Morro da Mangueira, na Zona Norte do Rio, foi o local escolhido para a fuga dos criminososArquivo / O Dia

Rio - Os criminosos envolvidos na troca de tiros com policiais militares no dia em que o estudante Matheus Cardoso Martins Passos foi baleado, em fevereiro, fugiram para a comunidade da Mangueira, na Zona Norte do Rio. O jovem morreu na terça-feira (5) após ficar 12 dias internado no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio.
A investigação está sendo conduzida pela 18ª DP (Praça da Bandeira). Ao DIA, o delegado Sandro Caldeira disse que os agentes tiveram acesso ao laudo pericial e a algumas imagens de câmeras de segurança da região. Novas gravações foram recebidas nesta quinta-feira (7) e seguem sendo analisadas para identificar o grupo envolvido no confronto.
"O que é mais importante para a gente é a questão das imagens do local. O laudo pericial em si não fala efetivamente do direcionamento dos projéteis. Conseguimos mais imagens hoje. É uma quantidade grande, mas estão em análise ainda", afirmou.
Até o momento, há a comprovação que o carro e a moto utilizados pelos criminosos entraram na Mangueira em fuga. No dia em que o jovem foi baleado, a Polícia Militar informou que o confronto começou quando os agentes do 6º BPM (Tijuca) decidiram abordar veículos com ocupantes "em atitude suspeita". Os criminosos teriam começado a atirar nos policiais na Rua General Canabarro, próximo à Avenida Maracanã, umas das vias mais movimentadas do bairro.
De acordo com Caldeira, aparentemente, os tiros que acertaram Matheus e o seu amigo, identificado como Henrique Roberto, não partiram dos PMs. As armas foram apreendidas e a hipótese não foi descartada, mas a investigação até o momento lida com os disparos vindo dos suspeitos.
"O laudo constata os disparos de arma de fogo na moto. Como foram tiros feitos a esmo pelos autores, não foi recolhido nenhum tipo de cápsula no local ou estojo. A perícia é descritiva. Ela efetivamente não traz a identificação. Por isso, estamos buscando as imagens. Aparentemente, o tiro não partiu deles (PMs). Não tem como descartar isso 100% porque a gente precisa de mais elementos ainda. Isso está em apuração. A gente precisa entender o contexto geral para não ser leviano em falar uma coisa ou outra. A gente está em apuração, mas em um primeiro momento tudo leva a crer que não partiu deles não", completou.
Os agentes pretendem colher o depoimento de Henrique, que sobreviveu ao disparo e já recebeu alta do Souza Aguiar, no início da próxima semana.
Relembre o caso
Matheus e Henrique, dois estudantes do campus Maracanã do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet), estavam em um bar quando foram baleados, no dia 22 de fevereiro. Um policial também foi atingido, mas o projétil fixou no colete balístico.
Ambos os alunos foram socorridos e encaminhados, pela própria equipe da PM, ao Souza Aguiar. Matheus passou por cirurgias e ficou internado na unidade até esta terça-feira (5), dia de sua morte. O jovem era estudante do curso técnico subsequente em Administração e foi enterrado nesta quarta-feira (6).
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) do Cefet lamentou a morte de Matheus. O grupo pediu Justiça e melhorias na segurança da região para evitar que novos casos aconteçam. Um desses pedidos, inclusive, contou com a assinatura de 600 pessoas em um abaixo assinado feito no ano passado. 
O Direção-Geral do Cefet também se pronunciou sobre o falecimento e desejou sentimentos à família do aluno. "A Direção-Geral lamenta profundamente esta fatalidade e, neste momento de perda e dor, transmite os mais sinceros sentimentos de pesar aos familiares, amigos e colegas", disse o órgão.
Confira a nota do DCE do Cefet
"É com profundo pesar e tristeza que o DCE do CEFET/RJ vem por meio dessa nota comunicar a todos os estudantes e funcionários, o falecimento do aluno Matheus Cardoso Martins Passos, que foi baleado durante uma perseguição policial nos arredores da instituição, no dia 22/02, enquanto voltava da sua aula.
Matheus era estudante do técnico subsequente de Administração, que assim como todo nós, tinha sonhos, vontade de se formar e se tornar um profissional competente. Não conseguimos mensurar a dor de toda sua família e amigos, que acompanharam sua linda trajetória.
A vida dos jovens do Rio de Janeiro segue sendo interrompida. É um absurdo que o CEFET e o governo do estado não consigam garantir a nossa segurança, nos tirando o direito de ir e vir da nossa universidade. Exigimos justiça pela vida de Matheus e de todos os outros estudantes que perderam sua vida em decorrência da violência no nosso estado. Não podemos descansar enquanto isso for uma realidade! É cada vez mais evidente que os os estudantes, em especial os negros e periféricos, estão em constante estado de insegurança.
O DCE está em contato com os familiares e se coloca presente para ajudar a família de Matheus no que for preciso. Juntos somos mais fortes!