Companhia está em processo de recuperação judicialDivulgação

Rio – Em 16 de novembro de 2023, moradores da Rocinha, Zona Sul do Rio, desceram em frente ao túnel Zuzu Angel para protestar contra a falta de luz na região. O protesto não acontecera pouco depois do problema, mas após nove dias consecutivos de parte da comunidade sem energia. Como consequência, milhares de pessoas acumularam prejuízos e transtornos. O incidente, de maior duração em 2023, não foi um caso isolado. Em recuperação judicial, a empresa tem acumulado reclamações na cidade e parte do estado. A Light é a fornecedora de eletricidade em 31 municípios fluminenses e leva energia para 11 milhões de pessoas. Cerca de 64% da população do Rio de Janeiro utiliza os seus serviços.
De acordo com a prévia do Censo Demográfico de 2022, a favela da Rocinha tem cerca de 67 mil moradores atualmente. É a segunda maior favela do Brasil em número populacional, atrás apenas da Sol Nascente, de Brasília.
As manifestações causaram um trânsito intenso em São Conrado. Retenções foram sentidas até a Barra da Tijuca. O Tribunal de Justiça do Rio determinou que a Light, empresa responsável pelo fornecimento de energia, reestabelecesse a entrega de luz e eletricidade para a Rocinha em 48 horas, sob pena de multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento.
"Isso causa um impacto muito grande nas residências alheias. Pessoas que tiveram que jogar alimentos fora, carne, coisas muito doídas", disse Ocimar Santos, presidente do grupo cultural Rocinha.Org. "Gente que compra comida com o maior sofrimento teve que jogar fora. Isso aconteceu praticamente em todo lugar da comunidade."
A companhia mencionou, em nota, que as ligações clandestinas chegam a 84% das residências da comunidade, que queimam os transformadores devido à sobrecarga. Equipes da concessionária vão ao local, restabelecem a energia de clientes que apresentam queixas e, pouco tempo depois, novas quedas de energia ocorrem devido à sobrecarga na rede. Um problema que é reconhecido por Ocimar, mas também contestado.
"Há muitas ligações clandestinas em favelas? Sim. Mas há também muitas pessoas que querem pagar, querem regularizar e não conseguem porque simplesmente a empresa de energia não quer mais entrar em beco."
Neste dia, 16 de novembro, outros bairros do Rio de Janeiro sofreram com a instabilidade de energia. O problema passou por todas as regiões da cidade. Segundo a Light, trechos dos bairros do Cachambi, Triagem e Benfica foram afetados. A empresa afirmou que uma ocorrência na rede de Furnas causou interrupção no fornecimento de energia para trechos de bairros da Zona Norte. Um mapeamento feito pelo DIA mostrou que bairros como Tijuca, Campinho, Lins de Vasconcelos e Engenho de Dentro também tiveram falta de energia.
Além das reclamações em 16 de novembro, uma busca nas redes sociais mostra que o problema persiste. Moradores marcaram a Light no X (antigo Twitter) entre os dias 6 e 13 de dezembro, reclamando de novas instabilidades na eletricidade.

Em 18 de novembro, foi a vez de moradores de São João de Meriti e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, sofrerem com a falta de energia, além de bairros da Zona Norte, como a Pavuna e a Ilha do Governador.
Na Zona Oeste, os relatos de apagões também são frequentes. July Tenorio, 25 anos, moradora do Recreio dos Bandeirantes, conta que a falta de luz recorrente tem impacto no dia a dia da sua família, além de custos financeiros.
"Aqui no Recreio, costuma faltar luz quando faz calor ou chove. Isso já prejudicou a gente. Meu namorado trabalha de home office e quando há queda de energia, ficamos sem internet, não dá para carregar o notebook da empresa e ele perde um dia. E teve um dia de calor em que a luz ficou indo e voltando por uns cinco minutos e queimou nossa geladeira."
Os apagões são uma constante. Em 23 de setembro, a cidade do Rio registrou apagões em 14 bairros das Zonas Sul e Norte. E as reclamações, também no atendimento, já tiveram reflexos no âmbito judicial.
Em maio de 2022, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) multou a Light em R$ 37 milhões por má prestação de serviços no atendimento comercial aos consumidores. A companhia afirma que os autos se devem por processos de 2016 e que melhorou seus procedimentos internos e que investe constantemente em melhorias nos seus serviços digitais.
A agência também já havia multado a empresa em R$ 29 milhões por causa de um acidente ocorrido em 2016. Na ocasião, além de diversos problemas encontrados em fiscalização, uma explosão no sistema subterrâneo deixou sete feridos e matou uma pessoa.
A empresa também foi penalizada pelo Procon Carioca em R$ 2 milhões por causa da interrupção do fornecimento de energia em vários bairros do Rio nos meses de setembro a dezembro de 2021, em que ocorreram vendavais e tempestades. A Light afirma que está sempre à disposição da justiça para esclarecer as ocorrências.
Além de todos os problemas, a Light também passa por um processo de recuperação judicial, aceito pela Justiça em maio de 2023, com o objetivo de renegociar R$ 11 bilhões em dívidas. Segundo reportagem do ‘Uol’, em 2022, a companhia perdeu cerca de R$ 1 bilhão por causa de ligações clandestinas. Um plano de recuperação já foi montado e aprovado.