Tutora da cadela Mel, Juliana Salinas prestou queixa com apoio do presidente da Comissão de Defesa dos Animais, Luiz Ramos Filho (PSD)Pedro Teixeira/Agência O Dia

Rio - Tutores de cães que podem ter sofrido envenenamento no Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, prestaram depoimento, nesta segunda-feira (10). A dona de uma cadela que morreu e de outros dois que tiveram intoxicação estiveram na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), na Cidade da Polícia, no Jacaré, Zona Norte, para relatar os episódios, que aconteceram entre 5 e 8 de maio, depois que os animais voltaram de passeios pelas ruas do bairro.
A situação ganhou repercussão depois da morte da cadela Mel, de 11 anos, em 8 de maio, após dois dias do início dos sintomas do envenenamento. A cachorrinha chegou a voltar para casa da família com quem vivia há dez anos, mas não resistiu. A tutora Juliana Salinas conta que os veterinários apontaram que ela não precisou ingerir a substância tóxica, já que apenas inalar foi suficiente para o envenenamento.
Ainda de acordo com Juliana, outros cinco animais já haviam morrido na região antes de Mel, mas os donos não haviam relacionados os casos com um envenenamento. Outros 40 cachorros também apresentaram quadros de intoxicação, com vômito e dores abdominais, e o diagnóstico da maioria deles é de pancreatite, peritonite e gastrite severa e até hemorrágica.
A tutora relatou que decidiu registrar o caso na especializada para evitar que outros animais e até crianças sejam afetados. "Hoje, eu só não quero que piore, que mais um cachorro passe mal, que mais um cachorro morra, que uma criança acabe botando a mão e tenha uma situação pior, é só isso. No início era porque eu perdi meu bichinho, hoje é: 'vamos ver se ninguém mais passa mal", declarou.
Tutor de Bethooven há 7 anos, o engenheiro Emerson Pinheiro relatou que o cão começou a vomitar no dia 7 de maio, depois de passear pelo bairro, e ficou internado até a última sexta-feira (7). Ele conta que, por conta das sequelas da intoxicação, o animal depende de uma dieta especial para se alimentar em casa. A família do cachorro sem raça definida (SRD) de 8 anos também teme que o animalzinho sofra um novo envenenamento quando voltar a sair pelas ruas da região.
"Eu acho fundamental (registrar o caso), porque não foi só o meu, tiveram casos lá que eu fiquei sabendo. Isso num bairro como o nosso, acontecer é meio desagradável, porque tem muito cachorro lá e eu costumo passear com ele de manhã, minha esposa também. A gente anda com o cachorro na rua agora com medo, preocupado com o que está acontecendo. É uma intraquilidade, tem que provar o que é, descobrir a causa, eliminar a causa, para dar uma tranquilidade, porque o bairro é propício a passear com cachorro, bastante residencial", apontou o engenheiro.
Considerado idoso aos 14 anos, o bulldog francês Dior também foi um dos animais afetados e ficou internado por uma semana, correndo risco de morte. A tutora Izabela Junqueira relata que assim como com outros cães, os sinais de envenenamento começaram a surgir depois que ele voltou de um passeio pelo Jardim Oceânico, em 5 de maio. Por conta das dores, o cãozinho chegou a ficar agressivo com os familiares, o que dificultou no socorro.
Segundo Izabela, por conta do peso, Dior precisa fazer caminhadas e, desde que ele deixou a clínica veterinária, tem redobrado os cuidados durante as saídas. "Está muito difícil sair na rua sem ter medo. Ele não faz nada dentro de casa e ele é gordinho, então, eu preciso que ele caminhe. Ele é um senhor, eu não consigo levá-lo para outro lugar, para caminhar com ele em outro lugar fica complicado, ele não consegue chegar até lá. Mas estou de olho em tudo, limpo as patas dele quando chego em casa, estou tomando esses cuidados", disse.
A tutora também afirmou que não acredita que o envenenamento tenha sido proposital, mas espera que os responsáveis sejam identificados logo. "A gente está muito esperançoso que as pessoas chequem as câmeras, cobrem dos condomínios o que está sendo colocado nas calçadas, essa coisa da lavagem com cloro puro que a gente vê muito, é proibida essa prática. As autoridades é que vão identificar o que está acontecendo, até lá, a gente vai tomando essas precauções e eu espero que não aconteça de novo".
O caso foi denunciado na última semana à Comissão de Defesa dos Animais da Câmara Municipal do Rio e, nesta segunda-feira, o presidente, vereador Luiz Ramos Filho (PSD), acompanhou os tutores na delegacia. O parlamentar destacou a importância dos donos de animais da região que apresentaram sintomas de intoxicação procurarem a DPMA para o registrar o caso e colaborar com as investigações da Polícia Civil.
"A gente já faz um apelo para todas as pessoas que tiveram seus animais passando mal, acometido naquela região do Jardim Oceânico, que possam vir à delegacia fazer esse registro, para que a própria delegacia tenha um quantitativo e um parâmetro para que possa atuar. A gente precisa lembrar às pessoas que maltratar e abandonar animais é crime e envenenamento, também. As pessoas precisam ter consciência disso, não se pode sair colocando veneno nas ruas", apontou o vereador.
O parlamentar também informou que a especializada está notificando clínicas veterinárias para que comuniquem sobre casos registrados. Além disso, a Comissão pretende ir ao Centro de Operações Rio (COR) para tentar identificar os responsáveis, por meio de câmeras de segurança. Em uma publicação nas redes sociais, o prefeito Eduardo Paes disse que a Central de Inteligência, Vigilância e Tecnologia de Apoio (Civitas) do COR está trabalhando para identificar os suspeitos.
No sábado (8), 24 garis da Comlurb realizaram uma operação de limpeza hidráulica das calçadas e canteiros do Jardim Oceânico, utilizando água de reuso e aplicação de sabão líquido para eliminar produtos químicos, com apoio de cinco pipas d'água, duas vans motobomba e duas jateadeiras. A ação ocorreu entre a Praça do Ó e a Avenida Olegário Maciel, também com varrição manual das ruas e a limpeza dos ralos.
*Colaborou Pedro Teixeira