Casa onde morava a criança com a família em JaperiReginaldo Pimenta/Agência O DIA

Rio - "Foram várias horas debaixo dos escombros, respirando gás. Se tivesse um suporte melhor, talvez ele estaria vivo". O desabafo é de José Carlos Amorim, avô da criança, de 2 anos, que morreu após o desabamento de uma casa, em Japeri, na Baixada, devido às fortes chuvas desta quarta-feira (21). Ainda durante o temporal, outras sete pessoas morreram, uma delas no bairro Chacrinha, no mesmo município, dois homens em Nova Iguaçu e outra vítima em Barra do Piraí, no Sul do estado. Uma pessoa continua desaparecida.
Segundo o familiar, o clique do botijão soltou e formou uma nuvem de fumaça em torno da casa, prejudicando a respiração do menino C. J. V. C, que foi retirado do local com a ajuda de vizinhos. Ele alega ainda que espera pela Defesa Civil do município ocasionou a morte do neto.
"Ligamos para eles, que chegaram 1h30 depois, isso foi 22h/22h30, quando conseguimos resgatar era por volta de 1h. O clique do gás arrebentou e isso aqui ficou uma névoa de gás, essa criança respirou muito gás ali embaixo. Nós pedimos uma máquina, a comunidade está em obra, e não tinha uma ali, foi desgastante", disse.

O avô reforçou que os vizinhos ficaram horas realizando o resgate usando as mãos na tentativa de salvar a criança. Neste meio tempo, a irmã gêmea da vítima também estava na casa, mas conseguiu ser socorrida a tempo.

"Teve gente que chegou aqui 22h, de mochila nas costas, depois de passar horas no trem, e começou a ajudar, na unha. Só tivemos um funcionário da prefeitura aqui até 4h, que não é candidato, eu creio que meu neto estaria vivo se tivesse um resgate maior. Quando a gente retirou ele daqui, ele estava com vida", contou.

José explicou também que o Corpo de Bombeiros chegou no local assim que os vizinhos conseguiram tirar o menino dos escombros. "O bombeiro chegou e fez a reanimação, ele voltou a respirar, mas no caminho do hospital, na ambulância do Samu, ele sofreu outra parada cardíaca, mas eu acho que se a gente tivesse suporte melhor o governo de Japeri talvez ele estivesse vivo. É triste! É doloroso!", lamentou.

Na casa, moravam o menino e a irmã, junto com os pais. No momento do desabamento, a avó da mãe da criança também estava na casa, mas saiu a tempo. O avô, mora mais embaixo, na mesma rua, e também teve o imóvel afetado, uma parede desabou e ele e a família se preparavam para se abrir na casa do filho.

"Com toda a chuva, reunimos a família pra vir pra cá, mas já tínhamos 3 adultos e duas crianças na casa no momento do acontecimento. A casa estava em perfeito estado, tudo aconteceu como uma tragédia natural, não estamos aqui para culpar ‘a, b ou c’, mas estamos aqui para culpar a ineficiência de resgate! A Defesa Civil chegou aqui sem uma pá, sem uma enxada, desesperados, e o povo arrancando com a mão, lama e entulho", contou.

Em relação a irmã gêmea do menino, o avô acredita que ela está viva graças a um milagre. "A menina resgatamos com a lama na metade do corpo, ela só machucou o pé mas tá bem, na glória de Deus! Seriam 10 vítimas aqui dentro. Poderia ser eu, minha esposa, meu filho…", lamentou emocionado.
Um dos vizinhos que presenciou e ajudou no resgate, Marlon da Silva Ramos, também teve a casa atingida por um deslizamento.

"Tive um incidente aqui em casa, mas antes eu presenciei o daqui do lado que teve a fatalidade, mas graças a Deus conseguimos resgatar a avó, o tio, e outra criança que estava soterrada, mas por uma fatalidade ficou a outra criança. Ficamos na luta por três horas tentando, chovendo e nada de Defesa Civil, nada de bombeiros, nada de ninguém aparecer. Foi a gente com nossas forças, orando a Deus. Dizem que a criança faleceu não pela queda mas pelo gás, porque o vazamento estava muito forte", lamentou.

Por sorte, Marlon saiu de casa com a mulher momentos antes do imóvel também ser atingido. "Estourou a parede da cozinha, quebrou meu fogão e os eletrodomésticos. Eu vi os relatos de quando começou a descer devagarinho, minha mulher estava fazendo comida, e foi só a gente sair que desabafou a do lado, quando a gente voltou teve a nossa, mas graças a Deus não aconteceu nada com a gente. A gente ficou na varanda com os portões abertos porque a gente tinha noção que estava descendo, e tiramos todo mundo que beirava o valão", contou.

O caso aconteceu na Rua do Mocambo, no local conhecido como 'Favelinha' em Japeri. Durante a manhã desta quinta (22), os familiares e amigos estiveram próximo a casa. A mãe das crianças, visivelmente abalada, também esteve no local.

O que diz a Prefeitura de Japeri

A Prefeitura de Japeri informou que a Defesa Civil do município esteve no local durante o desabamento e ajudou no resgate das famílias e das crianças. Além de acompanhar a chegada dos bombeiros. Um dos funcionários ainda foi com a família da vítima até a UPA de Queimados.

"O Secretário de Defesa Civil estava no local e foi ele quem entregou o menino para o Corpo de Bombeiros. Durante todo o período de chuvas, outra equipe estava no bairro da Chacrinha com a vítima do outro desabamento. Durante toda a madrugada, a Secretaria de Obras e Serviços Públicos e outros órgãos do governo também estiveram nas ruas, já que foram muitos os episódios e chamados dos moradores", disse em nota.

A Prefeitura informou ainda que está desde as chuvas do dia 13 de janeiro cadastrando famílias em programas sociais, abrigando famílias, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social e Trabalho. No momento, a cidade está com abrigos em escolas. No total, há 21 pessoas desabrigadas.

Só nas últimas 24 horas, o Corpo de Bombeiros foi acionado para 137 ocorrências em todo o Estado. A operação para resposta às chuvas conta com o empenho de 2.400 militares, incluindo bombeiros extras divididos em Grupos de Resposta ao Desastre (GRDs), com apoio de viaturas de salvamento, ambulâncias, barcos de alumínio para socorro a pessoas ilhadas por inundações e alagamentos, drones, aeronaves para busca de vítimas e monitoramento das áreas atingidas, cães farejadores, além de especialistas em resgate em estruturas colapsadas, entre outros recursos.