João Cândido Felisberto, o 'Almirante Negro'Reprodução / Redes Sociais

Rio - O Arquivo Nacional, no Centro, inaugurou a exposição "João Cândido, um Herói Nacional", que ficará em cartaz até 31 de janeiro. A mostra destaca a história do marinheiro filho de escravizados, que em 1910 liderou a Revolta da Chibata, pondo fim aos castigos físicos na Marinha. Os registros integram o acervo da institição federal. 
"É uma exposição feita com textos, com relatos, com extratos de falas do próprio marinheiro João Cândido, extrato de testemunhos da época, e com imagens de arquivo, fotografias, fruto de longas pesquisas e de muito trabalho que saem, justamente, dos arquivos. É uma forma de trabalhar e de mostrar essa vida entre arquivo, memória e história", explica Silva Capanema, que divide a curadoria com Frei Tatá, Dilma Samuel, Elisabete Nascimento, Luís Henrique Porto e Riva Maria Nepomuceno.
Trajetória
João Cândido Felisberto nasceu em junho de 1880, no Rio Grande do Sul, e entrou para a Marinha aos 14 anos. Liderou o movimento conhecido como Revolta da Chibata, em novembro de 1910, contra os maus-tratos sofridos pelos marinheiros brasileiros.
O principal objetivo do movimento era o fim dos castigos físicos dados a marujos considerados indisciplinados. A punição era aplicada por comandantes brancos em marinheiros que ocupavam postos mais baixos dentro da corporação - grupo formado, em sua maioria, por negros e pobres.
O nome "Almirante Negro" veio após o primeiro levante do movimento, que tomou o encouraçado Minas Gerais, uma das embarcações militares atracadas na Baía de Guanabara.
Os revoltosos afirmavam que, caso as autoridades não decretassem o fim dos castigos físicos, a cidade do Rio de Janeiro seria bombardeada. O governo brasileiro aceitou as condições dos marinheiros e prometeu-lhes anistia, desde que a rebelião acabasse. Entretanto, dias depois do fim da revolta, os rebeldes começaram a ser perseguidos.
João Cândido foi preso, chegou a ficar internado em um hospício e acabou expulso das Forças Armadas. Demitido de vários empregos por pressão de oficiais da Marinha, terminou seus dias como pescador e vendedor de peixes. Ele morreu em 6 de dezembro de 1969. Com o passar dos anos, tornou-se um ícone da luta antirracista.
Sua trajetória foi exatada na música "O Mestre-sala dos Mares", de João Bosco e Aldir Blanc, eternizada por Elis Regina, na década de 1970. Em 2024, a vida do Almirante Negro foi tema do enredo da escola de samba Paraíso do Tuiuti, na Sapucaí.
O Arquivo Nacional fica na Praça da República, 173. Com entrada gratuita, a visitação acontece de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 18h.