Moradores de Nova Iguaçu, trabalham para escoar lama após fortes chuvasReginaldo Pimenta

Rio - A chuva que atingiu Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, na noite de quarta-feira (21), causou prejuízo e deu muito trabalho para centenas de moradores. Nos bairros de Vila Avelina, Comendador Soares e Marco Dois, moradores trabalham para escoar a lama de casa, que domina as ruas. O bairro Marco Dois está sem água desde a manhã, complicando ainda mais o trabalho. Uma criança e duas pessoas morreram vítimas dos desastres causados pelas tempestades. Outras três pessoas estão desaparecidas em Japeri, também na Baixada, e em Barra do Piraí, no Sul Fluminense.
Em apenas três horas, o município registrou um volume de chuva maior do que toda a média histórica de fevereiro. Com 140mm, o pico das fortes chuvas aconteceu entre 19h e 21h e causou muitos estragos em diversas regiões.
A costureira Silvanete da Silva, 54 anos, mora com os dois filhos e com o marido no bairro Jardim Alvorada. A família foi surpreendida com a água que invadiu a casa por volta das 20h. A sogra de Silvanete, Maria Auxiliadora, de 78, precisou ser levada nos braços por parentes depois que sua residência, nos fundos do terreno, foi invadida pela água. Ela foi levada para a casa de uma vizinha, mas não conseguiu dormir.
"Estou muito nervosa. Moro aqui há 56 anos. Apenas há 15 anos houve uma enchente parecida, mas não chegou a encher a rua", contou Maria Auxiliadora. Oito parentes que trabalham como mototaxistas e motoristas de aplicativo chegaram cedo, às 5h, para trabalhar no escoamento da água e da lama no terreno e na casa.
"Foi tudo perdido: guarda-roupa novo, sofá, geladeira", lamenta Silvanete. A casa dela foi inundada há quase um ano, em fevereiro de 2023, mas até hoje ela não conseguiu obter o cartão Recomeçar, de auxílio do governo. "Muita burocracia. Disseram que viriam visitar e nunca vieram", completou.
Morador do bairro Vila Avelina, Charles Vieira, 38, está de mudança. Ele e a família foram afetados pela tempestade de 14 de janeiro deste ano e ainda estavam com parte de móveis separados no quintal para descarte, quando foram atingidos novamente nesta quarta.
"Agora a água terminou de levar tudo. Fogão, geladeira e móveis", lamentou. O quintal foi tomado por lama e móveis foram colocados para o lado de fora. O salão de beleza da mulher, Graziele Vieira, também foi invadido pela água. O pai de Charles, com Alzheimer, foi retirado da casa onde o casal mora com os quatro filhos.
"Nunca pedimos auxílio do governo, mas em janeiro pedimos. Disseram que fariam uma visita, mas não recebemos nem um telefonema. É um descaso muito grande", criticou Charles.
A pensionista Rosilda Ribeiro, de 55 anos, mora desde 2009 no Marco Dois e teve a residência atingida novamente pela enchente. "Da última vez, perdi tudo. Até pedaço do teto caiu", lembra. Desta vez, ela não perdeu bens, mas teve seu lar tomado pela lama. Muito nervosa, ela virou a noite trabalhando para retirar os dejetos do local.
O mesmo aconteceu com a advogada Patrícia Silva, de 53 anos. Ela e os dois filhos moram desde 2001 no bairro. Com a inundação, todo o primeiro andar da casa foi invadido. No escritório, onde trabalha, documentos de trabalho foram molhados.
"Viramos a noite tentando escoar a água e a lama. Subimos com os móveis. Fazem tanta obra, mas sem eficácia. Essa situação é constante. A gente fica muito indignada porque não temos o que fazer. Só vemos a água entrando", desabafou.
Procurada pela questão da falta d'água no bairro Marco Dois, a Águas do Rio informou que o sistema de distribuição está em processo de normalização gradativa na Baixada, após a redução na produção de água tratada no Sistema Guandu, administrado pela Cedae.
"A concessionária esclarece que, após as fortes chuvas, está apoiando a Prefeitura de Nova Iguaçu, disponibilizando carros-pipas e equipes operacionais para auxiliar na limpeza de casas e vias públicas impactadas", comunicou a Águas do Rio.