Reitoria da Uerj pediu que todos os acessos do campus Maracanã fossem desocupados até às 10hRenan Areias / Agência O Dia

Rio - Alunos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) contrários às mudanças nos critérios para obtenção de bolsas e auxílios da assistência estudantil realizam, na manhã desta quinta-feira (12), uma manifestação no campus do Maracanã, Zona Norte. O protesto ocorre após a reitoria solicitar a desocupação de todos os espaços da instituição até às 10h. Os manifestantes criticam as novas diretrizes, argumentando que as alterações prejudicam o acesso de muitos alunos aos benefícios, fundamentais para a permanência na universidade.
Em comunicado feito na última terça-feira (10), a universidade afirmou que tem mantido diálogo com os estudantes desde o início da gestão e seguirá ampliando sua participação na formulação da política de assistência, mas solicitou a desocupação para retomar as atividades presenciais na sexta-feira (13) e minimizar o prejuízo acadêmico.
Em resposta ao pedido da reitoria, os estudantes convocaram o ato. Segundo o grupo, a solicitação da instituição representa uma tentativa de intimidar e reprimir tanto a ocupação quanto a greve estudantil, reforçando a resistência diante das medidas impostas. Os alunos convocaram, ainda, a reitoria a organizar urgentemente uma mesa de negociação para discutir a situação.
Carol Santos, estudante cotista de História,  de 29 anos, participa da manifestação e afirma que as novas regras vão aumentar a evasão entre os estudantes mais pobres. Ela também alerta que a proposta da reitoria deixará milhares de alunos sem nenhuma garantia a partir de janeiro. "A reitoria segue numa grande intransigência com os estudantes que, além de terem seus auxílios retirados, agora sofrem com ameaça de mais uma repressão hoje, mas nós estamos aqui mais uma vez numa ato na Uerj  mostrando nossa disposição de luta contra esse ataque que deixa estudante passando fome e vai levar a evasão dos estudantes mais pobres. A posição de assembleia dos estudantes é pela revogação deste ataque e para manter a ocupação", disse em entrevista ao DIA.
Os estudantes que ocupam a universidade são contra às mudanças para a obtenção de bolsas e auxílios da assistência estudantil, prevista no Ato Executivo de Decisão Administrativa (Aeda 038/2024). Entre as principais mudanças estão a substituição do auxílio alimentação por refeição gratuita no bandejão para os cotistas. Além disso, foi reduzido pela metade o auxílio ao material didático, que era pago duas vezes ao ano, a cada semestre, no valor de R$ 1,2 mil. 
O auxílio-creche também foi afetado. Com a nova decisão, o benefício foi limitado para apenas 1,3 mil estudantes. Anteriormente, tinha acesso quem solicitasse. A partir de agora, estudantes contemplados pela bolsa de apoio a vulnerabilidade social precisam comprovar uma renda bruta de meio salário mínimo por pessoa da família. Antes, a renda era um salário mínimo e meio. As alterações começaram a valer a partir de 1º de agosto.
De acordo com relatos de estudantes, cerca de 5 mil alunos vão perder os benefícios após a mudança. Eles denunciam, também, atrasos nos pagamentos. Segundo os manifestantes, as propostas da atual reitoria, antes de ser eleita, era de manter os benefícios.
Rafael Peçanha, estudante de Psicologia, teve seu benefício cortado e alerta que o número de evasões vai aumentar, além de correr o risco de ele mesmo não conseguir concluir o curso devido às novas regras. "Basicamente, com essa mudança, o estudante está inviabilizado de terminar a faculdade. O que acontece é que com as medidas, os estudantes não vão conseguir se manter. Afinal de contas, apensar da universidade se pública, temos custos diários de passagem e alimentação. A gente comprova nossa renda para o governo e mesmo assim, a universidade se nega a fornecer políticas de assistência e permanência estudantil. É muito difícil se manter aqui dentro, a gente vive uma situação muito difícil. Meu pai, por exemplo, está desempregado e minha mãe tem um trabalho precário. Infelizmente, tem esse sério risco de eu não concluir o curso", explicou ao DIA.
Mudanças
Anteriormente:

Auxílio-material: Pago duas vezes ao ano, a cada semestre, no valor total de R$ 1,2 mil;

Auxílio-alimentação e passagem: R$ 300 cada, por mês;

Bolsa de apoio a vulnerabilidade social: R$ 706 por mês com duração de 2 anos para quem comprovasse renda bruta de até um salário mínimo e meio por pessoa da família, ou R$ 2.118;
Auxílio-creche: Para quem solicitasse.

Com o ato executivo:

Auxílio-material: Reduzido à metade;

Auxílio-alimentação: Apenas para quem estuda em campus sem restaurante universitário;

Bolsa de apoio a vulnerabilidade social: exige renda bruta de meio salário mínimo por pessoa da família, ou R$ 706;

Auxílio-creche: Apenas 1,3 mil estudantes.