Os irmãos botafoguenses Giani, Giovani e Gilberto torcendo juntos com o pai Giovani José Simão Acervo pessoal

A paixão pelo futebol vai muito além das quatro linhas do campo. Não é apenas um esporte. Para muitas famílias, é uma tradição enraizada que se estende por gerações. E campeonatos como o Brasileirão mantêm vivo o sentimento e o elo familiar.
Como é o caso da família de José Carlos Oliveira, de 53 anos, torcedor apaixonado pelo Vasco. Desde a infância, José frequenta os estádios com o pai e agora compartilha com o filho, Adriano, não apenas o amor pelo clube, mas também momentos memoráveis.
"Desde que nasci, sou vascaíno. Quando eu era criança, meu pai me levava a São Januário para ver os jogos. Quando eu era adolescente, ia com o meu padrinho para os jogos, torcer com os meus primos e amigos de infância", lembra.
As experiências com o Cruzmaltino moldaram sua paixão pelo esporte como uma tradição. "Eu e meu filho procuramos sempre ver os jogos juntos", acrescenta.
Mesmo diante de desafios e momentos difíceis, o torcedor ressalta que o sentimento pelo clube sempre prevalece. "Sempre apoiamos nos momentos mais difíceis. Nós, vascaínos, falamos para os nossos rivais que nunca entenderam o nosso amor pelo Clube de Regatas Vasco da Gama, a torcida mais apaixonada disparada do Brasil. Sempre pensamos no título, lógico, espero que os jogadores do Vasco joguem para a torcida com muita disposição", destaca.
Sérgio Moreira, de 60 anos, é rubro-negro e tem uma ligação especial com o Flamengo, um time que sua família apoia há décadas. Para ele, sua família teve um papel crucial na sua relação com o Flamengo. "Meu pai se chamava Antônio Moreira, era flamenguista doente e minha mãe, Marísia, também era flamenguista, mas eu ia muito aos jogos com meu tio, Fernando Moreira, ele me levava pro Maracanã desde 1972", relata, emocionado.
"Eu torço pro Flamengo desde quando eu nasci, em 1964. Aos 10 anos, vi o título do Flamengo em 1974. Meu filho, que se chama Adriano, também é apaixonado pelo time, já chegou a fazer parte do time de futsal do Flamengo", conta.
O torcedor relembra o jogo em que o Flamengo goleou o River Plate e conquistou a Libertadores, em 2019. Para ele e a família, foi uma partida inesquecível: "Estava a família toda, sobrinho, irmãs, mãe, juntos vendo o jogo em um salão no condomínio onde moro. E quando o Gabigol fez o gol, foi uma choradeira e uma loucura! Aquilo foi muito marcante e vai ficar marcado para o resto da vida".
Além das disputas em campo, a relação ultrapassa o estádio. É uma vivência que Viviane Rocha herdou dos avós e do pai o amor pelo Fluminense. "Sou Fluminense com muito amor e torcedora desde que nasci", ressalta Viviane.
Ela descreve com orgulho o amor que está presente em sua família. "É uma paixão de família, onde passou de geração para geração. Meus avós eram tricolores, meu pai é tricolor, meus filhos são tricolores e meu marido se tornou tricolor por conta desse amor ao Fluminense. Aqui na minha casa, todos nós torcemos pelo melhor para o Fluminense", diz. 
No entanto, há uma exceção: sua mãe, que mudou de time e agora torce para o Flamengo. "Ela tentou de todas as formas convencer meus filhos a torcerem para o Flamengo, mas não obteve sucesso, pois eles nasceram já amando o Fluminense", enfatizou a tricolor.
A mudança de time do marido de Viviane também é um reflexo desse amor compartilhado. "Meu esposo era vascaíno, virou Fluminense por conta do nosso amor e por estar sempre junto e reunido com a gente torcendo para o Fluminense."
Os momentos de união em torno do futebol se tornam especiais para a família, que sempre se reúne na casa do pai, Victorino Barbosa, de 68 anos, para assistir aos jogos e torcer pelo Fluzão. Eles fazem da partida um grande evento usando camisas do time, boné e preparam até churrasco, como na partida em que o clube conquistou a Libertadores, no ano passado.
