Família de Rhuan Pereira se reuniu com a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da AlerjReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - A família do jovem Rhuan Rodrigues Pereira, de 20 anos, que morreu depois de ser baleado em uma abordagem de policiais militares em São Gonçalo, na Região Metropolitana, se reuniu nesta quinta-feira (22) com a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania (CDDHC) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) para receber encaminhamento jurídico e ajuda psicossocial.
Rhuan foi baleado no fígado e no intestino na madrugada de segunda-feira (19) dentro de um carro, próximo à BR-101. Ele estava a caminho de um evento de pagode quando foi abordado por PMs. A família alega que os policiais atiraram em direção ao veículo logo depois do carro parar. O jovem chegou a ser socorrido e levado ao Pronto Socorro Central (PSC) de São Gonçalo. Ele morreu na manhã de terça-feira (20). O enterro aconteceu nesta quarta-feira (21) no Cemitério Parque da Paz.
Dois dias após a morte do filho, Fernanda Rodrigues contou que o sentimento segue sendo de revolta com o caso. Ela destacou que soube do incidente por uma irmã dele. A mãe já havia recebido uma ligação de uma vizinha e pressentido que algo tinha acontecido com o jovem.
"Eu estava dormindo e recebi uma ligação de uma vizinha que estava me procurando. Quando ela estava me procurando veio na minha mente: aconteceu alguma coisa com o meu filho. Tentei mandar mensagem para ele e não me respondeu. Liguei e a amiga dele, que estava com o celular, me avisou: 'Tia, vem aqui para o hospital. O Rhuan sofreu um acidente.' Quando desliguei o telefone, já desnorteada, eu liguei para a minha filha, que já estava no portão da minha casa. Ela já sabia e tinha vindo me buscar. Perguntei o que estava acontecendo e foi quando ela falou que o Rhuan tinha sido baleado. É um sentimento de revolta porque o meu filho era trabalhador. Meu coração está dilacerado e revoltado", comentou.

Fernanda se encontrou nesta quinta com a deputada Dani Monteiro (Psol), presidente da CDDHC, para receber auxílio em como seguir buscando justiça.
"Queremos justiça e sabemos que aqui nós teremos a ajuda necessária para encaminhar a gente aos locais necessários e ao caminho correto. Quero limpar a imagem dele. Não quero ouvir ninguém que não o conheça dizer que o meu filho era bandido ou marginal porque ele não era. Ele era trabalhador, trabalhava de 10h às 22h. Eu e ele brigávamos porque ele trabalhava demais e ele dizia que tinha sede de vencer na vida. Ele queria sempre tudo muito rápido e acelerado. Ele não queria parar. Ele falava que queria vencer na vida e eu falava para ele ir devagar. Eu quero justiça, só isso", completou.
Acolhimento à família
A deputada Dani Monteiro explicou que o primeiro papel da comissão é acolher e orientar a família sobre o que pode ser feito sobre o caso. Segundo a parlamentar, a CDDHC irá acionar o Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) e a Defensoria Pública para entrarem nas investigações.
"O nosso primeiro papel é o apoio institucional. Se foi o estado que ocasionou, ele deve ser o responsável pela resolução. A gente faz esse primeiro momento de acolhimento, de escuta e a partir disso a gente busca orientar as famílias. É importante que nessa situação, tendo uma má conduta por parte dos agentes, o Ministério Público seja acionado e a nossa comissão fará que os familiares do Rhuan sejam ouvidos para que o Ministério faça o que deve ser feito, que é o controle externo da atividade policial", explicou.
A parlamentar destacou que irá oficiar o 7º BPM (São Gonçalo), onde a equipe que atuou na ocorrência é lotada, para questionar se já houve a apreensão das armas, para saber sobre o uso de câmeras corporais e se elas estavam em funcionamento, em busca de contribuir para a família com o seu acesso à justiça. De acordo com a deputada, a viatura dos policiais estaria apagada e fez a abordagem ao carro onde a vítima estava sem sinalização.
"Imagine o que é para uma família perder alguém tão querido e tão amado, uma liderança comunitária como era o Rhuan, que mobilizava os jovens da região e resgatava eles da possibilidade de desvio do caminho próspero. O Rhuan era pela vida dos jovens da região, era pela garantia da dignidade da sua mãe. Todos esses elementos a gente ouve da família justamente para acompanhar essa questão judicial, mas também para dar esse apoio à saúde mental, que é uma preocupação nossa", disse.
Investigação
No dia da ocorrência, a Polícia Militar alegou que a equipe do 7º BPM (São Gonçalo) solicitou a parada do veículo de Rhuan na rua Heitor Rodrigues, que encostou próximo a um acesso à comunidade do Salgueiro. Ainda conforme a corporação, criminosos perceberam a abordagem e efetuaram disparos contra os policiais. Houve um confronto e o jovem, que estava dentro do carro, foi atingido.
A versão é refutada pela mãe do rapaz, Fernanda Rodrigues. Segundo ela, o carro em que o filho estava foi atingido por três tiros na traseira, e dois deles atingiram o rapaz. Ela diz ainda que, conforme testemunhas que presenciaram o crime, não houve confronto no local.
"Não houve confronto! Quando eles pediram para parar, ele parou e eles [policiais] já vieram atirando. Ele saiu do carro, baleado, e mandaram ele deitar no chão, ele e o primo. Tinham duas meninas vindo atrás e presenciaram tudo, não existe isso de troca de tiros. O garoto baleado teve ainda que deitar no chão", disse ao DIA.
A PM informou que o comando do 7º BPM instaurou um procedimento para apurar as circunstâncias e que as armas usadas na ação foram apreendidas para perícia. O caso é acompanhado pela corregedoria.
A Polícia Civil alegou que as investigações começaram a ser realizadas pela 72ª DP (São Gonçalo), mas, com a morte, o caso passou para a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG). Os PMs envolvidos já foram ouvidos e suas armas foram recolhidas para perícia. Diligências estão em andamento para esclarecer os fatos.