José Júnior (camisa branca) foi recebido pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJBruno Mirandella /Divulgação OAB-RJ

Rio - A Polícia Civil investiga um caso de intolerância religiosa que aconteceu na Zona Norte do Rio. O escultor candomblecista João Carlos do Carmo Júnior teve a porta de seu apartamento em Madureira pichada com palavras de baixo calão e ameaças.
A mensagem trazia a seguinte frase: "Bruxo, filho do Diabo, pegue suas imagens e suma do nosso condomínio ou vamos invadir e quebrar tudo e depois queimar em nome de Jesus. V. dos Infernos". 
Até o momento não se sabe quem cometeu a agressão porque não há câmeras de segurança no bloco do Condomínio Recanto das Flores II, na Rua Maria Lopes. No entanto, agentes da 29ª DP (Madureira), onde João Júnior registrou o caso em 18 de setembro, estão dando andamento às investigações para identificar a autoria do fato e elucidar as circunstâncias e motivações.
No início deste mês, a Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) recebeu o profissional, que comprou o apartamento há quatro meses.
O atendimento foi feito pelo procurador-geral Paulo Henrique Lima; a advogada Flávia Carneiro; e a estagiária de Direito Kayla Souza. Acompanharam a reunião o presidente do Conselho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine), Luiz Eduardo Negrogun; e o assessor especial da vice-presidência do Conselho Seccional e consultor da Comissão Nacional de Direito Administrativo da OAB Nacional, Carlos Augusto Ávila.
"O racismo no Brasil se concretiza de forma sofisticada, manifestando-se não só pela cor da pele e outros fenótipos biológicos, mas, também, através de marcadores socioculturais. Este caso nos permite observar que, embora a vítima seja uma pessoa branca, ao ser reconhecida como devota de uma religião negra, sofre efeitos colaterais do racismo", explicou Paulo Henrique Lima.

Importância do respeito à diversidade

O Rio de Janeiro é o campeão de denúncias de intolerância religiosa no Brasil. Somente neste ano foram 217 casos. Também estão no ranking Nova Iguaçu e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e Niterói, que passou a fazer parte da lista este ano. Para que casos como esse sejam cada vez menores o G20 Social teve o Painel da Diversidade Religiosa na sexta-feira (15) com a presença da Coordenadoria da Diversidade Religiosa do Município do Rio de Janeiro e Complir-Rio. (Conselho Municipal de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa órgão colegiado permanente e de caráter consultivo, no âmbito e sob a coordenação da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos – SMASDH)
O painel reuniu líderes religiosos, educadores e representantes de diversas organizações da sociedade civil para debater a importância do respeito mútuo e da convivência pacífica entre diferentes crenças. Foram apresentadas ações que visam promover a educação e o respeito entre as religiões, além de medidas para combater a violência e a intolerância religiosa.
A Coordenadoria destacou a necessidade de implementar programas educativos que ensinam desde cedo a importância da diversidade e da aceitação das diferenças. "É fundamental que trabalhemos juntos para erradicar a intolerância e construir um ambiente onde cada um possa praticar sua fé livremente", afirmou Katja Bastos, sacerdotisa da Matriz da Encantaria Cigana do Povo do Oriente e presidente da Trybo Cósmica, Casa Ancestral do circuito oficial do Rio de Janeiro, durante sua fala.