"É sempre um evento quando nos reunimos na casa do meu pai para assistir aos jogos. Fazemos churrasco, é um momento único, pois através do nosso amor pelo Fluminense podemos realizar o sonho do meu pai e dos meus filhos de conhecer o Maracanã e torcer pelo nosso time de coração. Neste ano, a expectativa é a do Fluminense ser campeão, meu filho torce muito para poder ver o nosso time ganhar mais uma vez esse título, iremos acompanhar e torcer a cada jogo, sempre reunidos em família e na casa do meu pai", afirma, empolgada, a tricolor.
"Toda minha paixão pelo Fluminense vem de berço, pois meus pais eram torcedores do Fluminense. Para minha felicidade, consegui passar esse amor para minha família. A cada jogo, a cada vitória, a cada conquista de campeonato, esse amor só se faz crescer; meus filhos e meus netos são também responsáveis por tanto amor e paixão pelo time. Sempre que tem jogo importante para o Fluminense, lá estamos nós reunidos, é muita união na torcida", comenta, emocionado, o tricolor Victorino Barbosa.
No universo botafoguense, a família Simão é um exemplo de devoção ao clube. A jornalista Giani Mantini Simão, junto com seus irmãos, Giovani e Gilberto Simão, já nasceram botafoguenses e foram apresentados ao mundo alvinegro pelo pai, Giovani José Simão. "Não escolhemos ser botafoguenses, fomos escolhidos! É algo difícil de explicar. Não há palavras para descrever a devoção ao Botafogo. É um amor sem limites", expressa Giovani Simão, filho de um apaixonado pelo futebol.
Para Gilberto Simão, todo botafoguense é um tanto supersticioso. "Sou botafoguense desde a barriga da minha mãe. Tenho uma relação de amor com o Botafogo; com ele, eu consigo esquecer dos problemas que a vida nos dá, só sinto felicidade. Se algo dá certo em algum jogo, seguimos o mesmo ritual para todos os outros, como usar o boné do dia da vitória, vestir a mesma camisa ou assistir ao jogo no mesmo lugar, seja em casa ou no estádio", compartilha o torcedor.
Entre as lembranças mais marcantes da família estão a celebração do título de 1995 e a experiência de ver o Maracanã tomado por torcedores botafoguenses. No entanto, são os momentos no estádio com o pai que permanecem como os mais memoráveis. "A gente pulando e vibrando e ele sentado na arquibancada só ouvindo o jogo pelo radinho com certeza são os momentos mais marcantes", conta Giani Simão.
Seja no sofá, em frente à televisão, ou na arquibancada, a vibração é a mesma. "Fazemos o possível para estarmos sempre juntos em dia de jogo. Apoiamos o time em tudo que podemos. Somos sócio-torcedores, colecionamos camisas, tudo que a gente usa tem o Botafogo presente", acrescenta a filha.
Neste campeonato, a família Simão espera ver o renascimento do time. "Este ano, nossa equipe está muito mais competitiva. Esperamos ver aquele clube vitorioso que nos proporcionou tantas alegrias!", afirma Giani.
Ligação de afeto
O psicólogo Raphael Amaral explica como o relacionamento familiar pode afetar as escolhas e a torcida pelo time. "A relação de pai e filho influencia a torcida pelo mesmo time, porque, muitas vezes, quando temos relações próximas com pessoas que admiramos, nosso convívio social, nossa rotina, nossos prazeres e desejos ficam sempre muito similares. Então, por exemplo, um filho que se dá bem com o pai ou até mesmo na nossa tradição da cultura brasileira acontece muito de o pai levar o filho ao estádio ou comprar uma camisa do time. Esses momentos são compartilhados e, na cabeça daquela criança, daquele adolescente, isso acaba sendo um reforço e um estímulo na relação entre pai e filho. Muitas vezes, a relação de pai e filho é atravessada pela relação com o time como uma relação muito simbólica entre os dois. Então, mesmo que futuramente um pai faleça, vemos vários filhos continuando no estádio levando a camisa do pai ou passando isso de geração para geração", salienta o profissional.
"Muitas vezes, esse sentimento, à medida que a vida vai passando e o filho vai ficando mais adulto, pode resultar em várias divergências com o pai ou divergências familiares. Pode ser que a vida afaste os dois. Mas isso será um elo em comum, de ir todo domingo ou quarta-feira à noite ao estádio. Isso continua sendo muitas vezes um assunto em comum entre os dois. Então, por mais que a distância ou a rotina, por mais que os tempos sejam diferentes, isso ainda será um fator em comum entre os dois e acabará estreitando essa relação. Uma relação que vem de pai para filho, de avô para neto e assim por diante", acrescenta.