Allan ganhou uma camisa e uma caneca de ex-professoresDivulgação
Ao Dia, Allan revelou que não tinha o costume de falar em público na escola. Apesar da timidez, ele tratou o microfone como um amigo de longa data e falou sobre suas experiências por quase uma hora. Após a palestra, o jovem disse que o problema com a UFF o inspirou.
"Primeira vez que eu consegui falar, sou tímido. Tudo o que aconteceu recentemente fez eu ter que falar mais", disse o rapaz.
O pré-vestibular onde Allan estudou é um projeto de extensão da universidade. São os próprios alunos da graduação de jornalismo que dão aulas, monitoria e orientação pedagógica, por exemplo. A universitária Liz Bonfim, que deu aula de literatura para o Allan, rasgou elogios ao aluno.
"Ele falou sobre a história de vida dele. Sobre resiliência, principalmente. Que ele acreditava em algo novo e persistiu, mesmo trabalhando durante o dia. E como professora dele mesmo, posso dizer que fiquei muito feliz e orgulhosa. Nas aulas ele sempre foi muito atencioso", afirmou.
Além de Allan, outros dois ex-alunos do pré-vestibular palestraram neste sábado. De acordo com Liz, a ideia é incentivar os estudantes que ainda não passaram no vestibular a não desistirem. "Como ele quer ser exemplo e inspiração, a gente achou ótimo ele poder falar pros ex-colegas", concluiu.
Matrícula rejeitada
Após ser aprovado para cursar jornalismo dentro do plano de cotas, Allan Pinto Ignácio, que é negro de pele retinta, teve sua matrícula rejeitada por enviar vídeo de declaração racial sem áudio.
Segundo a advogada Géssica Castro, responsável pelo caso de Allan, foi necessário entrar com uma liminar judicial para fazer com que a UFF voltasse atrás na decisão.
A ação foi aprovada pelo juiz Leo Francisco Giffoni, da 5ª Vara Federal de São Gonçalo, que afirmou que a recusa da universidade foi "excessivamente rigorosa e desprovida de razoabilidade, em especial quando o erro técnico pode ter sido causado pela própria plataforma da ré".
O estudante foi aprovado em terceiro lugar pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) na seleção de candidatos pretos, pardos e indígenas de baixa renda que estudaram em escolas públicas. Como o processo de verificação de cotas é online, Allan, que não tem acesso frequente à internet, precisou gravar um vídeo se declarando preto para anexá-lo na plataforma de inscrição da faculdade.
Mesmo com as imagens destacando os traços do jovem, a Comissão de Heteroidentificação da UFF, que verifica a cor e raça dos cotistas, o desqualificou, por, "ao realizar o upload do vídeo, não falar seu nome completo e não se declarar com a frase: 'Eu me autodeclaro preto', conforme consta no formulário eletrônico para envio de documentação da UFF".
Allan só conseguiu ingressar no curso com o semestre letivo já tendo iniciado. Ele foi à aula pela primeira e única vez na quinta-feira (25).
Ressalta-se, por fim, que a UFF adota o sistema de cotas raciais desde 2003, justamente por reconhecer a importância desta política para o ingresso de grupos historicamente sub-representados no ensino superior. Soma-se a isso todo o esforço institucional em oferecer meios e recursos para a manutenção dos estudantes na universidade, assegurando que as oportunidades de ensino sejam distribuídas de forma igualitária e justa."
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