Nas imagens, o entregador levanta a camisa para mostrar que não estava armadoReprodução

Rio - A defesa do entregador Nilton Ramon de Oliveira, que foi baleado na coxa pelo cabo da polícia militar Roy Martins Cavalcanti durante uma discussão, na segunda-feira passada (4), entrou com uma ação no Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) pedindo a prisão preventiva do atirador, além da apreensão da arma de fogo.

A informação foi confirmada pela advogada Anelise Assumpção, fornecida pela plataforma Ifood, que está acompanhando a vítima e seus familiares.

"Foi requerido que o MP peça a prisão preventiva do suspeito com fundamento na garantia da ordem pública e na conveniência da instrução penal, tendo em vista se tratar de policial militar, portador de arma de fogo e, nessa condição, possuidor de amplos meios para constranger testemunhas, destruir provas e obstruir a investigação criminal, assim como foi solicitado que o órgão requeira ao juízo competente a busca e apreensão da arma de fogo usada para praticar o crime", disse Anelise.

Segundo Anelise, houve possíveis falhas nas investigações. A título de exemplo, ela alegou que o policial, ao se apresentar à delegacia para prestar esclarecimentos, deveria ter sido preso em flagrante e passado por um exame de corpo e delito.

A advogada reforçou que "a arma do crime não foi nem sequer apreendida" e, por isso, toda a perícia que deveria ter sido feita não foi realizada". O revólver chegou a ser confiscado, mas logo devolvido ao PM.

Nilton está internado no hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, há uma semana. Nesse período, ele passou por duas cirurgias e atualmente está em estado estável. 

Medo e insônia

Ainda de acordo com Anelise, Nilton relatou estar sem conseguir dormir por causa do medo de possíveis represálias contra ele e sua família. O receio deve-se a uma declaração de seu cunhado, Luiz Carlos, que mencionou que policiais militares estariam rondando a unidade de saúde onde Nilton está internado a fim de intimidar a família do entregador.

A advogada de defesa pediu que o motoboy e sua família fossem incluídos no programa de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas - o chamado PROVITA. O requerimento foi recusado porque Luiz Carlos não teria conseguido provar que estava sendo ameaçado. Diante da recusa, Anelise entrou com um nova ação junto ao MPRJ solicitando o Provita.

Entenda o caso
O caso ocorreu quando Nilton fazia entregas de bicicleta. Seguindo as normas da plataforma, Nilton se negou a entrar no condomínio onde o policial mora, na Vila Valqueire, Zona Oeste do Rio, para entregar o pedido. Como o cliente também se recusou a encontrar Nilton na portaria, ele então retornou ao estabelecimento. Minutos depois, o PM foi até o estabelecimento armado.

O entregador filmou os momentos antes de ser baleado, em que o PM já aparece com a arma na cintura. "Não tô armado, sou trabalhador. Estou sendo ameaçado, ele está querendo me agredir, mostrou a arma na minha cara. Tira a arma e faz na mão", disse Nilton.

Já o agente alegou que o entregador foi mal educado com sua mulher, que teria feito o pedido. "Trabalhador o caral****, minha mulher te tratou com maior educação, vai tomar no seu **. Seja educado, não se propõe a fazer entrega? Então seja educado, minha mulher tem 42 anos e te respondeu na maior educação", falou.

Após ser baleado, o PM teria prestado os primeiros socorros e ido embora em seguida. O Corpo de Bombeiros foi acionado e encaminhou a vítima à unidade de saúde.

Segundo a Polícia Civil, imagens do fato estão sendo analisadas e testemunhas estão sendo ouvidas. O caso foi encaminhado para a 28ª DP (Praça Seca). Investigações estão em andamento para esclarecer os fatos. A Corregedoria-Geral da PM também acompanha o caso.