Desfile na Estrada Intendente Magalhães reúne dezenas de escolas das séries Prata, Bronze e Grupo de AvaliaçãoDivulgação
Agremiações enfrentam dificuldades para desfilar na Intendente Magalhães
Garras do Tigre não conseguiu se apresentar por falta de contingente mínimo de 400 integrantes
Rio - "A força de vontade para apresentar um excelente trabalho supera todos os desafios". A frase é de Washington Martins, de 62 anos, presidente da escola Garras do Tigre, do Grupo de Avaliação, que não conseguiu desfilar na Estrada Intendente Magalhães, na Zona Norte, no Carnaval deste ano. O amor ao carnaval virou cinzas com a falta de incentivo fiscal, melhor estrutura para os barracões e visibilidade, as principais reivindicações das agremiações que passam bem longe do glamour da Sapucaí.
Na noite do dia 11 de fevereiro, a Garras do Tigre estava com tudo pronto para desfilar. Os condutores das alegorias e os integrantes fantasiados contavam as horas para entrar na Intendente Magalhães, no coração dos bairros de Campinho e Oswaldo Cruz. No entanto, existe uma regra que determina o número mínimo de 400 pessoas por escola para entrar na estrada. "Chegamos com umas duzentas pessoas lá", disse Washington ao DIA.
"Temos que ter conduções que levem nosso grupo para a Intendente de Magalhães. Mas cada ônibus custa cerca de R$ 1.500. Para nossa escola pequena, que precisava locomover o contingente determinado pelas ligas, teriam que ser oito ônibus. Tínhamos uma das nossas melhores apresentações em mãos, com materiais lindos, recicláveis, fantasias e beleza, mas não desfilamos", disse Martins.
Por não desfilar, a Garras do Tigre sofreu uma punição e só vai poder voltar à Intendente de Magalhães em 2027. "Nós não paramos por aqui. Somos pessoas forte e com garras, como diz o nome da escola. Com certeza, teremos o contingente desfilando em 2027", enfatiza.
O presidente da Superliga Carnavalesca do Brasil, que organiza as séries Prata, Bronze e Grupo de Avaliação, Pedro Silva, relatou as dificuldades do Carnaval. "Fazer desfile na Intendente é mais difícil. Não só pela questão financeira, mas de infraestrutura também. Neste ano, o incentivo público melhorou, pois tivemos aporte da Riotur, da prefeitura, e da Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio (Funarj), do governo, mas chegaram muito em cima da hora", disse.
Ao DIA, Pedro Silva explicou sobre o financiamento do Grupo de Avaliação, que a Garras do Tigre faz parte: "Eles não recebem incentivo público e, por isso, as escolas fazem seus carnavais por conta própria. No entanto, esse ano, eles conseguiram um incentivo da Funarj. O Garras do Tigre, por exemplo, teve um problema de contingente: chegaram a se posicionar, mas não tinham número mínimo. Então, não receberam o dinheiro".
Além da Garras do Tigre, a Unidos de São Cristóvão também não desfilou. "Sempre quando tem algum ponto a ser definido, convocamos uma Assembleia Extraordinária com os presidentes, que votam para a resolução do tema. No caso da São Cristóvão, não sabemos os motivos reais. Como a escola recebeu incentivo do erário público, ela precisa prestar contas desses valores", explicou Pedro Silva.
"A gente encontra muita dificuldade, pois o 'Carnaval de Base' é menos assistido, além da questão financeira e estrutural. Não tem o glamour e nem a atenção destinada à Marquês de Sapucaí. Entretanto, por ser um grupo de acesso, a gente entende, mas reivindica algumas melhorias para crescer o espetáculo", completa.
Procuradas, a Riotur não se posicionou até o momento. A reportagem também tenta contato com a Unidos de São Cristóvão, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.
Em nota, o Governo do Rio informou que realizou o maior investimento da história do Carnaval. Sobre as escolas que desfilam na Intendente Magalhães, o Estado destinou R$ 50 mil para todas a 86 agremiações que pertencem à Superliga (Séries Prata e Bronze), escolas independentes e mirins, totalizando R$ 4,3 milhões.
"Todas as medidas visam fortalecer a economia estadual, dando a oportunidade para a geração de empregos, renda e atração turística para as escolas e os fazedores de cultura de todo o estado", comunicou o governo.
"Tudo nosso é feito em Nova Iguaçu. O barracão desse ano foi em uma casa minha. Alguns profissionais que confeccionam os materiais não nos cobram, devido ao sentimento de amor pela escola. Temos que ter algum recurso: que seja mínimo, mas já ajuda", finaliza Washington Martins.
Campeãs da Intendente de Magalhães
Tradição e Botafogo Samba Clube venceram seus dias de desfiles na Intendente e conquistaram o título da Série Prata, subindo para a Série Ouro. O anúncio aconteceu no último dia 20. Ambas as agremiações vão desfilar no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Carnaval de 2025.
A Império de Nova Iguaçu e o Boi da Ilha do Governador foram as escolas campeãs da Série Bronze e garantiram o acesso para a Série Prata. Alegria do Vilar e Chatuba de Mesquita também venceram.
Com enredo "Criança Brasil: Um sonho, uma esperança", a Unidos da Vila Kennedy se tornou a grande campeã do Grupo de Avaliação, com 178.3 pontos e subiu para a Série Bronze. A escola empatou com a Acadêmicos do Recreio, que também teve o acesso confirmado, mas ganhou o título pela nota da bateria, escolhida como quesito desempate.
*Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Iuri Corsini
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