Corregedoria e MPRJ cumprem 22 mandados de prisão contra policiais acusados de extorsãoReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - Conversas interceptadas pela Corregedoria da Polícia Militar e Ministério Público do Rio (MPRJ) apontam que policiais militares traçavam estratégias para que o 'Tour da Propina' não fosse flagrado pelas câmeras corporais. O trecho da denúncia do MPRJ foi divulgado pela TV Globo. Nesta quinta-feira (7), 21 PMs foram presos por extorquir ao menos 54 comerciantes em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
"Por isso que eu estou usando câmera. Eu não estou cometendo nenhum crime. O dia que eu cometer um crime, eu não vou usar câmera. Que idiotice", disse um sargento na companhia de outro colega de farda. A conversa foi captada pela câmera corporal do policial.
Em outras situações, é possível que ouvir que os comerciantes se confundem sobre qual grupo de policiais que deveria receber a propina. Em um dos momentos, ao ser cobrada, uma vítima alega que já havia pagado a outro militar. O agente, então, afirma que o dinheiro deveria ter sido dado a ele, e não a outro policial.
De acordo com a porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Cláudia Moraes, as câmeras corporais utilizadas pelos policiais foram fundamentais para revelar a conduta inadequada. "Esse trabalho foi feito com análises de câmeras corporais e levantamento de informações. Esses policiais tinham esquema de extorquir comerciantes com uma programação, em determinado dia da semana, onde eles iam recolhendo esse dinheiro. Os agentes tentavam burlar as câmeras, ocultar e esconder as imagens ou até mesmo não retirar a câmera durante o serviço, o que caracteriza falta grave e já despertava a suspeita. A ideia deles era mascarar a câmera", explicou a porta-voz.
As investigações tiveram início após uma denúncia anônima de que  militares do 20º BPM (Mesquita) estariam recolhendo propina de uma loja de reciclagens no bairro Miguel Couto. Em seguida, a Delegacia de Polícia Judiciária Militar passou a monitorar o grupo e constatou que outros comerciantes também eram extorquidos.
A Corregedoria apurou que o pagamento era feito sempre às sextas-feiras. Segundo a denúncia, os agentes paravam a viatura nas lojas, alguém se aproximava e entregava o dinheiro ou um dos PMs descia do carro e entrava no estabelecimento. Em geral, os alvos eram locais de reciclagem e ferros-velhos, além de lojas de construção e distribuidores de gás. De acordo com o MPRJ, as equipes realizavam um verdadeiro "tour da propina".
A investigação apontou, ainda, que além do dinheiro, os policiais recolheram engradados de cerveja em depósitos e frutas em um hortifruti.
Ao concordar com o pedido de prisão formulado pela Corregedoria da PM, o MPRJ destacou o comportamento dos denunciados, que seguiam com a prática de vários crimes durante o serviço e em plena via pública, transformando o trabalho "numa verdadeira caçada ao 'arrego'".
"A gente não gosta de fazer, não é motivo de felicidade estar aqui comunicando esse tipo de coisa, porque isso é algo que nos constrange. Isso é uma pequena parte da corporação que precisa ser bem apurada", finalizou a tenente-coronel Cláudia Moraes.