O trilheiro Ramon Lima Dias faz trilhas há 20 anosAcervo pessoal

Fugir da rotina, se conectar com a natureza e explorar as trilhas parece algo incomum no nosso dia a dia. As deslumbrantes paisagens e montanhas cariocas se tornam um convite ao lazer e à aventura para os amantes da natureza e dos esportes ao ar livre. A diversidade de trilhas oferecidas proporciona desde caminhadas leves até desafios mais intensos, atraindo tanto iniciantes quanto experientes em atividades ao ar livre. Lugares como a Floresta da Tijuca e a Pedra da Gávea oferecem experiências únicas para os aventureiros.
No entanto, no domingo passado (7), três pessoas se perderam em uma trilha no Mirante da Posse, em Campo Grande, Zona Oeste, e precisaram ser resgatadas pelos bombeiros. Em fevereiro, uma mulher fazia uma trilha com o namorado e precisou ser resgatada de helicóptero pelos bombeiros após fraturar a perna durante uma trilha na Pedra do Telégrafo, em Barra de Guaratiba, Zona Oeste. Casos como esses são comuns, por isso, antes de desbravar as trilhas, é essencial estar preparado e ciente dos cuidados necessários para garantir uma experiência segura e inesquecível.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, no Estado do Rio, foram realizados, em 2023, cerca de 594 socorros em trilhas pela corporação, sendo 334 localizados nas florestas da capital. Já neste ano, até o fim do mês de março, foram 136 salvamentos em matas e florestas no estado e 77 no município do Rio.
O trilheiro Ramon Lima Dias, de 37 anos, faz trilhas há 20 anos, começou incentivado por amigos e não parou mais. "Cada trilha é uma aventura. Mas eu não me preparo, vejo como vai estar o tempo no local. Se for um trilhão, vejo se vai precisar de um tênis mais forte ou uma bota, mas nada demais", diz.
O aventureiro experiente lembra uma das dificuldades vividas ao longo de uma trilha, "Eu estava com uns amigos, subi o morro e lá não tinha trilha, a gente abriu a trilha. No caminho, um deles bateu numa colmeia de abelhas. Veio muita abelha e a gente desceu correndo. Levamos muitas mordidas, foram mais ou menos umas 100 picadas em cada um e fomos para o hospital. Eu fiquei um dia no hospital recebendo soro, mas no final deu tudo certo. Sobrevivemos!", relata, aliviado.
O trilheiro Fernando Oliveira, de 41 anos, é apaixonado por trilhas e viagens, faz trilhas em grupos frequentemente e pretende se tornar um guia. Para ele, o passeio faz bem para a saúde física e mental. "Gosto muito de viajar e fazer trilha. É um privilégio morar numa cidade repleta de belezas naturais. A gente tem o Parque Nacional da Tijuca, a gente tem o Parque Estadual da Pedra Branca, a gente tem aquele Complexo da Serra do Vulcão, que pega Nova Iguaçu, Mesquita, Nilópolis, Seropédica, pega aqui a Zona Oeste do Rio, Campo Grande. Gosto muito de fazer trilha e faz um bem danado. Eu vou para lá, esqueço meus problemas, volto renovado, com a cabeça pura, limpa, faço uma trilha linda, vejo um mirante e, depois de passar numa cachoeirinha com aquela água gelada que faz tão bem, parece que o cansaço da trilha sai na hora. A gente sai da realidade, passa a olhar e admirar a beleza da natureza. É fascinante!", afirma. 
O trilheiro ainda acrescenta as dicas que aprendeu ao longo do tempo e dos caminhos percorridos. "A gente tem que fazer trilha com muita atenção. Eu vejo gente conversando muito nas trilhas, falando alto ou gritando. Sempre peço que não gritem, falem só o necessário e ouçam o barulho da natureza, o som dos passarinhos cantando, o barulho dos ventos. A gente ouvindo a natureza vai estar em sintonia, vai estar ouvindo se de repente passa um bicho maior por perto como um lagarto ou uma cobra. E tem que ter esse cuidado. Estar em constante observação, olhando pro chão o tempo inteiro, sabendo onde está pisando ou apoiando, ter cuidado com os galhos ou, antes mesmo de saltar numa cachoeira, se certificar da profundidade para evitar dificuldades individualmente ou para o grupo", orienta.
