Marcello Siciliano chegou a ser acusado de ser o mandante da morte de Marielle FrancoArquivo / Agência O Dia
Caso Marielle: dossiê contratado por Marcello Siciliano teria tentado incriminar irmãos Brazão
Alegação consta no documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela defesa do delegado Rivaldo Barbosa, acusado de participação no crime
Rio - A defesa do ex-chefe de Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, acusado de participação na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, alega que o ex-vereador Marcello Siciliano contratou policiais para produzirem um dossiê que incriminasse os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, presos por acusação de serem os mandantes do crime.
No documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao qual O DIA teve acesso, os advogados de Rivaldo destacam que Siciliano comprou uma investigação particular de ex-policiais civis, que haviam sido expulsos da corporação, para ajudá-lo a se distanciar da suspeita de envolvimento no caso. Na época do crime, o ex-vereador foi apontado e investigado como mandante do homicídio.
Segundo a defesa do delegado, os agentes contratados por Siciliano tentaram o convencer que detinham o controle sobre jornalistas e se vangloriaram de terem conseguido salvar o ex-vereador das acusações. Em conversa no WhatsApp, um dos investigadores disse que poderia avançar mais no caso e incriminar um dos irmãos Brazão, se tivesse recebido mais dinheiro. Os advogados de Barbosa também citam a participação de um policial federal na realização do dossiê.
"Houve inclusive contrato de prestação de serviços de investigação particular firmado com o então parlamentar. Mas o grupo não cobrava somente dinheiro. Almejava-se um cargo de assessoria de Marcello Siciliano e auxílio do parlamentar para que intercedesse junto à administração pública para tratar de assuntos particulares", diz o documento.
A reportagem tenta localizar a defesa de Marcello Siciliano. O espaço está aberto para manifestação.
Pedido sobre Flávio Dino
No mesmo documento, os advogados Marcelo Ferreira e Felipe de Mendonça pediram ao STF o impedimento do ministro Flávio Dino de julgar o caso Marielle Franco e que as investigações sejam remetidas à Justiça do Rio.
Em sua defesa preliminar, Ferreira e Mendonça alegam que a atuação de Flávio Dino quando era titular do Ministério da Justiça foi determinante para a deflagração das investigações, uma vez que deu ordem direta e expressa para a instauração da investigação policial. Para a defesa, a medida teve "notório viés político", por se tratar de promessa de campanha de Lula, e porque o ministro "deu diversas declarações públicas sobre as fases da investigação conduzida pela Polícia Federal, reafirmando o seu papel de coordenador e fiscalizador na instituição".
"É evidente que o ministro Flávio Dino não atuou diretamente como autoridade policial. Todavia, sua postura atípica enquanto ministro da Justiça o colocou como uma espécie de partícipe nas investigações do assassinato", apontaram Ferreira e Mendonça, que destacaram ainda que o envolvimento de Dino "contaminou a sua esfera de avaliação sobre o caso, impactando inequivocamente a sua perspectiva sobre os denunciados (...) tornando seu julgamento parcial".
A defesa ainda requereu que o caso seja julgado pela Justiça do Rio, já que Rivaldo Barbosa não tem foro privilegiado.
Delegado nega participação e diz não conhecer irmãos Brazão
Em depoimento à PF e PGR na Penitenciária Federal de Brasília, nesta segunda-feira (3), Rivaldo Barbosa declarou que não conhece os irmãos Brazão e não participou do planejamento para o crime. A oitiva do ex-chefe da Polícia Civil foi determinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, após o próprio delegado pedir para ser ouvido.
Barbosa foi preso no dia 24 de março, após investigações da Polícia Federal apurarem seu envolvimento nas mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes, em março de 2018. Ele assumiu o cargo de chefe de Polícia Civil um dia antes das mortes e teria tentado obstruir as investigações dos assassinatos. Antes, Rivaldo era coordenador da Divisão de Homicídios da corporação.
Além de tentar atrapalhar a apuração do caso, o delegado também teria planejado "meticulosamente" o crime a mando da família Brazão. A PF apurou que, durante o planejamento, Rivaldo proibiu que o atentado fosse realizado no trajeto de chegada ou saída da Câmara dos Vereadores do Rio. Segundo a investigação, ele queria evitar possíveis pressões à Polícia Civil caso o crime tivesse conotação política.
A PF ainda destacou que, antes mesmo de assumir o cargo de chefe de Polícia Civil, o delegado teria combinado com Domingos e Chiquinho Brazão a não identificação dos responsáveis pela ordem do assassinato da vereadora. Barbosa também é acusado de receber propina de aproximadamente R$ 400 mil para obstruir as investigações e evitar que as apurações sobre os mandantes avançassem. A informação consta em relatório de 2019.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.