Pais de João Pedro participam de reunião na AlerjDivulgação/ Alerj/ Thiago Lontra

Rio - Neste sábado (18) faz quatro anos da morte de João Pedro Mattos Pinto, aos 14 anos, durante operação policial no Complexo de favelas do Salgueiro, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. A família do adolescente e de outras vítimas de violência policial foram recebidas na manhã desta sexta-feira (17) pela Comissão de Combate às Discriminações da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), em audiência pública. 

Presidente da comissão, o deputado Professor Josemar (Psol) disse que é preciso cobrar resposta das autoridades. "Estamos nos reunindo para cobrar justiça por João Pedro. São quatro anos que a família sofre em busca de uma resposta da Justiça para este crime, contra um adolescente que estava dentro de casa". O deputado defendeu que os acusados sejam julgados no júri popular, conforme solicitou o Ministério Público do Rio (MPRJ) em janeiro deste ano. 
"A gente quer avançar para que o caso tenha um desfecho. Já se foram quatro anos e o júri popular é o que a família deseja. Um júri para que os policiais envolvidos sejam julgados e que a justiça seja feita", disse o parlamentar, que vai protocolar um ofício à Vara de Justiça responsável pelo caso pedindo uma atenção especial ao julgamento.
João Pedro foi morto com um tiro de fuzil durante uma operação das polícias Civil e Federal, em 2020, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. O processo está em fase de alegações finais. Ainda não há data designada para o júri. Os agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), Mauro José Gonçalves, Maxwell Gomes Pereira e Fernando Meister, são réus por homicídio e fraude processual. Os três já foram ouvidos em setembro do ano passado e aguardam julgamento.

Segundo testemunhas, o adolescente e mais cinco amigos jogavam videogame, na casa do tio, quando policiais teriam entrado na residência atirando. Os agentes são acusados de homicídio doloso e fraude processual.
"Eles alegam que houve confronto, que entrou bandido na casa, mas eles forjaram essa situação para saírem impunes", disse Neilton Pinto, que é pai de João Pedro. "Há quatro anos meu filho foi tirado de forma brutal da vida da nossa família e até agora não tivemos resposta da Justiça. Estamos aqui para que a Vara Criminal de São Gonçalo venha fazer um trabalho com responsabilidade", cobrou.
A mãe do adolescente, Rafaela Santos, citou a dor de ter procurado o corpo do filho por mais de 17 horas. "A polícia matou o meu filho e ainda tirou o corpo do local sem a família estar presente. Disse que estaria socorrendo o João", disse Rafaela. O adolescente foi atingido por um disparo de fuzil na barriga e levado de helicóptero a um hospital. A mãe da vítima se preocupa com a demora do julgamento:"Não sabemos quanto tempo mais vamos ter que esperar".
Memorial
O presidente da Comissão da Alerj afirmou que vai encaminhar ofícios para que o Governo do Estado reconheça a violação dos agentes e construa um memorial em homenagem a João Pedro e a outras vítimas da violência policial. Ele também vai enviar um ofício solicitando que o Estado se pronuncie oficialmente com um pedido de desculpas. O dia 18 de maio, data da morte de João Pedro, entrou no calendário oficial do Estado do Rio como o Dia de Luta Jovem Preto Vivo - João Pedro Mattos Pinto, pela Lei 10.298/24.
Integrante do Movimento de Mães e Familiares de Vítimas da Violência Letal do Estado, Ana Lúcia de Oliveira afirmou que diversas mães não chegam a ver a conclusão das investigações e a condenação dos acusados. Ela teve o filho Michel assassinado há 16 anos. "É uma violência que a gente sofre até hoje. Muitas mães vão ao fórum e não conseguem respostas. Mas eu acredito na força que nos une. Acredito que vamos ter justiça", disse.
Sônia Bonfim contou que perdeu o filho Samuel há três anos com 10 tiros nas costas. Estudante do Colégio da Polícia Militar, ele sonhava entrar para o Exército por influência do avô, que foi paraquedista. "Ontem mesmo recebi a notícia de uma mãe que se suicidou porque não aguentava mais", relatou. Outra mãe de vítima de violência, Bruna Moze teve o filho Marco Luciano assassinado em 2018. "Estou há seis anos lutando para ter um atestado de óbito com o nome e o sobrenome dele. O Estado me deu um atestado escrito 'homem de pai e mãe desconhecido e residência ignorável”, contou.
O deputado Professor Josemar ressaltou que a violência praticada contra os jovens teve origem no racismo institucional. "Esses processos estão diretamente envolvidos em questões raciais. A bala que atingiu o filho de todos que estão aqui, atingiu um corpo negro. A Justiça se torna lenta porque são negros periféricos. Queremos igualdade e simetria", cobrou.