Rio - Estupro, assédio, roubo e a constante sensação de insegurança: esses são os receios que fazem parte do cotidiano de muitas mulheres ao se deslocarem pela cidade. Uma pesquisa mostrou que oito em cada 10, entre as de baixa renda, sentem receio de sofrer algum tipo de importunação sexual ao andarem sozinhas pelas ruas do Rio.
O levantamento, realizado pelo 'Instituto Locomotiva' com apoio da 99, foi apresentado nesta quinta-feira (7), na Casa de Francisca, em São Paulo. Para chegar aos números, 2.750 mulheres da capital, Região Metropolitana do estado e da cidade do Rio foram entrevistadas.
De acordo com os dados, a moto por aplicativo se destacou como uma opção de locomoção preferida pelas mulheres, pois oferece um ambiente aberto e um deslocamento mais rápido, reduzindo a possibilidade de assédio durante o trajeto. Nove em cada dez das entrevistadas concordam que a motocicleta minimiza a exposição a vulnerabilidades que enfrentariam ao caminhar sozinhas.
"O direito de ir e vir é um direito fundamental. E o que a pesquisa mostrou é que ele é diferente para homens e mulheres. Você nunca vê na rua um homem chegar atrasado no local de trabalho porque teve que mudar o itinerário, com medo de ser assaltado. Você não encontra um homem com medo de ser estuprado. Então, as mulheres afirmam que não conseguem aproveitar a cidade como deveriam por conta do medo de andar a pé. São mulheres que, muitas vezes, não conseguem trabalhar longe de casa, mulheres que já chegaram atrasadas em uma entrevista de emprego por ter que construir um novo percurso em que ela se sinta mais segura", disse ao DIA o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles.
fotogaleria
O estudo aponta que sete em cada dez mulheres enfrentam uma caminhada de mais de 20 minutos em seus deslocamentos diários, a maioria delas sob constante estado de alerta. As principais preocupações incluem assaltos (93%) e estupros (89%), seguidos por outras formas de abuso, como importunação e assédio (85%), além de olhares insistentes e cantadas (78%).
"Nós estamos interessados em saber quais são os problemas que as mulheres enfrentam nos seus deslocamentos e como a gente pode propor soluções para isso. A verdade é que as mulheres estão enfrentando, todos os dias, uma verdadeira batalha para se locomover. E quando elas enfrentam essa batalha, a gente tem menos geração de renda, menos acesso à educação formal e a gente tem menos possibilidade dessas mulheres buscarem ajuda em situações emergenciais. E são justamente as mulheres de baixa renda que percorrem as maiores distâncias dentro das nossas cidades", diz a especialista e gerente de relações governamentais da 99, Irina Cezar.
Um dado preocupante revela que seis em cada dez mulheres entrevistadas já desistiram de compromissos por medo da insegurança. Durante o evento, palestrantes foram convidadas a aprofundar o debate sobre o tema.
"Há quantos anos a gente está falando disso. Nunca foi tão importante a gente falar sobre segurança psicológica e sobre saúde mental. Todos esses dados, eles caem na lógica de que a gente nunca olhou para essa dimensão com esse devido cuidado. Esse medo constantes que as mulheres sofrem, o estresse, a energia que a gente gasta, as estratégias que a gente vai encontrando individualmente. Elas não deveriam ser encaradas assim. Eu acho que a primeira coisa que a gente precisaria olhar é: como a gente está fazendo uma conversa sobre esse tema de uma forma mais séria? E se comprometendo, coletivamente, para pensar nessa transformação", avaliou Mafoane Odara, psicóloga e mestre em psicologia.
O estudo Mulheres, Segurança e Mobilidade na Cidade foi realizado entre 20 de janeiro a 8 de fevereiro de 2024 com o objetivo de entender a realidade das mulheres e a segurança ao transitarem nas ruas.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.