Mônica e Fernando tiveram na manhã deste sábado (6) um encontro com a Comissão Internacional dos Direitos HumanosReginaldo Pimenta/Agência O Dia
Pais de Herus assistem vídeo que mostra morte do filho: 'Foi assassinado, sem direito de defesa'
Mônica Mendes e Fernando Guimarães estiveram neste sábado (6) com a Comissão Internacional dos Direitos Humanos para colaborar com um relatório
Rio - Os pais de Herus Guimarães Mendes da Conceição, morto durante operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) em meio a uma festa junina no Morro do Santo Amaro, já assistiram ao vídeo enviado pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) à Justiça que registra o momento da morte. A revelação foi feita ao DIA, na manhã deste sábado (6), pouco após participarem de um evento com a Comissão Internacional dos Direitos Humanos, no Centro, para colaborar com um relatório sobre a forma como agentes de segurança agem em operações nas comunidades.
Até esta sexta-feira (5), eles ainda resistiam em conferir as imagens: "Ainda não tínhamos visto. Relutamos, porque foram os últimos momentos de vida do nosso filho. Mas sabíamos que mais cedo ou mais tarde seria inevitável. Inclusive, nosso advogado disse que fatalmente vazaria na mídia, nas redes sociais. Porém, nenhum pai ou mãe está preparado para assistir àquilo”, admitiu Fernando Guimarães.
Mônica destacou que o vídeo corrobora com a alegação da família sobre o jovem ter sido assassinado. Ela ainda falou sobre alívio pela preservação das imagens ao longo do inquérito e pediu o rigor da lei em justiça pelo filho, que tinha 23 anos.
"Estamos aliviados pelas imagens virem à tona. É a verdade nua e crua para quem quiser ver. Não é surpresa para nós, que sabíamos o que tem naquelas imagens, mas nosso medo era a verdade ser alterada, que tirassem momentos importantes. E o que mais desejamos agora é que vão a júri popular e recebam pena máxima".
O vídeo foi anexado à denúncia contra os dois PMs do Bope, Daniel Sousa da Silva, acusado de ter efetuado os disparos, e Felippe Carlos de Souza Martins. Eles foram denunciados por homicídio qualificado. As imagens são da câmera corporal presa à farda de Daniel. No material, é possível ver que Herus foi atingido em um dos becos da comunidade.
"Eles entram na comunidade assim. Sabem quem é traficante e quem é morador, mas igualam todo mundo. Foi uma crueldade, meu filho foi assassinado, sem direito de defesa. Não estava armado, nem celular tinha", acrescentou Mônica.
A mãe de Herus lembrou ainda que os PMs sabiam sobre a festa organizada pela comunidade, com pessoas na rua, o que deveria ser o suficiente para a suspensão da operação: "Não era baile funk do tráfico. Era um evento cultural da quadrilha junina, uma festa de todos os moradores. Acontece anualmente, há 30 anos. Eles sabiam a todo momento que havia a festa, eles falam isso nas imagens".
Fernando cobrou também um posicionamento da PM: "Quero ver se vão falar sobre essas imagens, se vão dar entrevista com todos sentados, com aquela mesa bonita. Ou se vão soltar apenas uma notinha".
De acordo com o Código Penal, o homicídio qualificado ocorre quando a morte é causada em circunstâncias especialmente graves, com pena prevista de 12 a 30 anos de prisão. No documento, o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp), do MPRJ, também pediu a suspensão das funções públicas dos PMs e os proibiu de manter contato com testemunhas ou familiares do jovem.
Polícia Civil fala em legítima defesa
A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) concluiu no inquérito que Daniel agiu em legítima defesa putativa, quando o agente acredita estar em risco, o que não ocorre de fato.
No documento, a especializada afirma que ele estava em meio a "um cenário de tiros, correria e ataque pesado com armamento de guerra por parte de traficantes". A DHC ainda destacou que laudos e imagens de câmeras corporais comprovaram que "não houve excesso ou ilegalidade na conduta policial".
Na época, o governador Cláudio Castro (PL) exonerou os comandantes do Comando de Operações Policiais Especiais (COE) e do Bope, bem como afastou preventivamente do serviço nas ruas, até o esclarecimento dos fatos, os policiais envolvidos na operação, que deixou outras cinco pessoas feridas.
Segundo informações, os coronéis Aristheu de Góes Lopes e André Luiz de Souza Batista, do Bope e COE, respectivamente, autorizaram a realização da ação durante a festa. A PM concluiu uma investigação interna e encaminhou os autos ao MPRJ.
Relembre o caso
Herus foi baleado em 6 de junho deste ano. Segundo testemunhas, ocorria uma apresentação de quadrilhas juninas, com crianças e famílias do Santo Amaro, no Catete, na Zona Sul, quando um tiroteio começou, provocando correria.
Segundo Cristiano Pereira, líder da quadrilha Balão Dourado, os PMs saíram de becos a pé, em confronto com criminosos: "O pessoal do Bope veio e quando apareceram, ninguém viu nada, só um monte de tiro (...) Os bandidos saíram não sei de onde, a bala veio não sei de onde, a gente não viu, tinha muita gente (na festa). Na hora dos tiros, estava 'rolando' uma roda, com um monte de gente dançando, era o público com os quadrilheiros. Não percebemos nada".
Na época, a PM informou que as equipes realizaram uma ação emergencial para verificar informações sobre a presença de criminosos fortemente armados reunidos na comunidade, se preparando para uma possível investida de rivais, por uma disputa territorial na região. Herus era office-boy e deixou um filho de 2 anos.
O que dizem as defesas dos policiais
Em nota, a defesa de Daniel disse que "os policiais já tinham informações de que traficantes estavam naquele local. Ao chegar à comunidade, foram fortemente atacados pelos criminosos. Não restou ao policial alternativa senão se defender e proteger sua patrulha". Patrick Berriel, advogado de defesa, completou: "O Ponta 1 [Daniel] jamais teve a intenção de matar; apenas reagiu para defender a própria vida e a de sua patrulha".
Já a defesa de Felipe, também representada por Berriel, afirma que ele tinha uma determinação legal a cumprir e "agiu dentro da absoluta legalidade". "O tenente adotou todas as cautelas necessárias, inclusive entrando pela lateral do local, que se chama 'escadaria'. O tenente possuía uma missão claramente definida e a conduziu observando todos os protocolos de segurança".
*Colaborou Reginaldo Pimenta


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