Sepultamento de Luís Cláudio aconteceu no Cemitério do Pechincha, na Zona Oeste do RioPedro Teixeira / Agência O Dia
Pai que foi morto a marteladas e teve o corpo queimado pelo filho é enterrado na Zona Oeste
Luís Cláudio Pinheiro, de 58 anos, teria sido assassinado após uma discussão com o jovem que queria faltar aula para ir ao treino de jiu-jitsu
Rio - Luís Cláudio Pinheiro, de 58 anos, que foi morto a marteladas e teve o corpo queimado pelo filho de 16 anos, foi enterrado na tarde desta quarta-feira (29), no Cemitério do Pechincha, na Zona Oeste do Rio. Na ocasião, Mariana Valente, sua companheira, também foi assassinada. O adolescente foi apreendido pela polícia em flagrante.
O crime aconteceu na sexta-feira passada (24) dentro da casa onde a família morava na Estrada da Ligação, na Taquara, também na Zona Oeste. O menino teria assassinado os pais após uma discussão em relação a um treino de jiu-jitsu. Em conversa com policiais no momento em que foi apreendido, o jovem disse que os pais não o deixaram faltar aula para treinar.
Depois da discussão, o adolescente teria pegado um martelo e uma madeira e batido na cabeça de Luís e de Mariana. Em seguida, ele colocou fogo no quarto onde os corpos estavam, no segundo andar da residência. De acordo com a Polícia Militar, o jovem que ligou para a corporação e para os bombeiros após o ocorrido.
O comerciante e vizinho do casal Valter Junior, 53 anos, disse ao DIA que o adolescente era filho de criação das vítimas, mas que não havia nenhum tratamento diferenciado. Apesar da aparente boa relação com a família, Valter revelou que percebia atitudes agressivas por parte do menino.
"Era um garoto tranquilo, sempre evitava de ficar olhando. Passava e só dava bom dia e boa tarde. Recentemente aconteceu uma briguinha com um amigo por causa de chinelo. Conversei com ele que não era assim e que não podia brigar. Mas ele estava muito violento, sendo que eram as pessoas que instigavam ele. Parece aquela coisa do mal mesmo. O inimigo seguindo ele e perturbando ele na rua", relatou.
Para o comerciante, a estratégia de colocar o adolescente no jiu-jitsu teria sido justamente para tentar minimizar as atitudes agressivas dele. "Claudio colocou ele no jiu-jitsu justamente para acalmá-lo. Nunca foi maltratado e sempre recebeu melhor educação possível. Estamos em estado de choque com tudo isso", disse.
O caso foi investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). O adolescente foi preso em flagrante e o inquérito já foi encaminhado à Justiça.
'Intolerância à frustração'
Em conversa com O DIA, a psicóloga Márcia Frederico, consultora pedagógica do Laboratório Inteligência de Vida (LIV), destacou que a intolerância aos "nãos" e à frustração podem levar os adolescentes a atitudes "extremadas".
"É importante ressaltar que, relacionar o caso à dificuldade dos adolescentes de lidarem com os 'nãos' ou frustrações da vida, seria um resumo simplista. Mas, de um modo geral, podemos dizer que essa 'intolerância' à frustração, à dificuldade de ouvir um 'não', que pode levar a reações extremadas, está, muitas vezes, relacionada à uma imaturidade do jovem em lidar com a falta", disse.
A especialista ressalta que nenhuma resposta agressiva é justificada, mas é possível identificar um padrão de comportamento ligado à falta de limites impostos pelos próprios pais.
"Quando a permissividade é algo muito presente, e é preciso dizer um “não”, esse adolescente, que não está habituado, se sente “sem chão”. Ele não sabe lidar, não tem recursos para isso. Tem dificuldade de pensar, argumentar, encontrar outras formas de solucionar a questão e, muitas vezes, acaba indo para o lado da agressão, o que sabemos que não se justifica, é claro", disse.
Para Cláudia Melo, que atua como psicóloga especialista em terapia cognitiva, uma atitude extrema e carregada de raiva como a adotada pelo adolescente dificilmente está ligada a apenas uma situação, como a usada pelo jovem para justificar o ato.
"Precisamos falar sobre esse tema com muita cautela. Precisamos entender que de repente, ele não se tornou adolescente. Como que era ele quando criança, como os pais resolviam os conflitos com essa criança. Quais eram os limites ou quais eram as faltas de limites dentro dessa relação de pais e filhos", comentou.
"Claro que quando olhamos para um caso desses, pensamos: 'Como assim?'. Que simplesmente um 'não', ou 'vai para a escola e não para a sua luta', e de repente esse garoto toma uma atitude tão brutal. É o ato de uma pessoa impregnada por ódio. Além de fazer o que fez, ele ainda colocou fogo no quarto onde os pais estavam não sabemos. Precisamos olhar para que tipo de adolescentes que nós pais estamos formando", avaliou.
Segundo a especialista, muitas vezes os pais de adolescentes evitam expor ou até ignoram as atitudes agressivas. "É preciso colocar limites, muitas vezes de forma radical. Os filhos precisam entender que os pais também estão protegidos, que eles não podem fazer o que querem, na hora que querem, do jeito que querem, acreditando que são donos do espaço e que os pais são reféns deles. O primeiro sinal de violência tem que ser sinalizado. Desde um grito, encostar as mãos. Os pais precisam tomar atitudes radicais. Mostrar quem está no comando e acionar a polícia. Não culpabilizamos, mas muitas vezes vemos que os pais deixam as coisas acontecerem e negam alguns sinais", afirmou a psicóloga.
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