Famílias recorrem à políticas públicas e doações para fugir da fomeReprodução

Rio - Aproximadamente meio milhão de cariocas estão em situação de insegurança alimentar grave, ou seja, passando fome. Os dados são de uma pesquisa realizada pela 'Frente Parlamentar contra a Fome e a Miséria no Município do Rio de Janeiro' da Câmara Municipal, em parceria com o Instituto de Nutrição Josué de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), divulgada nesta quarta-feira (29).
Os resultados revelam que há segurança alimentar em 67,1% dos lares cariocas, enquanto a incerteza da garantia da alimentação adequada era a realidade para 16,9% das famílias (insegurança leve). A restrição quantitativa se fez presente em 16% das famílias, das quais 7,9% conviviam com a fome (insegurança grave). Em números, cerca de 2 milhões de cariocas convivem com insegurança alimentar — 488,7 mil viviam com apenas uma refeição ao dia ou passavam um dia inteiro sem comer.
A pesquisa pioneira buscou traçar um diagnóstico preciso para que os poderes municipal, estadual e federal atuem criando políticas públicas que levem comida para quem mais precisa.
Os números mostram que houve um retrocesso nos avanços alcançados há uma década, que se agravou a partir de 2018. Os resultados ainda mostraram que os quadros de insegurança alimentar grave foram maiores em lares chefiados por mulheres (8,3%), ou quando essas pessoas tinham a raça/cor da pele preta/parda (9,5%), ou escolaridade mais baixa (16,6%).
Os dados pontuam que a proporção de cariocas que convive com a fome (7,9%), ou seja, com insegurança grave, foi mais alta que no país (4,1%) e mais do que o dobro no estado do Rio (3,1%).
Além disso, a proporção de famílias que garantiam o acesso à alimentação adequada em quantidade e qualidade no município do Rio de Janeiro (67,1%), foi menor do que as estimativas mais recentes para a população brasileira (72,4%) e para a população do estado do Rio (76,2%).
Comparando os dados do IBGE de 2017/2018 com os da pesquisa, o quantitativo de famílias em insegurança alimentar grave aumentou de 2% para 7,9% no município, o que equivale a um aumento de cerca de 300% em 6 anos.
Quanto à renda, cerca de 20% das famílias viviam com até meio salário mínimo por pessoa. A proporção de insegurança grave nas famílias quando o responsável tinha trabalho informal foi seis vezes maior quando comparada com as famílias cujo responsável tinha trabalho formal.
Quando o responsável estava desempregado, a ocorrência de insegurança grave foi 9 vezes maior se comparada ao grupo de famílias em que o responsável trabalha formalmente.
O fornecimento de água irregular ou a falta de água potável configura a insegurança hídrica, situação que, no município, atingiu 15% dos lares. Dentro desse número, quase 70% das residências também sofriam com a insegurança alimentar grave, além da hídrica.
Para fugir da fome, uma das alternativas buscadas pelas famílias foi utilizar os Restaurantes Populares e as Cozinhas Comunitárias (ou Prato Feito Carioca). Outro meio utilizado foram as doações de instituições ou associações.
Ao total, 2 mil domicílios foram avaliados para a pesquisa e 1.819 famílias responderam a todas as perguntas, o que equivale a 4.881 informações de moradores do município do Rio de Janeiro, com uma média de 2,4 moradores por família no município.