Chiquinho e Domingos Brazão, além de Rivaldo Barbosa, são acusados de mandar assassinar Marielle Franco Câmara dos Deputados / Agência O Dia / Agência Brasil

Rio - A Anistia Internacional Brasil se manifestou, neste domingo (24), após a prisão dos três acusados de serem os mandantes do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. "É alarmante que o processo tenha apontado três ex-agentes de segurança como executores do crime, e outros três agentes públicos como mandantes", afirmou a organização. A Polícia Federal prendeu, neste domingo, o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil, Domingos Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, e Chiquinho Brazão (União Brasil), deputado federal do Rio. Os ex-policiais Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa, além do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, apontados como executores, já haviam sido presos.
"Consideramos que as prisões representam um importante avanço, mas não significam justiça. Informações apuradas pelas autoridades sugerem que o crime poderia estar ligado aos interesses de expansão das milícias no Rio. Temos reiterado, continuamente, que cada dia de impunidade coloca em risco a vida de todas aquelas e aqueles que se comprometem com a defesa dos direitos humanos no Brasil. Embora Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa tenham sido presos preventivamente em 2019, apenas no fim do primeiro trimestre de 2024, as investigações foram capazes de apontar à sociedade uma conclusão sobre os mandantes". informou a Anistia.
Neste domingo, a operação Murder Inc., das polícias Civil e Federal, Ministério Público do Rio (MPRJ) e Procuradoria Geral da República (PGR), teve como alvos os autores intelectuais do crime de homicídio. Além dos três mandados de prisão preventiva, os agentes também cumpriram 12 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Três acusados foram presos
Três acusados de serem os mandantes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes foram presos, na manhã deste domingo, em uma operação conjunta. Domingos e Chiquinho Brazão, além de Rivaldo Barbosa, foram os alvos da operação Murder Inc..
Em entrevista à 'Globonews', da TV Globo, a mãe de Marielle Franco, Marinete da Silva, disse que a prisão de Rivaldo Barbosa, acusado de receber propina para tentar obstruir as investigações do assassinato, foi uma "surpresa". "A maior surpresa nisso tudo é o nome do Rivaldo, pois minha filha confiava nele e no trabalho dele. Ele falava que era uma questão de honra elucidar o caso. Um domingo para fazer justiça", afirmou Marinete.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também comentou sobre as prisões. "Temos uma sensação de vitória, mas ainda não acabou. Para a gente, tendo uma surpresa com o nome do Rivaldo, vem como uma prorrogação, quando ainda tem jogo, o juiz não apitou e temos que esperar", disse a irmã de Marielle, ao programa 'Conexão Globonews'.
Nas redes sociais, o ex-deputado e atual presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo (PT), afirmou que conversou com Barbosa quando soube do assassinato. "Foi para Rivaldo Barbosa que liguei quando soube do assassinato da Marielle e Anderson. Ele era chefe da Polícia Civil e recebeu as famílias no dia seguinte, junto comigo. Agora, Rivaldo está preso por ter atuado para proteger os mandantes do crime, impedindo que as investigações avançassem", escreveu Freixo.
Domingos Brazão, Chiquinho Brazão e Rivaldo Barbosa
Os irmãos Domingos Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio e Chiquinho Brazão, deputado federal do Rio de Janeiro, foram presos acusados de serem os mandantes do crime na operação Murder Inc.
Já Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil do Rio, assumiu a função um dia antes do assassinato de Marielle, em 13 de março de 2018, e foi preso acusado de tentar obstruir as investigações do assassinato. Antes disso, ele era coordenador da Divisão de Homicídios da Polícia Civil.

Em novembro de 2019, a Polícia Federal afirmou, em relatório reservado ao MP-RJ, que o delegado Rivaldo Barbosa deveria ser investigado por suspeita de ter recebido propina de R$ 400 mil para evitar que fossem conhecidos os reais mandantes dos assassinatos.
Relembre o caso
Preso desde 2019, o ex-policial militar Ronnie Lessa, autor dos disparos que mataram a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, citou o nome do deputado federal Chiquinho Brazão e do irmão, Domingos Brazão, em sua delação premiada, homologada nesta terça-feira (19), pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Uma das principais linhas de investigação sobre o caso está relacionada a uma disputa por terrenos na Zona Oeste. Em depoimento, Lessa teria informado que Marielle virou alvo depois de defender a ocupação de terrenos por pessoas de baixa renda e que o processo fosse acompanhado por órgãos, como o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio e o Núcleo de Terra e Habitação, da Defensoria Pública do Rio.
De acordo com as investigações, o mandante do crime que deu fim a vida de Marielle e Anderson estaria buscando a regularização de um condomínio em Jacarepaguá sem considerar o critério de área de interesse social. O objetivo seria transformar a propriedade em especulação imobiliária.
Seis anos após a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes as investigações do caso seguem em andamento para descobrir o mandante e a motivação para os assassinatos. No início do mês, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da Força-Tarefa do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado para o caso Marielle Franco e Anderson Gomes (Gaeco/FTMA), pediu à Justiça que o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, seja julgado por júri popular.
Os investigadores apontam que Suel participou do plano do assassinato e monitorou a rotina da vereadora, além de ter ajudado os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, atirador e motorista respectivamente, no desmanche do carro usado na emboscada e do sumiço das cápsulas da munição. Lessa e Queiroz também vão a júri popular.