'Meu coração está dilacerado', desabafa mãe de jovem morto após abordagem policial
Rhuan Rodrigues Pereira, de 20 anos, foi atingido por dois tiros em São Gonçalo, na Região Metropolitana; família da vítima se reuniu com a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e da Cidadania da Alerj nesta quinta-feira (22)
Família de Rhuan Pereira se reuniu com a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Alerj - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia
Família de Rhuan Pereira se reuniu com a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da AlerjReginaldo Pimenta / Agência O Dia
Dois dias após a morte do filho, Fernanda Rodrigues contou que o sentimento segue sendo de revolta com o caso. Ela destacou que soube do incidente por uma irmã dele. A mãe já havia recebido uma ligação de uma vizinha e pressentido que algo tinha acontecido com o jovem.
"Eu estava dormindo e recebi uma ligação de uma vizinha que estava me procurando. Quando ela estava me procurando veio na minha mente: aconteceu alguma coisa com o meu filho. Tentei mandar mensagem para ele e não me respondeu. Liguei e a amiga dele, que estava com o celular, me avisou: 'Tia, vem aqui para o hospital. O Rhuan sofreu um acidente.' Quando desliguei o telefone, já desnorteada, eu liguei para a minha filha, que já estava no portão da minha casa. Ela já sabia e tinha vindo me buscar. Perguntei o que estava acontecendo e foi quando ela falou que o Rhuan tinha sido baleado. É um sentimento de revolta porque o meu filho era trabalhador. Meu coração está dilacerado e revoltado", comentou.
Fernanda se encontrou nesta quinta com a deputada Dani Monteiro (Psol), presidente da CDDHC, para receber auxílio em como seguir buscando justiça.
"Queremos justiça e sabemos que aqui nós teremos a ajuda necessária para encaminhar a gente aos locais necessários e ao caminho correto. Quero limpar a imagem dele. Não quero ouvir ninguém que não o conheça dizer que o meu filho era bandido ou marginal porque ele não era. Ele era trabalhador, trabalhava de 10h às 22h. Eu e ele brigávamos porque ele trabalhava demais e ele dizia que tinha sede de vencer na vida. Ele queria sempre tudo muito rápido e acelerado. Ele não queria parar. Ele falava que queria vencer na vida e eu falava para ele ir devagar. Eu quero justiça, só isso", completou.
Acolhimento à família
A deputada Dani Monteiro explicou que o primeiro papel da comissão é acolher e orientar a família sobre o que pode ser feito sobre o caso. Segundo a parlamentar, a CDDHC irá acionar o Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) e a Defensoria Pública para entrarem nas investigações.
"O nosso primeiro papel é o apoio institucional. Se foi o estado que ocasionou, ele deve ser o responsável pela resolução. A gente faz esse primeiro momento de acolhimento, de escuta e a partir disso a gente busca orientar as famílias. É importante que nessa situação, tendo uma má conduta por parte dos agentes, o Ministério Público seja acionado e a nossa comissão fará que os familiares do Rhuan sejam ouvidos para que o Ministério faça o que deve ser feito, que é o controle externo da atividade policial", explicou.
A parlamentar destacou que irá oficiar o 7º BPM (São Gonçalo), onde a equipe que atuou na ocorrência é lotada, para questionar se já houve a apreensão das armas, para saber sobre o uso de câmeras corporais e se elas estavam em funcionamento, em busca de contribuir para a família com o seu acesso à justiça. De acordo com a deputada, a viatura dos policiais estaria apagada e fez a abordagem ao carro onde a vítima estava sem sinalização.
"Imagine o que é para uma família perder alguém tão querido e tão amado, uma liderança comunitária como era o Rhuan, que mobilizava os jovens da região e resgatava eles da possibilidade de desvio do caminho próspero. O Rhuan era pela vida dos jovens da região, era pela garantia da dignidade da sua mãe. Todos esses elementos a gente ouve da família justamente para acompanhar essa questão judicial, mas também para dar esse apoio à saúde mental, que é uma preocupação nossa", disse.
Investigação
No dia da ocorrência, a Polícia Militar alegou que a equipe do 7º BPM (São Gonçalo) solicitou a parada do veículo de Rhuan na rua Heitor Rodrigues, que encostou próximo a um acesso à comunidade do Salgueiro. Ainda conforme a corporação, criminosos perceberam a abordagem e efetuaram disparos contra os policiais. Houve um confronto e o jovem, que estava dentro do carro, foi atingido.
A versão é refutada pela mãe do rapaz, Fernanda Rodrigues. Segundo ela, o carro em que o filho estava foi atingido por três tiros na traseira, e dois deles atingiram o rapaz. Ela diz ainda que, conforme testemunhas que presenciaram o crime, não houve confronto no local.
"Não houve confronto! Quando eles pediram para parar, ele parou e eles [policiais] já vieram atirando. Ele saiu do carro, baleado, e mandaram ele deitar no chão, ele e o primo. Tinham duas meninas vindo atrás e presenciaram tudo, não existe isso de troca de tiros. O garoto baleado teve ainda que deitar no chão", disse ao DIA.
A PM informou que o comando do 7º BPM instaurou um procedimento para apurar as circunstâncias e que as armas usadas na ação foram apreendidas para perícia. O caso é acompanhado pela corregedoria.
A Polícia Civil alegou que as investigações começaram a ser realizadas pela 72ª DP (São Gonçalo), mas, com a morte, o caso passou para a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG). Os PMs envolvidos já foram ouvidos e suas armas foram recolhidas para perícia. Diligências estão em andamento para esclarecer os fatos.
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