Segundo dia de operações tem foco de restabelecer os serviços das concessionáriasDivulgação/Governo do Estado

Rio - Forças de Segurança realizaram, nesta terça-feira (16), o segundo dia da Operação Ordo, em regiões da Zona Oeste conflagradas pela disputa de territórios entre traficantes e milicianos. Policiais civis e militares voltaram a atuar nas comunidades do Cesar Maia, Cidade de Deus, Fontela, Gardênia Azul, Morro do Banco, Muzema, Rio das Pedras, Sítio do Pai João, Terreirão e Tijuquinha. Em dois dias, 45 pessoas foram presas. 
As comunidades alvos da operação ficam nos bairros da Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Itanhangá, Recreio, Vargem Grande e Vargem Pequena. A Ação Estruturada contou ainda com agentes do Segurança Presente, da Divisão de Recapturas e Inteligência da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), da Prefeitura do Rio e Guarda Municipal, além das concessionárias de serviços públicos e operadoras de telecomunicações. 
De acordo com o secretário de Estado de Segurança, Victor dos Santos, o segundo dia teve o objetivo de restabelecer os serviços de luz, gás, água, telefone e internet para a população da Zona Oeste e coletar dados de inteligência para combater o crime organizado na região. Na manhã desta terça-feira, ele se reuniu com as concessionárias Iguá, Light, Naturgy e Oi na base do Barra Presente, na Avenida Ayrton Senna.
"Hoje o foco são as concessionárias. As concessionárias de serviço público todas estão aqui hoje para a gente poder adentrar nessas comunidades, o terreno já está estabilizado, e restabelecer os serviços que eram explorados pela criminalidade. O objetivo é exatamente esse: produzir conhecimento, saber quem qual CPF, qual CNPJ que explora aquele tipo de serviço e isso vir a subsidiar operações e investigações pela Polícia Civil daqui para frente", explicou o secretário. Ainda segundo Santos, outras comunidades também podem ser alvos de ações. 
"Essas comunidades são o primeiro foco. Obviamente, essa ação já tem escalabilidade e a gente entendendo que há necessidade de ir para uma outra região, uma outra comunidade dentro dessa região, a gente vai atuar. Mas, isso é um trabalho que a gente vai fazer diariamente, essa avaliação é feita diária. Hoje, a Secretaria de Segurança Pública quer produzir conhecimento, quem explora aquela atividade, porque hoje, a luta pelo território não é só pela venda de drogas, mas sim todos esses serviços que são explorados", completou. 
Segundo o Governo do Estado, em dois dias da megaoperação, 45 pessoas foram presas pelas Forças de Segurança, das quais cerca de 38 em flagrante e sete em cumprimento de mandados de prisão. Além disso, seis adolescentes foram apreendidos. Boa parte das prisões foi relacionada a crimes contra o patrimônio, como furtos de energia e água, que produzem receita para o fortalecimento financeiro das organizações criminosas e o domínio territorial. Os agentes retiraram 22 toneladas de material usado na construção de barricadas nas comunidades.
Na tarde desta terça-feira (16), um homem, acusado de estuprar uma criança, que era considerado foragido desde 2020, foi preso por policiais do Segurança Presente na Praça Tim Maia, no Recreio dos Bandeirantes. De acordo com o governo, a equipe do Recreio Presente notou uma movimentação suspeita e, ao abordar o homem, os agentes constataram que havia um mandado de prisão em aberto contra ele pelo crime de estupro envolvendo uma menina de 9 anos.
Além disso, o criminoso ainda possui registros por lesão corporal após agredir um padre de uma Igreja Católica no Recreio e por roubo. Ele foi encaminhado para a 42ª DP (Recreio).
Ainda nesta terça, o Detran apreendeu uma motocicleta que utilizava placa de outro veículo, na Estrada do Itanhangá, e o motorista foi encaminhado para a 16ª DP (Barra da Tijuca). Os agentes realizaram 230 abordagens na Avenida das Américas, no Recreio, e na Estrada da Barra da Tijuca, no Itanhangá. A ação teve 56 veículos autuados e três carros encaminhados para a delegacia. 
Com apoio de policiais do 18º BPM (Jacarepaguá) e da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop), o órgão também fez fiscalizações em ferros-velhos na Gardênia Azul. Na Avenida Canal do Anil, uma estrutura metálica montada de forma irregular foi localizada. Um homem foi detido, um veículo apreendido e 15 toneladas de material foram recolhidos após a demolição da estrutura.
Na Cidade de Deus, a Divisão de Recapturas cumpriu um mandado de prisão contra Jefferson Moreira Ferreira, expedido em 2020 pelo crime de roubo. Ainda na comunidade, a Delegacia do Consumidor (Decon) encontrou uma tonelada de linguiça com prazo de validade até agosto de 2023 em um açougue. O estabelecimento também comercializava 72kg de peixe com validade ultrapassada. Duas pessoas foram presas em flagrante por crime contra as relações de consumo, sem possibilidade de fiança.
Na Muzema, a Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) prendeu um criminoso por tráfico de drogas e corrupção de menores e dois adolescentes foram apreendidos por fato análogo ao crime de tráfico. Eles foram detidos em uma boca de fumo vendendo tubos de cocaína, frascos de loló e lança perfume. Também foram apreendidos um radiotransmissor e quatro celulares, além de um caderno de anotações. Um dos menores tinha um mandado de busca e apreensão em aberto por crime de roubo.
