O mosquito Culicoides paraensis é um dos transmissores da febre OropoucheiStock

Rio - O Estado do Rio registrou, nesta quinta-feira (29), o primeiro caso de febre Oropouche. O paciente é um homem, de 42 anos, morador do Humaitá, na Zona Sul, que tem um histórico de viagens ao Amazonas, estado que teve mais de 1.300 confirmações neste ano.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), a suspeita foi confirmada por exames no laboratório do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O órgão considera o caso como "importado" e não de circulação doméstica do vírus, cenário em que a transmissão acontece entre pessoas do mesmo território. A investigação segue sendo realizada pela equipe de Vigilância em Saúde do município do Rio.
"O Centro de Inteligência em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde segue acompanhando a investigação sobre o caso; neste momento, é importante que pessoas que tenham viajado para região Norte do país recentemente e apresentem sintomas, que são muito parecidos com os da dengue, relatem a informação no primeiro atendimento médico, contribuindo assim para um diagnóstico mais preciso e o tratamento adequado", alertou Claudia Mello, secretária de estado de Saúde.

A febre Oropouche é uma doença causada por um arbovírus do gênero Orthobunyavirus, da família Peribunyaviridae. A transmissão acontece por mosquitos, sobretudo pelo Culicoides paraensis e pelo Culex quinquefasciatus, conhecidos popularmente como maruim.
De acordo com a Fiocruz, tais mosquitos são mais comuns em estados do Norte do país, principalmente na Amazônia, onde teve registro de mais de 1300 confirmações somente neste ano. Em 2023 todo, houve apenas 773 casos no país. O vírus oropochue (Orov) vem registrando surtos no Brasil desde a década de 1970. Os primeiros registros do atual surto de oropouche no Brasil foram feitos em 2022 pelo Laboratório Central de Roraima. Na sequência, vieram registros no Amazonas, em Rondônia e no Acre. Nos últimos 70 anos, pelo menos 30 surtos humanos foram relatados em países latino-americanos (Peru, Colômbia, Guiana Francesa e Panamá).
Os sintomas, muito parecidos com os da dengue, duram entre dois e sete dias e incluem febre de início súbito, dor de cabeça intensa, dor nas costas e lombar e dor articular. Também pode haver tosse, tontura, dor atrás dos olhos, erupções cutâneas, calafrios, fotofobia, náuseas e vômitos.
Segundo o Ministério da Saúde, não existe tratamento específico. Os pacientes devem permanecer em repouso, com tratamento sintomático e acompanhamento médico.
O Ministério ainda recomenda que, se possível, as pessoas evitem áreas onde há mosquitos, usem roupas que cubram a maior parte do corpo, apliquem repelentes e limpem a casa removendo possíveis criadouros de mosquitos.
Preocupação
Ao DIA, o infectologista Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), disse que há uma preocupação sobre a possibilidade da introdução de um novo vírus no Estado do Rio ao mesmo tempo de um aumento nos casos de dengue. Segundo o especialista, é necessária uma investigação maior sobre os casos para poder diferenciá-los, pois ambas as doenças possuem os mesmos sintomas.
"A preocupação é você ter mais uma arbovirose circulando aqui no Rio. Nesse momento, o que a gente tem é um caso importado, um paciente que pegou a doença no Amazonas e na investigação confirmou que era oropouche. A preocupação é porque você pode introduzir e já deve ter outros pacientes na mesma situação, que foram para o Amazonas onde tem um surto, e passaram despercebidos, podendo inclusive terem sido diagnosticados como dengue, pois os sintomas são muito semelhantes. A preocupação é você ter a introdução de um outro vírus na cidade do Rio com os outros arbovírus que já estão. Vamos ter que aumentar a vigilância laboratorial nesses casos suspeitos de dengue, pois vai ter que passar a fazer uma investigação para outros vírus como oroupouche, dentro de casos que deram negativos para dengue, para avaliar se está tendo um surto aqui no Rio", comentou.
Chebabo ainda disse que, além do maruim, o pernilongo também pode transmitir o vírus. "O primeiro é mais difícil de você encontrar em área urbana. Ele vive mais em área de mato, mas o Culex é um mosquito que a gente tem no Rio, o pernilongo. A gente ainda não sabe se ele está adaptado para transmissão desse vírus. Isso é uma coisa que a Fiocruz está estudando. Para a população nesse momento a recomendação é a mesma: cuidar dos criadouros", completou.
A infectologista Tânia Vergara, membro da diretora da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro, destacou que no momento não há uma expectativa de se desencadear uma epidemia no Rio, mas a preocupação é válida, pois há o mosquito transmissor circulando no estado.
"Os sintomas são bem parecidos com os da dengue e da chikungunya: dor de cabeça, dor muscular, dor nas articulações, enjoo e diarreia. É importante procurar atendimento médico e que este profissional esteja atento, não só para os aspectos clínicos, mas também epidemiológicos. O diagnóstico laboratorial deve ser feito. As ações de prevenção e controle são as mesmas que recomendamos para dengue e chikungunya. Não há medicamentos específicos e o tratamento será voltado para o controle dos sinais e sintomas", disse.
Mortos por dengue no estado
O número de mortes por dengue no Estado do Rio subiu para 10 nesta quarta-feira (28). O caso mais recente foi registrado em Resende, no Sul Fluminense, que contabiliza dois óbitos pela doença. As informações estão disponíveis no painel de monitoramento da SES. 
O Governo do Rio decretou epidemia da dengue no último dia 21, devido ao número de casos registrado ser 20 vezes acima o esperado. Até terça-feira (27) haviam sido registradas nove mortes, sendo duas na capital, uma em Volta Redonda, um em Itatiaia, um em Mangaratiba, um em Cachoeiras de Macacu, um em Três Rios, e outro em Resende.
Os sintomas mais comuns da dengue são febre, dor muscular, dor de cabeça, náusea e dor nas costas. Entre as recomendações gerais para eliminação dos criadouros do mosquito que transmite a dengue, a secretaria listou a eliminação de pratos de plantas ou o uso de um prato justo ao vaso, que não permita acúmulo de água; o descarte de pneus usados em postos de coleta da prefeitura; a retirada dos quintais de objetos como potes e garrafas, que acumulam água; verificação de possíveis vazamentos em qualquer fonte de água; tampar ralos; manter o vaso sanitário sempre fechado; identificar sinais de umidade em calhas e lajes; verificar a presença de organismos vivos na água de piscinas ou fontes ornamentais.