Para ele, entre os principais cuidados estão: não extrapolar os limites, não ficar muito na beira, não fazer poses arriscadas para ganhar likes, ouvir sempre as orientações do condutor e quem está guiando a trilha. "São cuidados simples que a gente tem que ter", destaca Fernando.
Além disso, o trilheiro ressalta que é importante cuidar da natureza. "Tem que respeitar o meio ambiente e as normas de conduta em trilhas. Se você levou a comida, levou biscoito, casca de banana ou outra fruta, bote a embalagem na mochila e traga de volta. Chegando lá embaixo, é só jogar na lixeira e não fazer sujeira pela trilha. A gente tem que respeitar o meio ambiente, não jogar lixo. A gente tem que entender que cada ambiente tem as suas características e a gente tem que estar de acordo com elas", diz.
O educador físico Edson Neto, de 30 anos, e Lucas Alexandre, de 26, lideram um grupo de trilha juntos e dão dicas sobre o que é preciso saber antes de fazer uma trilha: conhecer seus limites, ter a prática regular de atividade física, utilizar roupas e calçados adequados, além de levar consigo água e alimentos de fácil acesso. Além disso, itens como protetor solar e repelente são indispensáveis.
"O principal é se sentir bem antes de realizar qualquer atividade física. De maneira geral, é importante buscar um conhecimento prévio sobre o local, não apenas a vista, mas, sim, o deslocamento, o tempo médio da trilha, quais as dificuldades e relacionar esses pontos com o seu objetivo, respeitando a sua individualidade e especificidade”, explica Lucas.
Em relação à segurança durante a trilha, Edson aponta alguns dos principais cuidados. Confira!
Sobre o itinerário: compartilhar o itinerário com alguém próximo antes de sair de casa. Compartilhe as informações sobre o seu destino, o dia e os horários que pretende ficar fora e, se possível, mantenha essa pessoa atualizada sobre a sua localização. Nunca saia sem deixar alguém avisado, principalmente se você vai sozinho, mas faça isso mesmo que esteja acompanhado. Se acontecer algo, alguém de fora poderá ajudar.
Calçados para usar: use calçados e meias adequados. Caminhar em uma trilha é muito diferente de caminhar no asfalto. Os terrenos podem ser muito desafiadores, com terra, lama, pedras, lodo, entre outras coisas. Por isso, é muito importante utilizar um calçado indicado para esse tipo de caminhada. E na hora de escolher a meia, evite os modelos feitos em algodão, pois absorvem a umidade do corpo e demoram muito para evaporar, o que pode causar bolhas e outros desconfortos.
Manter-se hidratado: cuidar da hidratação é algo primordial em qualquer atividade física. Estando exposto ao sol durante as longas caminhadas, isso é ainda mais importante. Portanto, em uma trilha, mantenha-se sempre hidratado. Não espere até sentir sede para beber água, pois esse já é um dos sinais de desidratação.
Proteger-se do sol: Assim como é importante se proteger no frio, também é essencial se cuidar nos dias de sol. Algumas soluções simples para que você fique seguro contra os raios ultravioletas são: usar protetor solar, óculos de sol, camisetas com tecnologia de proteção solar e chapéu (de preferência também com proteção UV) ou boné. Os sintomas de insolação vão desde uma simples dor de cabeça até desmaios. Portanto, este é um assunto muito sério na hora de garantir a sua segurança durante as trilhas.
"Acreditamos que as melhores são aquelas que podemos fazer, se desafiar e conhecer novos lugares, pois os lugares têm pontos específicos que vão encantar quem faz. Como a Pedra Bonita, Morro da Urca, Mirante Caeté, Telégrafo", sugere Lucas.
"Quando for pela primeira vez e acabar a trilha e ver no final a paisagem maravilhosa, vai ver que tudo valeu a pena desde o começo. E o maior risco é se apaixonar e todo fim de semana querer conhecer uma trilha nova. Não deixe para depois, faça!", recomenda Edson.