Girafas foram importadas pelo Bioparque do Rio em 2021Divulgação

Rio - O Ibama retirou, nesta quinta-feira (28), 14 girafas importadas pelo Bioparque do Rio em 2021 que estavam sendo mantidas em um resort em Mangaratiba, na Costa Verde. Inicialmente, os animais seriam repatriados para países africanos ou realocados em zoológicos, contudo, o destino final ainda não foi definido.

O caso veio à tona há três anos, quando 18 girafas foram trazidas de avião do continente africano e levadas para o resort. A transferência chamou a atenção e gerou críticas pelo transporte e confinamento dos animais. A situação se agravou dois meses depois, quando três girafas morreram ao tentar fugir do local.

Dois anos após a chegada ao Brasil, uma quarta girafa morreu devido a uma doença muscular. O laudo da necropsia apontou que os animais sofreram antes da morte, apresentando hematomas, lesões pulmonares e coágulos cardíacos. 
Em razão dos episódios e após o processo administrativo, o Ibama aplicou multa ao Bioparque e determinou a retirada das girafas. O órgão ambiental federal garantiu que as girafas estão sendo mantidas em local seguro, com recintos amplos, monitoradas por profissionais qualificados e seguindo protocolos rigorosos.
"O Ibama está atendendo às orientações de seu corpo técnico, conforme última decisão administrativa, promovida em agosto deste ano. No relatório, foram apresentadas possibilidades de destinação às girafas de forma que não as coloque em risco, visto que os animais estão em idade adulta, com altura que pode chegar a quatro metros", diz a nota. 
Ainda conforme o Instituto, há possibilidade das girafas serem encaminhadas para locais no Brasil com capacidade técnica de mantê-las seguras e protegidas na forma da legislação em vigor. Instrução normativa do Ibama prevê que o espaço adequado para cada dois animais desse porte, provenientes de vida livre, é de 600 m², sendo que as baias do resort tinham pouco mais de 30 m².
As providências para a destinação das girafas começaram com a comunicação entre o Ibama e as autoridades da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES). O primeiro contato foi feito com o país de origem dos animais, a África do Sul. No entanto, o governo sul-africano informou que não tinha interesse em repatriá-las.
"Houve também comunicação com Angola, país que se mostrou interessado em receber três espécimes, mas não esclareceu se os custos com o transporte ficariam por conta do governo angolano. Ainda é preciso aprofundar a comunicação para saber mais detalhes do programa de repovoamento dos parques nacionais, quais são os protocolos de segurança adotados pelo país, quais exames são exigidos para entrada dos animais, qual seria o local de destinação dos indivíduos e se eles já possuem protocolo de transporte terrestre a ser adotado a partir de sua chegada ao país", detalhou.
Moçambique e Botsuana também foram procurados pelo Ibama, mas não apresentaram resposta. Os quatro países africanos em questão têm ocorrências da espécie. "É importante esclarecer que qualquer destinação das girafas dependerá das condições adequadas de garantia da saúde e da segurança dos animais, inclusive se estão aptos ao transporte, em virtude de ser uma viagem de longa distância e elevada duração", finalizou o Ibama.
Denúncias
De acordo com a denúncia, a doença que levou os animais à morte decorreu do intenso sofrimento e extremo estresse. “As girafas, após serem retiradas da natureza, estavam em cubículos, chegando cada uma a ficar em um espaço de 10 m², situação de confinamento claustrofóbico", ao qual foram submetidas durante a fase de ambientação, sustenta o procurador da República Jaime Mitropoulos.
Em março do ano passado, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou quatro pessoas envolvidas na importação das girafas, entre eles o gerente técnico e o diretor de operações do BioParque por maus-tratos; por adquirir, manter em depósito e utilizar em atividade comercial animais de procedência estrangeira, importados de forma irregular, com uso de documentos falsos e por dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público, pois só comunicaram às autoridades sobre a morte das três girafas mais de 50 dias após os óbitos.
Na denúncia apresentada à Justiça Federal, o MPF aponta que a importação foi ilegal por ter sido baseada em informações falsas. Os empreendedores usaram um fictício projeto conservacionista para justificar a vinda das girafas, disfarçando assim o intuito comercial da atividade. Além disso, o processo de importação contou com documentos que atestavam a adequação do recinto no qual os animais ficaram confinados durante o período de ambientação.

Conforme consta na denúncia, os maus tratos teriam ocorrido desde a chegada das girafas ao Brasil, em novembro de 2021, até pelo menos o dia 17 de maio de 2022. Análises realizadas ao longo da investigação evidenciam que, durante esse período, os animais permaneceram em condições inadequadas. As obras realizadas no primeiro semestre de 2022 demonstram que o estabelecimento não tinha estrutura minimamente adequada para receber os animais.
O que diz o Bioparque?
Procurado, o Bioparque informou que, desde a chegada dos animais, seguiu as orientações de órgãos reguladores, como o Ibama, o Inea e o Ministério da Agricultura, contando ainda com consultorias nacionais e internacionais para assegurar a adoção de práticas de excelência.

A instituição disse, ainda, que as 14 girafas estão em boas condições, recebendo cuidados de uma equipe especializada, e negou que houve maus-tratos. O Bioparque reafirmou o compromisso com a transparência, a colaboração com as autoridades e, principalmente, o bem-estar de todos os animais.