Rio - As Forças de Segurança retornaram às comunidades da Zona Oeste, nesta quarta-feira (17), para o terceiro dia da Operação Ordo. Desde as primeiras horas da manhã, as equipes miraram o transporte clandestino e construções irregulares. A megaoperação pretendeu mapear os serviços explorados ilegalmente por criminosos e asfixiar financeiramente as organizações criminosas, que promovem uma guerra na disputa pelo controle de territórios. Em três dias, a ação prendeu 60 pessoas, sendo 52 em flagrante e oito em cumprimento de mandados. A ação já apreendeu sete adolescentes.
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Segundo o Governo do Estado, a Polícia Militar, com apoio das concessionárias, do Departamento de Trânsito (Detran.RJ), do Departamento de Transportes Rodoviários do Estado (Detro-RJ), e de órgãos da Prefeitura do Rio, atuou contra o transporte clandestino na Estrada dos Bandeirantes, em Jacarepaguá, na Estrada do Itanhangá, na Muzema, e na Avenida das Américas, sentido Barra da Tijuca. A ação pretendeu asfixiar o lucro de bandidos com o transporte clandestino e dar segurança a motoristas de aplicativos.
Na Cidade de Deus, agentes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) e da Subsecretaria de Operações Especiais da Prefeitura do Rio realizaram demolição de mais de 30 construções irregulares e retirada de entulhos. Segundo a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop), bares e restaurantes construídos em área pública destinada a calçada e logradouro, obstruindo as vias e impedindo a passagem de veículos, foram demolidos na Rua Israel. Nas avenidas José de Arimateia e Cidade de Deus, foram identificadas construções beirando o rio e que estão impedindo as equipes da prefeitura de realizarem a limpeza, o que contribui para as enchentes na região. Ao todo foram retiradas 37 toneladas de material usado para construir barricadas na região.
Por conta das demolições, houve confusão entre agentes e moradores. Segundo relatos, eles se queixaram de não ter sido notificados sobre a derrubada dos imóveis e alegam que usavam os espaços como local de trabalho. Em vídeos que circulam nas redes sociais é possível ver um grupo agredindo o ex-secretário Municipal de Juventude. As imagens mostram Salvino Oliveira discutindo com um homem, quando um tumulto tem início. Ele tenta correr para fugir das agressões, mas chega a ser agarrado por algumas pessoas. Confira abaixo.
AGORA: Funcionário da prefeitura é agredido por moradores da Cidade de Deus (CV) durante Operação Ordo, que também está mirando a demolição de construções irregulares.
— Plantão Baixada RJ (@PlantaoBaixadaa) July 17, 2024
Também na comunidade, o Comando de Operações Especiais (COE) da PM remove barricadas nas vias, utilizando retroescavadeira. Além disso, a Secretaria de Estado do Ambiente (Seas) e Sustentabilidade e o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) desmobilizaram um lixão clandestino que recebia descartes irregulares diretamente no solo. Dois responsáveis pelo crime ambiental foram encaminhados para a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA).
Ainda na CDD, equipes da concessionária de gás Naturgy recuperaram 58 medidores que eram usados irregularmente.
Na Gardênia Azul, equipes da Seas e do Detran fecharam um ferro-velho que funcionava sem licença na Rua Guaze. Além de não possuir autorização para operar, foi constatado crime ambiental por despejo de óleo de motor diretamente no solo. Os fiscais também recolheram todo o material armazenado para destruição.
Denúncias de crimes ambientais em todo o estado podem ser feitas ao Linha Verde por meio dos telefones 0300 253 1177 (interior, custo de ligação local); 2253-1177 (capital); no aplicativo para celular Disque Denúncia RJ, onde usuários com sistema operacional Android ou IOS podem denunciar anexando fotos e vídeos, com a garantia de anonimato.
Equipe do Desmonte do Detran.RJ interditou agora um ferro-velho na Rua Guaxe , na Gardenia Azul.
O local estava funcionando sem licença, sem emissão de nota fiscal e gerando poluição ambiental, lançando óleo motor diretamente no solo. Todo material removido será destruido. pic.twitter.com/4BlOuAmhFG
Em Jacarepaguá, policiais civis da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) fecharam uma central de internet e TV clandestina, conhecida como "gato net", que funcionava dentro da Associação de moradores da comunidade do Jordão. A Polícia Civil obteve a informação de que o esquema pagava R$ 80 mil por mês ao tráfico para ter exclusividade na oferta de serviço na região. Três pessoas foram presas por associação criminosa e pela exploração ilegal do serviço de internet e de TV.
No Tanque, outras duas centrais foram encontradas e interditadas por fraude no fornecimento desses serviços. Mais três pessoas foram detidas.
Exploração de serviços
Em uma coletiva de imprensa nesta terça-feira (16), o secretário de Estado de Segurança Pública, Victor dos Santos, explicou que a disputa territorial deixou de ser somente pelos pontos de vendas de drogas e o alvo passou a ser a exploração de serviços. Ontem, o foco da megaoperação foi o restabelecimento dos serviços de luz, gás, água, telefone e internet para a população da Zona Oeste, também controlado por bandidos em algumas áreas.
A ação acontece nas comunidades do Cesar Maia, Cidade de Deus, Fontela, Gardênia Azul, Morro do Banco, Muzema, Rio das Pedras, Sítio do Pai João, Terreirão e Tijuquinha, nos bairrosda Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Itanhangá, Recreio, Vargem Grande e Vargem Pequena. Dois mil agentes atuam com apoio do Segurança Presente, da Divisão de Recaptura e de Inteligência da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), além de concessionárias de serviços públicos, operadoras de telecomunicações e da Prefeitura do Rio e Guarda Municipal.
A Operação foi batizada como Ordo, nome em latim que significa ordem em português. Há cerca de dois anos, moradores da Zona Oeste Oeste vivem cenários de guerra por causa da disputa entre criminosos rivais. Sob forte influência de milicianos, as favelas têm sido palco de invasões do Comando Vermelho (CV), que pretende expandir pontos de venda de drogas pelo Rio. Com o avanço da facção, integrantes do Terceiro Comando Puro (TCP) se juntaram aos paramilitares.
Megaoperação tem 45 presos em dois dias
Em dois dias da megaoperação nas dez comunidades, 45 pessoas foram presas, das quais 38 em flagrante e sete em cumprimento de mandados de prisão. Além disso, seis adolescentes foram apreendidos. Parte das prisões foi relacionada a crimes contra o patrimônio, como furtos de energia e água, que produzem receita para o fortalecimento financeiro das organizações criminosas e o domínio territorial. Diversos estabelecimentos irregulares foram interditados e veículos autuados e apreendidos.
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