Rio - Sessenta tubarões galhas-pretas foram registrados na terça-feira da semana passada, dia 25 de junho, na Baía de Ilha Grande, na Costa Verde do Rio. As imagens foram feitas na saída de campo mensal do Projeto Tubarões da Baía da Ilha Grande. Após ficarem sumidos por décadas da baía, os grupos voltaram a aparecer, registrados desde o ano passado. Os pesquisadores atribuem o retorno da espécie à preservação da Estação Ecológica de Tamoios, local onde o agrupamento de tubarões foi encontrado.
Projeto registra 60 tubarões galhas-pretas na Baía de Ilha Grande, Costa Verde do Rio. #ODia
Coordenador do projeto, José Truda explica que a saída de campo tinha como objetivo encontrar o agrupamento de tubarões, que será estudado pelos próximos três anos, em parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). No ano passado, o projeto encontrou o agrupamento recorde, com mais de cem animais. E este ano, os pesquisadores queriam confirmar a existência do grupo. Os pesquisadores observaram que a espécie pode ser vista na região nas estações de outono e inverno.
"Trata-se de uma espécie ameaçada pela sobrepesca. Agora estamos confirmando que é regular a presença da espécie no outono e no inverno. Os galhas-pretas se agregam ali. Vários registros são de fêmeas e a gente está presumindo que se trata de uma agregação reprodutiva. Ao longo do ano, provavelmente eles circulam em toda região Sudeste. É uma espécie que não bota ovo. Eles se reproduzem muito lentamente e a pesca acaba sendo insustentável", explica o coordenador José Truda.
O ambientalista ressalta que a espécie não oferece perigo para a população. "Eles são considerados tímidos. Além da importância ecológica dos tubarões como predadores, eles também podem representar um patrimônio ecoturístico para a região. Em vários lugares, as pessoas buscam a presença de tubarões para observá-los. Este é um dos únicos lugares em que uma agregação pode ser vista da costa, como acontece na Enseada de Piraquara, em Angra dos Reis", afirma.
Apesar do número do registro deste ano ter sido menor do que o do ano passado, a estimativa é de que o grupo de tubarões tenha se mantido do mesmo tamanho. Há muitas variáveis que podem ter reduzido o número de animais captados nas imagens pelos drones, como a profundidade em que os tubarões estavam e a presença de outras espécies no entorno.
Proteção e ecoturismo
Desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Conservação da Natureza com o apoio do Instituto Mar Urbano o programa, que era mantido com recursos da Shark Conservation Fund, vai receber R$ 5 milhões da Petrobras para três anos de pesquisas e ações de conservação, além de um trabalho de capacitação de comunidades da região para criar um ecoturismo voltado para as espécies marinhas e, em especial, para os tubarões. O projeto pretende sensibilizar autoridades do município de Angra dos Reis para o potencial dos tubarões.
"É importante que sejam protegidos. São animais bastantes tímidos. É necessário pedir que se observe, mas não perturbe os animais, principalmente não se pode persegui-los com drone, lancha ou jetski", pontua Truda.
Para o biólogo marinho, fotógrafo, cinegrafista e diretor do Instituto Mar Urbano, Ricardo Gomes, o apoio ao projeto vai permitir mais pesquisa e divulgação. "É muito importante mostrarmos o que acontece no fundo do mar. Só assim vamos fazer com que as crianças se apaixonem pela vida marinha e queiram preservar o oceano. Vamos continuar monitorando os tubarões para entender melhor o comportamento deles", diz Ricardo Gomes.
Para proteger a espécie, o projeto, além de incentivar o ecoturismo na comunidade, também trabalha com as comunidades de pesca. "Muitas já não fazem mais captura direta de tubarão", conta José Truda.
O Projeto Tubarões da Baía da Ilha Grande almeja expandir a área de pesquisa para além da baía e também buscar proteção para outras espécies que historicamente já foram vistas no local, como tubarão-mangona e o tubarão-martelo.
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