Chiquinho e Domingos Brazão prestaram depoimento ao Conselho de Ética e Decoro ParlamentarReprodução
Em depoimento, irmãos Brazão negam participação nas mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes
Chiquinho afirmou que é sendo alvo de uma falsa acusação de Ronnie Lessa; Domingos diz que não conhecia a vereadora e pede rigor nas investigações
Rio - Os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, presos acusados de serem mandantes da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, negaram participação no crime, em depoimento realizado nesta terça-feira (16) ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados.
O deputado federal Chiquinho, alvo do processo que pode culminar na sua cassação, afirmou que a família está sendo vítima de uma falsa acusação do ex-policial militar Ronnie Lessa, que citou o nome dos irmãos em sua delação os acusando de terem o oferecido 10 milhões de dólares pela morte de Marielle. Segundo Chiquinho, ele tinha uma relação amistosa com a vereadora.
“Nem eu, nem minha família, estamos envolvidos em nada. Somos vítimas de uma acusação, de um réu confesso. Não imaginamos nem o porquê desse indivíduo, que não conhecemos, ele está protegendo, provavelmente, alguém. A relação com Marielle era maravilhosa, não era boa. Estou dizendo aqui e afirmando. A Marielle ia lá com a gente bater papo, falar, sempre pedia um chicletinho. Quando ela fazia falas dela, muitas das vezes falava comigo”, comentou.
Domingos, que é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ), prestou depoimento como testemunha de defesa arrolada pelo seu irmão. Ele destacou que acredita no domínio de grupos milicianos em comunidades do Rio, mas que não possui nenhuma relação com esses criminosos.
O conselheiro tratou Lessa como "marginal" e afirmou que não conhecia Marielle. Além disso, ele pediu um rigor nas investigações sobre o caso, ressaltando que é inocente. Uma das principais hipóteses sobre a motivação para o assassinato era uma divergência por um pedaço de terra na Zona Oeste.
"Acho um absurdo o que aconteceu com a vereadora. Eu pessoalmente não a conheci. Tem que ser tratado com rigor não só por se tratar de uma parlamentar, mas uma cidadã. Eu sequer conheci a vereadora. Não tem disputa territorial com ninguém em local nenhum. Isso jamais ocorreu. Esse marginal e comparsas envolveram o meu nome. Isso é um impacto terrível. Estou preso em uma penitenciária federal. Tenho fé na Justiça para estar esclarecendo os fatos, embora sequelas ficam. Confio que seremos absolvidos", disse.
Domingos ainda afirmou que não interferiu na indicação do delegado Rivaldo Barbosa para o cargo de chefe de Polícia Civil do Rio e que não tinha contato com ele.
"Nunca estive pessoalmente nem para tratar de assuntos do meu interesse nem de interesse público. Nem como deputado nem como conselheiro. Nunca relatei nada para ele. Eu nunca estive e tive algum assunto para tratar", afirmou.
Chiquinho e Domingos Brazão estão presos desde o dia 24 de março após investigações da Polícia Federal identificarem envolvimento dos dois nos assassinatos de Marielle e de Anderson.
Rivaldo também nega participação
O delegado prestou depoimento, também como testemunha de defesa de Chiquinho Brazão, nesta segunda-feira (15). Durante a oitiva, Rivaldo explicou aos integrantes do Conselho que aceitou depor como apenas para ser ouvido e dizer que não conhece os irmãos.
"Eu aceitei o convite e poderia ter negado, mas eu fui denunciado. Aqui é o momento que eu posso falar. Desde o dia 31 de maio de 1969, ou seja, o dia que eu nasci, eu nunca falei com nenhum irmão Brazão. Algo profissional, político, religioso ou mesmo de lazer. Eu nunca falei com essas pessoas na minha vida. Eu não existo para eles e eles não existem para mim, com todo o respeito que tenho pelo ser humano. Eu nunca falei na minha vida com essas pessoas. Eu estou sendo acusado por uma coisa que não fiz", comentou.
Barbosa ainda ressaltou vereadora era uma pessoa que costumava o ajudar em investigações sobre mortes em comunidades do Rio. Um dos episódios citados foi uma apuração sobre mortes ocorridas no Complexo da Maré, na Zona Norte, em que Marielle indicou moradores para prestarem serem ouvidas como testemunhas.
"Quando eu assumi a Delegacia de Homicídios, o deputado Marcelo Freixo era da Comissão de Direitos Humanos e toda morte que existia em comunidade ele me ligava ou me cobrava. Com o passar do tempo, foram muitas ocorrências e ele deixou quem? A Marielle. Ela fazia contato comigo. Eu falei para Marielle que a gente precisava de gente da comunidade para ser ouvida. Ela conseguiu. Marielle só me ajudou. Se eu já não faria isso com uma pessoa que eu não goste, quiçá com uma que só me ajudou", contou.
O delegado é acusado de atrapalhar as investigações e planejar "meticulosamente" o crime a mando dos irmãos Brazão. Ele também foi preso em 24 de março.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.