O sepultamento ocorreu na manhã deste sábado (24)Lucas Cardoso/Agência O Dia

Rio - O sentimento de dor e revolta marcou a despedida da pastora Marta Gomes, de 43 anos, no Cemitério do Pechincha, Zona Oeste do Rio, no fim da manhã deste sábado (24). Mãe de sete filhos, ela morreu após ter sido atingida duas vezes na porta de casa na Gardênia Azul, durante um confronto entre milicianos e PMs, na última quinta-feira (22). Segundo relatos de familiares, Marta era conhecida como uma pessoa gentil e sempre engajada nas ações sociais da comunidade.
"A Marta era uma pessoa incrível, membro da nossa igreja, ajudava todos sempre que possível. Infelizmente, mais uma vítima dessa violência. Vai fazer muita falta. Perda irreparável tanto para a igreja quanto para o bairro. Ela vivia falando de Deus, aconselhando as pessoas para o bem. Sempre queria o melhor para as pessoas", comentou o pastor auxiliar da igreja evangélica que Marta frequentava, Agnaldo Santos. 
O líder da igreja conta que ela já estava com tudo pronto para se mudar da comunidade, justamente pelo medo da crescente violência. O sepultamento de Marta foi acompanhado por cerca de 100 pessoas. "Ia se mudar no dia seguinte, já estava inclusive com tudo arrumado. A família está destroçada com essa perda. Todos arrasados com isso. O esposo, os filhos, todo mundo sem acreditar", disse o líder, que chegou a receber pedido de orações do companheiro de Marta logo assim que ela foi baleada. 
"É um negócio que não dá para acreditar, infelizmente. Somos vítimas de tudo isso. Cadê as autoridades para fazer algo pela gente? Talvez se fosse a esposa de um governador, de um prefeito, mas não é", questionou o pastor. 
Em conversa com a reportagem, membros da igreja que Marta frequentava explicaram que ela exercia um papel importante, à frente de ações sociais, distribuição de comida e outras atividades promovidas pela congregação na localidade do Marcão.
Marta era uma pastora evangélica e conhecida na região - Reprodução
Marta era uma pastora evangélica e conhecida na regiãoReprodução
"Queremos que seja feita justiça por ela. Queremos que essa situação mude e que ninguém mais tenha que chorar como a família dela. Vimos a filha dela pedindo para ir junto com ela. Isso não deveria acontecer", comentou uma amiga da vítima, que preferiu não se identificar.
Marta deixa sete filhos. Ela e o companheiro haviam oficializado seu casamento há poucos meses no civil.
Clima de guerra
A comunidade da Gardênia Azul tem sido alvo constante da guerra entre traficantes e milicianos. Desde o início do ano, o número de trocas de tiros e confrontos na localidade se intensificou, com quase um registro por dia.
Na noite de quinta-feira (22), por volta das 22h, Marta voltava do mercado com sua filha quando foi atingida. O confronto teria começado quando milicianos dispararam contra uma viatura que patrulhava a localidade conhecida como Marcão. A pastora chegou a ser socorrida para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas não resistiu. 
O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).