Trabalhadores tentaram sair pela janela da fábrica durante o incêndioReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - O primeiro contato com os trabalhadores presos na fábrica que pegou fogo, na manhã de quarta-feira (12), foi feito pelo morador Estevan de Lima, de 62 anos. Em entrevista ao DIA, ele relembrou os momentos de tensão vividos ao tentar ajudar as vítimas, antes da chegada do Corpo de Bombeiros.
Estevan conta que passeava com seu cachorro por volta das 7h30 quando percebeu o incêndio no imóvel vizinho ao prédio onde mora. Assustado ao ver pessoas penduradas na grade, ele buscou uma escada para ajudá-las pelo lado externo. "Um vizinho emprestou a escada e eu subi, antes mesmo da chegada dos bombeiros. Tentei arrancar as janelas, mas as grades eram muito grossas, não tinha como remover. Então, passei a acalmá-los e entregamos toalhas molhadas para que colocassem no rosto", disse. Cerca de cinco pessoas foram auxiliadas por ele.
Ainda abalado pelo ocorrido, o morador descreveu a cena como desesperadora. "Era uma situação muito difícil. Você vê a aflição no olhar das pessoas, sente uma enorme impotência. Foi angustiante". Ele lembra, ainda, que as equipes do Corpo de Bombeiros agiram de forma rápida para remover as pessoas do local.
Ao todo, 21 pessoas ficaram feridas. Até esta quinta-feira (13), oito paciente estão em estado grave (três homens e cinco mulheres). Há uma outra pessoa em estado grave no Hospital Souza Aguiar, no Centro. Ninguém morreu no incêndio.
Estrutura antiga e funcionamento irregular
Morador do bairro há 20 anos, Estevan afirmou que o imóvel funciona como fábrica desde a década de 1960, mas passou por diferentes administrações ao longo dos anos. "Antes, tínhamos contato com os responsáveis e funcionários, mas, com a chegada dessa nova empresa, isso mudou. O prédio é bem antigo", comentou.
Nos últimos meses, os moradores notaram a fábrica operando quase ininterruptamente. "Ouvíamos o barulho das máquinas até 22h ou 23h. Não sei dizer se era 24 horas, mas funcionava até tarde", conta. A Maximus Confecções produzia fantasias para escolas da Série Ouro do Carnaval deste ano. Com a proximidade da festa, a fábrica operava em turno estendido, e alguns funcionários dormiam no local para acelerar a produção.
Na tarde de quarta-feira, a Polícia Civil interditou o edifício para investigar uma possível ação criminosa. A Defesa Civil também determinou a interdição devido ao risco de desabamento. Apesar de não possuir autorização do Corpo de Bombeiros para operar e estar inapta junto à Receita Federal por omissão de declarações, a fábrica tinha licença da prefeitura para atuar no setor de confecções.
Condições de trabalho são investigadas
O Ministério Público do Trabalho (MPT) instaurou um inquérito para investigar as condições de trabalho dos funcionários. Testemunhas disseram que haviam trabalhadores que dormiam no local, inclusive adolescentes.
A empresa será notificada para prestar esclarecimentos acerca dos fatos noticiados e deverá apresentar documentos, como: atos constitutivos ou o estatuto social com a última alteração; o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) atual; Alvará de Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (PPCI); e Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ) dos produtos químicos utilizados.

Também deverá apresentar a relação de empregados, com nomes, idades, datas de admissão e funções, indicando quais estavam trabalhando no momento do incêndio; relação de empregados que ficaram feridos no incêndio, informando a condição de saúde de cada uma delas; e as medidas adotadas para prestar a assistência a cada um dos trabalhadores vítimas do incêndio.

Ainda segundo o MPT, as escolas de samba Império Serrano, Unidos da Ponte e Unidos de Bangu também deverão informar e comprovar as medidas adotadas para prestar a assistência a cada um dos trabalhadores vítimas do incêndio e apresentar os contratos mantidos com a empresa Maximus, bem como os documentos exigidos para a contratação.