Marielle Franco foi eleita vereadora em 2016 pelo Psol e executada em 14 de março de 2018Reprodução / Redes Sociais

Rio - Uma das linhas de investigação da Polícia Federal apura se a morte de Marielle Franco, em 14 de março de 2018, tem relação com uma disputa por terrenos na Zona Oeste do Rio. A informação estaria na suposta delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, preso após ser apontado como o responsável pela execução da vereadora e do motorista Anderson Gomes, que teria delatado Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE), como mandante do crime. 
Em depoimento, Lessa teria informado que Marielle virou alvo depois de defender a ocupação de terrenos por pessoas de baixa renda e que o processo fosse acompanhado por órgãos como o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio e o Núcleo de Terra e Habitação, da Defensoria Pública do Rio.
O mandante do crime estaria buscando a regularização de um condomínio em Jacarepaguá sem considerar o critério de área de interesse social. O objetivo seria transformar a propriedade em especulação imobiliária. A informação sobre a possível motivação é do jornal 'O Globo'.
No ano do assassinato, a hipótese do crime ter acontecido por disputas de terra já era considerada, pois a investigação analisava a possibilidade de milicianos estarem incomodados com a chance de Marielle Franco atrapalhar os negócios ligados à grilagem de terras.
Mandante do crime
Em suposta delação premiada, Ronnie Lessa teria dito que Domingos Brazão deu a ordem para executar Marielle. O conselheiro já havia sido investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio e pela PF por um possível envolvimento nos assassinatos. A principal motivação seria vingança contra Marcelo Freixo, ex-deputado estadual pelo PSOL e atual presidente da Embratur. Porém nada foi provado contra ele até o momento.
Em 2019, a Polícia Federal citou o nome de Brazão no inquérito que apurava a obstrução da investigação sobre o crime, quando o caso ainda estava sob com a Polícia Civil. Em um relatório de cerca de 600 páginas, o delegado Leandro Almada, que atualmente ocupa o cargo de superintendente da PF do Rio, comprovou que houve uma tentativa de obstrução nas investigações.
De acordo com o relatório da PF produzido à época das investigações, o PM Rodrigo Jorge Ferreira teria criado uma versão fantasiosa acerca dos motivos do crime para prejudicar Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, e o vereador Marcello Siciliano (PP). O inquérito foi encerrado em 2019 e o processo contra Brazão foi arquivado.
Dois anos antes de virar alvo no caso Marielle Franco, Brazão chegou a ser afastado de seu cargo no TCE durante a operação Quinto do Ouro, um desdobramento da Lava-Jato que investigava um esquema de corrupção no órgão. Outros quatro conselheiros também perderam a função: José Gomes Graciosa, Marco Antônio Alencar, Aloysio Neves e José Maurício de Lima. Em março de 2023, o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) decidiu a favor do retorno do ex-deputado estadual Domingos Brazão ao conselho do TCE.
Agora, a Polícia Federal aguarda o parecer do ministro Raul Araújo, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que está com a delação de Lessa. Se comprovado que o ex-PM citou Brazão, os investigadores terão que provar o envolvimento de Brazão no duplo homicídio.
Sobre a possível delação de Lessa, a Polícia Federal informou que, até o momento, ocorreu uma única delação na apuração do caso, devidamente homologada pelo Poder Judiciário. Trata-se da delação de Élcio de Queiroz. Ainda segundo a PF, as investigações "seguem em sigilo, sem data prevista para seu encerramento". "A divulgação e repercussão de informações que não condizem com a realidade comprometem o trabalho investigativo e expõem cidadãos", finalizou a PF por meio de nota.
O advogado de Domingos Brazão, Márcio Palma, afirmou não ter conhecimento sobre a delação e que toda sua informação sobre o caso vem da imprensa. Brazão, por sua vez, sempre negou participação no crime em entrevistas anteriores.