Já na Gardênia Azul e em Rio das Pedras, roupas e outros produtos falsificados foram apreendidos pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM). Os estabelecimentos foram autuados por crimes contra a propriedade industrial e será investigada a ligação com atividades de organizações criminosas. Ainda na Gardênia, agentes fecharam um mercado que comercializava 100kg de produtos vencidos, entre pizzas, laticínios e outros, e duas pessoas foram presas. 
Também na comunidade, a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) interditou uma oficina na Avenida do Canal do Anil por furtos de água e de luz, poluição (crime ambiental) e falta de licenças. No Recreio, fiscais da Superintendência de Combate aos Crimes Ambientais e do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) suspenderam atividades de um estabelecimento de reciclagem que recebia material eletrônico e eletrodoméstico em desacordo com o licenciamento sanitário.
Em Vargem Grande, equipes do Comando de Polícia Ambiental (CPAM) da Polícia Militar identificaram uma construção irregular e uma fábrica de laje, sem licença operacional. No local, duas pessoas foram conduzidas à DPMA. O CPAM também realiza patrulhamento nas localidades do Terreirão e Vargens, além do patrulhamento marítimo ambiental no complexo lagunar de Jacarepaguá.
Há também equipes no Canal de Marapendi, na Barra da Tijuca, desmantelando construções e embarcações irregulares, com apoio da Capitania dos Portos. Ainda na madrugada, cinco agentes do Grupamento Aeromóvel (GAM) da PM já atuavam no apoio às equipes, com a procura de criminosos e de carros em fuga, além do monitoramento em tempo real das ações. 
Monitoramento aéreo
Na noite de segunda-feira, dois helicópteros equipados com faróis de busca e imageador térmico já haviam sobrevoado as comunidades. O equipamento, que possui sensor de calor, captura imagens em alta resolução e é capaz de localizar pessoas armadas a quatro quilômetros de distância. A ferramenta colabora para encontrar suspeitos escondidos ou em fuga, que seriam difíceis de detectar com câmeras tradicionais ou a olho nu, especialmente em ambientes urbanos complexos.
Drones com câmeras de longo alcance também auxiliam à ação, por meio da leitura de placas e identificação por reconhecimento facial. As imagens da operação são geradas em tempo real para o Centro de Comando e Controle (CICC) Móvel, instalado ao lado da base do Barra Presente. Além disso, também no início da manhã desta terça-feira, viaturas da Polícia Civil já foram vistas circulando por ruas da Zona Oeste.
Primeiro dia de ação tem 28 presos
No primeiro dia da Operação Ordo - nome em latim que significa ordem em português - as equipes prenderam 23 pessoas em flagrante por crimes como tráfico, posse de arma de fogo, furto de energia e água, adulteração de identificação de veículo, de relação de consumo e crime ambiental, e outros cinco mandados de prisão foram cumpridos, bem como quatro menores apreendidos.
Na Cidade de Deus, foram apreendidos 131 kg de drogas, com valor estimado em R$ 160 mil. Bandidos em fuga abandonaram um carro na Linha Amarela com três granadas e também foram encontrados uma pistola 9 mm; duas motosserras e dinheiro. Na comunidade, um caminhão que fazia transporte de alimentos perecíveis (carne) sem licença e sem refrigeração foi apreendido na Estrada dos Bandeirantes. Ainda na região, uma fábrica de gelo clandestina foi autuada por poluição do solo e hídrica, com vazamento de óleo direto para rede de esgoto. O estabelecimento também realizava furto de água.
No Terreirão, um açougue onde foi encontrada meia tonelada de alimentos impróprios para consumo ou sem identificação de validade foi fechado e o proprietário preso. Também na comunidade, uma marmoraria ilegal foi interditada por crime ambiental, com despejo de resíduos de mármore diretamente na rede pluvial, e furto de luz e água. Já na Muzema, foi interditado um aterro identificado como área de descarte irregular de resíduos de construção civil. O local apresentava sinais de poluição de um córrego e de solo, situado na faixa marginal de proteção da lagoa da Tijuca. O terreno, além de estar em uma Área de Preservação Permanente, era utilizado para despejo irregular de esgoto na lagoa.
Guerra entre criminosos
Há cerca de dois anos, moradores da Zona Oeste Oeste vivem cenários de guerra por causa da disputa entre criminosos rivais. Sob forte influência de milicianos, as favelas têm sido palco de invasões do Comando Vermelho (CV), que pretende expandir pontos de venda de drogas pelo Rio. Com o avanço da facção, integrantes do Terceiro Comando Puro (TCP) se juntaram aos paramilitares.
Em coletiva de imprensa, nesta segunda-feira, para apresentar o balanço do primeiro dia da Operação Ordo, o governador do Rio disse que o avanço do tráfico na disputa de território com milícia da Zona Oeste é reflexo de ações da Segurança Pública, dentre elas o Cidade Integrada. Segundo Cláudio Castro, o crescimento de facção criminosa foi "efeito colateral"
Também na ocasião, o governador revelou denúncias de que a ação vazou, que foram encaminhadas às corregedorias das polícias Civil e Militar. "Se nós acharmos eles, fiquem cientes que vamos punir severamente aquele que deveria estar do nosso lado e está perto para coletar informação (...) A você que vazou: será pego e responderá exemplarmente porque isso é pior que criminoso", declarou Castro na coletiva.