Sistema de tecnologia do Instituto Nacional de Câncer (Inca) foi invadido por hackerArmando Paiva / Agência O Dia
Após ataque hacker no Inca, pacientes sofrem para marcar consulta: 'não tem plano B'
Tratamentos no setor de radioterapia estão suspensos temporariamente; coordenador de Assistência do instituto, Gélcio Mendes, afirma que não houve vazamento de dados
Rio - Após o sistema do Instituto Nacional de Câncer (Inca) ser invadido por hacker, o setor de radioterapia ficou suspenso e os pacientes não estão conseguindo marcar novas consultas desde o último sábado (27). Este é o caso de Sueli Veríssimo, de 79 anos, que compareceu ao instituto nesta terça-feira (30), acompanhada de sua filha, Márcia Veríssimo. "Viemos assinar o risco cirúrgico para a operação da minha mãe na pálpebra. Mas não conseguimos marcar o novo exame que ela precisa fazer. Como uma instituição dessa não tem um plano B?", contou Márcia, em entrevista ao DIA.
O Inca teve o sistema de tecnologia invadido no sábado e os programas de segurança interna foram ativados. Diante do cenário, para assegurar o banco de dados, o instituto foi obrigado a desligar todos os computadores. Desde então, a equipe de Tecnologia está concentrada em resolver o problema, trabalhando no processo de recuperação do ambiente e revisando todos os pontos possíveis.
Na manhã desta terça-feira, a massoterapeuta Márcia Farias também levou sua mãe, Maria de Lourdes, de 75 anos, ao Inca para acompanhar o resultado dos exames. "[Maria de Lourdes] é paciente desde 2011 e, agora, está fazendo uma investigação no sangue. Ela fez os exames em dezembro e hoje viemos ver os resultados. Não fomos atendidas, pois nada podia ser visualizado no computador, que está sem sistema", contou Márcia.
O coordenador de Assistência do Inca, Gélcio Mendes, relatou toda a situação. "A partir do sábado de manhã, todos os computadores foram desligados e as operações passaram a ser feitas manualmente: receitas, evoluções dos pacientes e anotações. Nesse momento, o sistema está íntegro e não tivemos vazamento de dados. Todo atendimento ambulatorial está mantido. Nosso maior problema foi no setor de radioterapia, que depende dos computadores", explicou o médico.
"Nós instauramos um Comitê de Crise, onde estão presentes diretores de unidades, coordenadores e equipes da Tecnologia. A Polícia Federal está acompanhando este problema. Esperamos que a radioterapia seja normalizada nesta quarta-feira (31), mas isso é uma expectativa. Neste setor, inclusive, os paciente fazem um tratamento de 20 a 30 dias seguidos. Estamos tendo um atraso de dois dias para cerca de 200 pacientes", finalizou Gélcio.
Ao DIA, a produtora de eventos, Flávia Bauer, de 47 anos, também acompanhou sua mãe, Elmira Bauer, de 80, no Inca. "Ela está fazendo tratamento desde setembro de 2022, quando fez a cirurgia de tumor na boca. Hoje, [Elmira] faz acompanhamento de fonoaudiólogos, fisioterapeutas e odontologia. Viemos às consultas que já estavam marcadas, mas o atendimento médico foi feito manualmente. Tivemos problemas em relação à marcação das próximas consultas. Não deram previsão de regularização", disse.
Em nota, o Inca informou que "todas as consultas já agendadas estão acontecendo normalmente, porém com anotações manuais da evolução do paciente. Somente as marcações de consultas subsequentes não estão sendo realizadas. As internações, cirurgias, quimioterapias e o funcionamento do CTI continuam normais". O instituto ainda afirmou que as outras quatro unidades do INCA continuam funcionando e os agendamentos dos próximos dias estão mantidos.
Por se tratar de um crime cibernético em um órgão governamental, a Polícia Federal afirmou que a "corregedoria irá avaliar se o caso demanda instauração de inquérito".
*Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Iuri Corsini
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.