Thiago Flausino de 13 anos, morreu depois de ser baleado em uma operação na Cidade de DeusReprodução/Redes sociais

Rio - O Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) ouviu, nesta quarta-feira (2), quatro testemunhas de acusação no processo que investiga a morte de Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, assassinado a tiros durante uma operação policial na Cidade de Deus. O caso aconteceu em agosto de 2023. 
Prestaram depoimento na audiência Priscilla Menezes Gomes de Souza, mãe de Thiago; Fábio Ferreira da Silva, dono de um projeto social na Cidade de Deus; Verônica Lima de Freita, gestora da escola onde o menino estudava; e Matheus Cardoso de Souza, morador da comunidade.  
A audiência teve início às 15h15 e durou cerca de quatro horas. Antes do início da sessão, a família do adolescente realizou um protesto na porta do TJRJ pedindo por justiça. A próxima audiência do processo será realizada no dia 11 de dezembro. 
Quatro policiais militares estão presos e respondem por homicídio. São eles: Roni Cordeiro de Lima, Diego Pereira Leal, Aslan Wagner Ribeiro de Faria e Silvio Gomes dos Santos. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) também denuncia os agentes pelo crime de fraude, pois, segundo a investigação, eles apresentaram uma pistola e munições atribuídas à vítima, indicando que o jovem estaria armado.
Relembre o caso 
Thiago morreu depois de ser baleado por policiais do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) durante uma operação, na madrugada do dia 7 de agosto, na Cidade de Deus. Segundo o pintor Hamilton Menezes, tio do rapaz, a família teve acesso a uma câmera de segurança da região, cujas imagens mostrariam o momento em que um agente atira contra o jovem.
"Ele estava passeando de moto com um amigo em uma das ruas da Cidade de Deus, onde foram abordados já a tiros. Uma bala pegou na perna do jovem e ele caiu. [Pelas imagens], dá para ver o Thiago no chão, ainda vivo, e o policial vai lá e acaba de executar", disse.
Um dia depois da morte do jovem, a PM retirou do ar uma postagem que criminalizava o menino. A exclusão aconteceu após a Defensoria Pública do Rio (DPRJ) entrar com uma ação judicial. Segundo a PM, a postagem no Twitter (atual X) oficial da corporação é feita a partir das informações preliminares passadas pelos policiais que participaram da ação.
No entanto, o comando da corporação decidiu retirar a publicação, pois entendeu que o caso está sob análise e investigação. O post, feito às 5h44 do dia 7 de agosto e afirmava que "um criminoso [havia ficado] ferido ao entrar em confronto". Mais de um milhão de pessoas viram a postagem.
Em agosto, a Corregedoria da PM indiciou os policiais envolvidos na ação. A investigação apurou que houve fraude processual, omissão de socorro e abuso de autoridade. O inquérito apontou que os agentes omitiram o socorro do menino e divulgaram informações incompletas "por livre e espontânea vontade" para atrapalhar a investigação sobre o caso. Na decisão, a Corregedoria destacou que, se os policiais ficassem soltos, eles seriam capazes de apagar evidências do crime e pressionar testemunhas.

A investigação descobriu que os PMs usaram um carro descaracterizado durante a ação. O veículo era de um dos policiais. O fato foi relatado por familiares da vítima que conseguiram imagens de uma câmera que gravou uma perseguição entre o carro e a moto onde o menino estava na carona.