Muito abalado, filho de Renato Oliveira, passageiro baleado na Avenida Brasil, precisou ser amparadoPedro Teixeira/Agência O Dia

Rio - Um dos filhos do passageiro morto ao ser baleado dentro de um ônibus, na Avenida Brasil, criticou o horário em que operação policial no Complexo de Israel, na Zona Norte, foi realizada. A troca de tiros entre policiais militares e criminosos nas comunidades da região, nesta quinta-feira (24), fechou a principal via expressa do Rio e deixou três pessoas que passavam pelo local mortas. Nesta sexta-feira (25), Renan Alves esteve no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro, para liberar o corpo do pai. 
Muito abalado, Renan precisou ser amparado por parentes e fez pedidos por justiça pela morte de Renato Oliveira, de 48 anos. Em entrevista ao 'Encontro' da TV Globo, o filho questionou o horário escolhido para a operação, já que o confronto teve início por volta das 7h, quando há grande movimentação da população na Avenida Brasil, em direção ao trabalho, escolas e outras atividades. A via chegou a ficar interditada por cerca de duas horas e motoristas e passageiros ficaram em meio ao fogo cruzado. Alguns chegaram a abandonar os veículos e ficaram abaixados para se protegerem dos disparos.
"Algo inexplicável. Meu pai, meu herói, meu amigo. Infelizmente perdeu a vida em busca do pão. Tem que ser feita a justiça. Não existe essa possibilidade de fazer uma operação em meio ao horário de trabalho, sem comunicar a ninguém. E o que resta agora?", lamentou Renan. "Todo mundo batalhador, meu pai ensinou o caminho correto pra seguir honestamente, respeitando todo mundo", completou o jovem, emocionado. 
Também ao 'Encontro', a porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Claudia Moraes, disse que a corporação "procura realizar essas operações em horários que causem menor impacto" e que a operação teve início antes das 7h, entre 5h40 e 6h. "Eu não posso precisar qual foi o horário específico, só o comandante pode dizer. Mas, eu garanto que a operação não começou 7h, não começou 8h. Mas, por conta da forte resistência desses criminosos, essa situação se estendeu", declarou. 
Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, a tenente-coronel admitiu que a PM não tinha dados de inteligência para enfrentar a reação violenta dos criminosos e que as equipes encontraram um cenário que não havia sido visto anteriormente pelas forças de segurança do Estado. Apesar dos impactos causados pelo tiroteio, a porta-voz declarou que não se poderia falar em erro da corporação. "A gente não pode falar que foi um erro, foi uma operação da Polícia Militar necessária por conta de todas essas realidades que a gente enfrenta no Rio de Janeiro", disse Claudia Moraes, na ocasião. 
Renato Oliveira era funcionário de um frigorífico e seguia de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para trabalhar no Rio. Ele estava em ônibus da Transportadora Tinguá, que fazia a linha 493 (Ponto Chic x Central), quando acabou baleado na cabeça. Segundo o filho, o pai dormia no momento em que foi atingido. Ele chegou a ser socorrido para o Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte, passou por cirurgia, mas não resistiu e morreu no início da tarde. 
"Um cara amigo, camarada, nunca negou ajuda a ninguém. Eu só peço justiça. Estou sem palavras, sem ação. Estou sem chão (...) Ele foi um herói, um herói. Infelizmente faleceu sem nem saber. Ele estava dormindo", desabafou Renan. O homem deixa a mulher, quatro filhos e uma neta. O enterro de Renato acontecerá às 10h30 deste sábado (26) no Cemitério Municipal de Nova Iguaçu. O velório está marcado para às 8h30.
Além das mortes, a operação ainda provocou impactos na mobilidade urbana, na educação e na saúde. Na manhã desta sexta-feira, a população tenta retomar a rotina, com a normalização dos serviços de BRT, linhas municipais e trens, que haviam sido afetados. As 17 escolas públicas que fecharam por conta do tiroteio, bem como três unidades de saúde da região também estão funcionando normalmente. O policiamento permanece reforçado em vários pontos da Avenida Brasil, Linha Vermelha e Linha Amarela. 
Tiroteio deixou outros dois mortos
O motorista de aplicativo Paulo Roberto Souza, de 60 anos, e o motorista de caminhão, Geneilson Eustaque Ribeiro, 49, também são as vítimas fatais dos intenso tiroteio entre policiais militares e criminosos, nas comunidades do Complexo de Israel. Além deles, outros dois homens não identificados, e uma mulher, também foram baleados. 
A primeira morte provocada pelo confronto ocorreu ainda na manhã de quinta-feira. Paulo Roberto sofreu uma perfuração no crânio e chegou ao Hospital Municipal Doutor Moacyr Rodrigues do Carmo (HMMRC), em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, sem vida. O motorista de aplicativo estava com um passageiro em seu carro, que tentou o socorrer quando ele foi atingido. O idoso deixa a mulher, dois filhos e dois netos. 
Durante a tarde, a Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias, informou a morte de Geneilson Eustaque. O motorista de caminhão também havia sido socorrido para o HMMRC, depois de ser baleado na cabeça. Ele precisou ser entubado e transferido para o Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), na mesma cidade. O homem foi encaminhado diretamente ao centro cirúrgico para procedimento de craniectomia descompressiva, mas devido a gravidade do ferimento, não resistiu. A vítima deixa mulher e dois filhos. O motorista foi enterrado na tarde desta sexta-feira (25) no Cemitério de Xerém, na Baixada Fluminense.
Também foi socorrida para o Hospital Moacyr do Carmo, Alayde dos Santos Mendes, de 24 anos. A jovem foi atingida na coxa direita, com lesão superficial, e recebeu alta médica ainda na quinta-feira. Já no Hospital Federal de Bonsucesso, um homem ferido na região glútea segue internado na ortopedia, com quadro estável, e um terceiro baleado, no antebraço, foi atendido e liberado ontem.