Rio - Está marcada para às 13h desta quinta-feira (23), a audiência de custódia do cirurgião peruano Jaime Javier Garcia Caro, de 44 anos, preso em flagrante quando iniciava uma lipoaspiração em uma clínica de estética irregular em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
O local, que foi interditado, funcionava sem licença sanitária e, mesmo assim, eram realizados procedimentos estéticos de alta complexidade. No momento em que os agentes chegaram na clínica, o médico estava iniciando uma cirurgia de lipoaspiração em uma paciente de 29 anos, que já havia sido sedada por Jean Paul, que se passava por anestesista e também foi preso.
Na sala ao lado, policiais encontraram uma outra paciente, de 44 anos, que havia acabado de se submeter a uma lipoaspiração e repousava ainda sob os efeitos do anestésico. Uma ambulância do Samu foi solicitada para levar a paciente que estava na mesa de cirurgia até a emergência do hospital HGNI (Hospital Geral de Nova Iguaçu) para ser submetida a avaliação médica.
Enquanto os policiais estavam na clínica, uma outra mulher, que também havia realizado lipoaspiração dias antes, chegou ao local se queixando de fortes dores e com inflamação nos pontos.
Na Clínica Iguaçu Plásticas Day também eram realizados procedimentos como mamoplastia e mastopexia, mas não possuía qualquer estrutura para eventuais intercorrências com os pacientes, como desfibrilador, equipamentos de UTI e ambulância.
A clínica passava por reformas e o local se apresentava completamente insalubre para os pacientes. No local, foram encontrados medicamentos e anestésicos conservados em geladeiras junto a alimentos e bebidas para o consumo dos funcionários.
A ação foi desencadeada com base no monitoramento de perfis que oferecem procedimentos estéticos de alta complexidade a preços populares nas redes sociais. Após identificarem algumas inconsistências em um dos anúncios, os agentes iniciaram uma investigação preliminar onde constataram que o mesmo endereço havia sido alvo de uma outra operação no ano passado, onde foram encontrados vários materiais impróprios para o consumo e a clínica acabou interditada.
Processo por erro médico
O cirurgião peruano tem um processo interno aberto pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), em abril deste ano, devido a uma acusação de erro médico. Mesmo com a apuração em andamento, o cirurgião consta como apto a trabalhar no sistema do órgão.
De acordo com o Cremerj, o procedimento corre em sigilo, de acordo com as normas do Código de Processo Ético-Profissional. Em relação à sua prisão, o Conselho informou que irá apurar os fatos. Jaime responde ao processo interno depois de ser acusado de erro médico pela família da técnica de enfermagem Jéssica de Souza Machado em abril deste ano.
Ao DIA, Thayane Freitas, cunhada da mulher, disse, na época, que ela ficou mais de um mês internada no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio, devido a complicações de uma lipoaspiração feita pelo médico. Segundo a denúncia, o corpo de Jéssica apresentou necroses oito dias após a cirurgia, além de manchas pretas e áreas em carne viva. Após inicialmente ter tentado ajudar, o cirurgião ainda teria sumido sem dar satisfação.
O que diz a defesa
Ao DIA, o advogado William Pena entende que as prisões foram prematuras e que ambos os clientes não devem continuar presos após a audiência de custódia. De acordo com a defesa, Jean é residente formado em direito e não estava trabalhando com anestesia no momento da cirurgia. Ele teria apenas dado um remédio para a paciente a pedido do cirurgião.
"Nunca morreu ninguém lá. A nível criminal eu acho isso tudo um absurdo porque se está errado um procedimento não é a polícia que tem que julgar isso. Não houve nenhuma perícia. Eu acho que a equipe pecou. Eles invadiram armados. É um centro cirúrgico. Isso não é apropriado. Espera o médico terminar o procedimento e fala com ele. Se está errado ou não, a gente discute depois. Baseado na nossa constituição e por eles serem primários, eles não vão ficar presos. Eu não acredito que eles fiquem presos por suposições que ainda não foram apuradas", disse.
Pena ainda ressaltou que há três meses a clínica conseguiu uma licença junto à vigilância sanitária de Nova Iguaçu para funcionamento. Para ele, a interdição aconteceu para eximir o órgão de responsabilidade.
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