminhado para o Hospital Universitário Pedro Ernesto, onde recebeu o atendimento e os exames necessários. A Clínica, por meio dos agentes, encaminhou para todos os hospitais de que ele precisava e acompanhou também com a realização das visitas, verificando a pressão e até mesmo fazendo coleta de sangue. Sempre nos deram muita atenção", relembrou Maria.

Para o subsecretário de Promoção, Atenção Primária e Vigilância em Saúde da SMS-Rio, Renato Cony, o ACS é primordial para a atenção à saúde. “Eles são braços, pernas, olhos e ouvidos da equipe de saúde no território. São profissionais com competência cultural e capacidade técnica para fazer a ponte entre a população e a equipe técnica, como médicos e enfermeiros. Eles têm sensibilidade no território para identificar os agravos, alertam a equipe de novas doenças que estejam ocorrendo, sobre novas gestantes, tosse crônica, e também levam o cuidado e fazem o acompanhamento longitudinal, de acordo com o estabelecido no plano terapêutico do paciente”, explica Cony.

Já os agentes de endemias como o Gilberto de Souza, de 52 anos, trabalham na vigilância, prevenção e controle de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Ele atua na área há 12 anos na comunidade Vila Canoas, em São Conrado, na Zona Sul, e afirma que o trabalho integrado com a equipe do Centro Municipal de Saúde (CMS), bem como a relação com a comunidade, facilita na obtenção de resultados positivos.

“A boa relação com a equipe facilita o entrosamento e a realização de ações conjuntas na comunidade. Atividades como visitas domiciliares, palestras, caminhadas e panfletagem nas ruas são realizadas de forma planejada com a equipe. Construí também um bom relacionamento com a associação de moradores, o que considero muito importante para ajudar a transmitir informações e orientações à população. Hoje me sinto bastante integrado à comunidade de Vila Canoas e sou muito realizado no que faço, pois reconheço a importância do meu trabalho”, conta Gilberto.

Segundo a pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz (EPSJV/Fiocruz), Gracia Gondim, o agente de controle de endemias (ACE) é um ator social importante nas equipes de saúde e nas comunidades.

"Eles vão olhar a qualidade da água, as condições de saneamento e relacionadas à habitação no contexto do controle de vetores e do gerenciamento de lixo. Os agentes vão trabalhar olhando as ruas, os quarteirões e entrando nas casas para ver se a casa é ventilada ou não, se tem água estocada, se no quintal tem lixo acumulado que pode servir de criadouro para vetores, e se há elementos que podem afetar a qualidade de vida e a saúde das pessoas. Além do trabalho específico no controle das endemias, eles têm a capacidade de estar no cotidiano das pessoas, com um olhar interessado para os territórios", explica a professora Gracia Gondim.

Ainda segundo a pesquisadora, a comunidade também precisa reconhecer os atores importantes que estão contribuindo para melhorar as condições de vida. “Muitas vezes esse trabalhador não consegue entrar nas casas para fazer o diagnóstico, porque as pessoas pensam que eles vão fiscalizar e denunciar. Isso está muito ligado com a questão do reconhecimento e valorização desses profissionais. Se, por um lado, eles são reconhecidos como uma categoria profissional, ainda é necessário que sejam valorizados em seu ambiente de trabalho e, ao mesmo tempo, reconhecidos pela população. Isso ajuda a construir uma identidade profissional para esses agentes", concluiu Gondim.

Em janeiro, foi sancionada pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, a lei 14.536/2023, que regulamenta as profissões de agente comunitário de saúde (ACS) e de agente de combate às endemias (ACE) na categoria de profissionais de saúde. Ainda de acordo com a medida, os profissionais das duas categorias poderão acumular até dois cargos públicos, desde que as atividades não sejam no mesmo horário.

Segundo o subsecretário Renato Cony, a mudança, na prática, influencia muito o trabalho dos profissionais porque eles vão estar inseridos em um corpo deontológico, de ética profissional a seguir.

"Foi muito importante serem considerados profissionais da saúde, isso garante para eles que não vai haver um salário abaixo do piso. Mas ainda é preciso avançar muito ainda na forma de contratação desses profissionais que precisam ter vínculos mais estáveis com a administração pública, seja por concurso público ou pela contratação CLT, como o Rio já faz", explicou Cony.

Ainda de acordo com Renato, a perspectiva da Secretaria Municipal de Saúde é de expansão da Estratégia de Saúde da Família e do número de equipes, necessariamente haverá a contratação de novos profissionais.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, as ações de combate às arboviroses, que são doenças causadas pelo mosquito Aedes aegypti, principalmente a dengue, são realizadas o ano inteiro, principalmente em territórios mais vulneráveis para a proliferação do mosquito. De janeiro a outubro deste ano, já foram vistoriados mais de 8 milhões de imóveis para controle e prevenção de possíveis focos, com eliminação ou tratamento de mais de 1,6 milhão de recipientes que poderiam servir de criadouro.
As equipes de vigilância ambiental em saúde atendem os chamados através da Central 1746 de Atendimento ao Cidadão, canal oficial da Prefeitura do Rio para realizar denúncias e solicitar vistorias.