Modelo Yanca Ellen, de 24 anos, denuncia caso de racismo em loja da Zona NorteReprodução/Rede sociais
Modelo perseguida por funcionário de loja na Zona Norte diz que sofreu racismo velado
Yanca Ellen, de 24 anos, compareceu à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância para se informar sobre como poderia seguir com a acusação
Rio - A modelo Yanca Ellen, de 24 anos, compareceu à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), nesta segunda-feira (15), para tentar mudar a tipificação do crime registrado na 27ª DP (Vicente de Carvalho), após a mesma denunciar um funcionário das Lojas Americanas de perseguição e humilhação na unidade do Carioca Shopping, Zona Norte do Rio. O caso foi registrado como Crimes do Código do Consumidor, por expor o consumidor ao ridículo. Porém, Yanca afirma que trata-se de um crime de preconceito racial, que aconteceu de forma velada.
O caso dela foi noticiado no DIA, no último sábado (13), um dia depois da vítima, uma mulher negra, contar que havia sido perseguida e humilhada por um funcionário que suspeitou que a mesma tivesse roubado produtos da unidade que fica localizada no Carioca Shopping, Zona Norte do Rio. Conforme apurado pela reportagem, o crime foi tipificado como Crimes do Código do Consumidor pelo fato da vítima não ter apresentado no termo de declaração elementos que mostrasse que houve racismo. No entanto, Yanca contesta e diz que o crime de racismo aconteceu de forma velada e que se necessário vai retificar o termo de declaração feito no dia do crime.
"Ontem (15) fui na Decradi e o policial falou que eu não posso abrir outro boletim de ocorrência, pois eu já tenho um em andamento na 27ª DP, mas que eu poderia pedir transferência. Disse ainda que se eu transferir, vai entrar como crime de racismo". No entanto, a Polícia Civil explicou que o caso é transferido a partir do momento em que há elementos que justifiquem a transferência. Diz ainda que "nada impede que a própria 27ª DP investigue um caso de racismo".
Yanca alega que não recebeu o atendimento adequado para o seu caso e sentiu que a situação foi minimizada pelos policiais envolvidos na ocorrência. "Foi um show de horror na delegacia. Fizeram um descaso comigo, falaram que ele [o funcionário] agiu de acordo com o protocolo certo. É protocolo certo seguir uma pessoa? Pedir para ver a nota fiscal? Ver algo suspeito na câmera sem eu ter pego nada?", desabafa a modelo.
Três dias depois do ocorrido, Yanca confessa que está com medo de sair de casa e ser exposta a uma nova situação desta natureza. 'Eu me sinto mal ao lembrar como tudo aconteceu, pelo descaso, por ter sido tão humilhada diante de um shopping inteiro. Depois disso eu passei a ter medo, não fui trabalhar sábado, não fui na segunda... estou com medo de sair de casa e ser exposta a esse tipo de coisa novamente", diz.
Yanca vai iniciar o ano letivo na faculdade em agosto e, por ter criado um bloqueio para sair de casa, conta que a animação para a nova etapa já não existe mais. "Espero de verdade que outras pessoas não passem por isso. Quero voltar para a minha rotina. Vou começar a minha faculdade em agosto e não quero sair, estou com medo de acontecer novamente a humilhação. Estou mal de verdade, espero que eles paguem por isso", diz. A modelo conta que pretende buscar ajuda psicológica após o ocorrido.
Perseguição em shopping
No relato, a modelo conta que entrou nas Lojas Americanas com sacolas de compras e uma bolsa de academia, por volta das 18h. De acordo com a vítima, ela entrou no estabelecimento com o objetivo de comprar itens pessoais, além de pesquisar preços de materiais de papelaria, pois havia se matriculado em uma faculdade. Ainda na loja, ela comprou chocolates e foi embora. Cerca de 50 metros de distância da unidade, um funcionário da empresa a abordou e pediu para revistá-la.
"Fui simplesmente coagida por um funcionário da loja que exigiu para ver as notinhas, pois eu estava com duas bolsas de compras anteriores, de produtos de beleza, e nas Americanas havia comprado apenas um chocolate na promoção de 5 por R$ 10", disse Yanca. Mesmo afirmando que não havia roubado nada, o funcionário rebateu que as câmeras de segurança detectaram uma atividade suspeita dela e que precisava verificar todas as notas fiscais das compras anteriores, além de revistar a bolsa.
A modelo, então, disse que só mostraria a bolsa na presença de um familiar, e ligou para a irmã. Enquanto isso, chorando, buscou um segurança do Carioca Shopping, já que estava envergonhada pela exposição. "As pessoas no shopping começaram a tirar fotos e fazer gravações, foi quando ele [funcionário das Lojas Americanas] pediu novamente para ver a minha bolsa", lembrou. Momentos depois, uma viatura da Polícia Militar chegou ao shopping.
O que dizem as Lojas Americanas e o Carioca Shopping
A Americanas repudiou qualquer abordagem indevida a seus clientes e afirmou que está comprometida com o esclarecimento dos fatos. "A companhia informa que está apurando o ocorrido para tomar as medidas necessárias", disse.
O Carioca Shopping lamentou o ocorrido e também disse que está acompanhando de perto a apuração do caso.
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