Criminosos armados disputam território em São João de Meriti, na Baixada FluminenseReprodução/Redes sociais

Rio - A morte de um funcionário de um lava jato durante um confronto entre traficantes rivais em São João de Meriti, nesta terça-feira (19), acendeu mais um alerta sobre a sangrenta disputa territorial na Baixada Fluminense. Nos últimos meses, moradores desta região se tornaram reféns de uma guerra que envolve milicianos e criminosos do Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP). Segundo um levantamento do Instituto Fogo Cruzado, a Baixada teve quase um terço dos baleados no mês de outubro.
Em São João de Meriti, onde o caso mais recente aconteceu, traficantes do TCP, que antes integravam a milícia, enfrentaram o CV em plena luz do dia. Um vídeo publicado nas redes sociais mostra que os bandidos sequer se dão o trabalho de esconder o rosto. Com fuzis em punho, eles metralharam a parede do lava jato na comunidade Trio de Ouro, onde também funciona uma loja de automóveis.
Veja as imagens:
Na ocasião, dois suspeitos foram baleados e presos. Eles vão responder por tentativa de homicídio e porte ilegal de arma. O funcionário Lucas Matheus Souza da Silva não resistiu aos ferimentos e morreu. A Polícia Civil investiga o crime.
No dia 30 de outubro, mais um caso semelhante. Três pessoas foram baleadas durante um tiroteio que ocorreu em um bar no bairro Parque do Carmo, Duque de Caxias.
Devido às disputas territoriais, criminosos ficam em alerta o tempo todo para proteger o local dominado. No dia 1º de novembro, um menino de apenas 5 anos foi a vítima fatal na Baixada. A criança morreu baleada em Japeri, após, segundo testemunhas, uma viatura do Segurança Presente manobrar em uma rua da comunidade e assustar bandidos que se preparavam para assaltar um mercado.
Preocupados com a violência cada dia mais intensa, moradores da Baixada relatam nas redes sociais como é a rotina de quem mora nesses bairros. "Para onde você passa em São João de Meriti tem barricada"; "A gente sai de casa para trabalhar e não sabe quando ou se vai voltar para casa"; "O medo é constante, parece que estamos esquecidos"; "Terra sem lei", escreveram alguns moradores.  
Dados do Fogo Cruzado
Ao menos 45 pessoas foram baleadas na Baixada Fluminense no último mês. O número de vítimas analisadas no período equivale a quase um terço do total registrado em toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que foi de 139 vítimas. Os números fazem parte do relatório mensal do Instituto Fogo Cruzado, que mostra, ainda, que dos 192 tiroteios mapeados na região metropolitana, 57 ocorreram na Baixada Fluminense, que concentra os municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica.

"A Baixada Fluminense é uma região onde as desigualdades se concentram, mantidas através da alta repressão policial e poucas políticas sociais de fato desenhadas para melhorar o dia a dia dos moradores. A região é marcada por intensos confrontos armados e pelo domínio territorial das milícias e facções de tráfico disputando áreas estratégicas. É necessário que existam políticas de segurança pública que vão além das ações policiais tradicionais, é preciso que se ofereça mais segurança e acesso a serviços básicos para a população", diz Carlos Nhanga, coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro.
O mapa da violência armada

Os municípios mais afetados pela violência armada ao longo de outubro foram:

Rio de Janeiro: 110 tiroteios, 24 mortos e 40 feridos
Duque de Caxias: 15 tiroteios, 1 morto e 8 feridos
São João de Meriti: 14 tiroteios, 3 mortos e 7 feridos
São Gonçalo: 12 tiroteios, 3 mortos e 10 feridos
Belford Roxo: 9 tiroteios, 5 mortos e 5 feridos
A reportagem questionou a Polícia Militar sobre a atuação dos batalhões de área em locais da Baixada Fluminense. Ainda não tivemos retorno.